terça-feira, 11 de junho de 2024
nº 257 01. Postal Fonoscope
domingo, 10 de dezembro de 2023
Nº 256 Esther Gloria Prieto e os Festivais da Canção
Heterodox@s galeg@s 02
Na década de 1960, no Estado espanhol houve uma eclosão de festivais de música que seguiram o modelo do de San Remo, Itália. A celebração desses eventos logrou descobrir novas figuras da canção, além de agregar alguns sucessos eternos ao repertório. Mas, por trás do puramente artístico, encontramos uma luta entre localidades e áreas geográficas da Península, na procura de aproveitar o chamado milagre turístico espanhol. Assim, os Festivais de Benidorm, do Mediterrâneo ou de Maiorca contavam com o apoio das respetivas câmaras municipais, quando não eram diretamente organizadas por elas. Inclusive, como em Maiorca, as canções tinham a obriga de promover explicitamente os atrativos turísticos da ilha.
Finalmente, o estudo dos festivais é um magnífico observatório para a análise do controlo político exercido por uns e por outros, na aparentemente monolítica ditadura de Franco. O festival de Benidorm, por exemplo, foi criado pola Rede de Emisoras do Estado (REM), grupo controlado polas FET y de las JONS, dependendo diretamente da Secretaria General del Movimiento. Este controlo absoluto durou até à chegada de Manuel Fraga Iribarne ao cargo de Ministro de Información y Turismo. Então, o dinheiro veio deste ministério para quem o lema “divisas para o turismo” era um dogma de fé.
É curioso como um Estado democrático -também em aparência-, como o atual, recupera do ostracismo esta festa com ADN franquista. Igualmente paradoxal é a ingenuidade, se é que houve, do grupo de Tanxugueiras em tentar vencer no referido concurso. O Benidorm Fest é um evento que continua a ser controlado polo REM, chamemos-lhe agora TVE, com a despesa de dinheiro público em benefício das mesmas zonas turísticas de sempre e cum alvo estético ou musical previamente determinado. Nada importa nem o público, nem a crítica, nem a qualidade do produto. O único interesse é a promoção de uma ideia de Estado onde os alalás galegos são supérfluos em democracia, como já foram supérfluos, em ditadura, os lalalás em catalão.
Na Galiza também tivemos os nossos Festivais, algum tão meritório como o do Minho de Ourense. A sua primeira edição ocorreu em 1965, sendo apresentadas 55 canções em espanhol, 19 em português e 17 em galego. É preciso dizer que o jornal La Región fez campanha para que no festival fossem divulgadas letras em galego, numa altura em que apenas Los Tamara tinham dado o passo de cantar na nossa língua, e o casulo de Andrés do Barro ainda estava por eclodir.
Esther Gloria Prieto, pioneira.
Esther Gloria Prieto Alcaraz (Madrid, 31/10/1930*- Valencia, 24/04/2012) nasceu em casa de artistas, sendo seus pais Julío Prieto Nespereira e sua mãe a cantora Paquita Alcaraz. Do pai existem numerosas monografias, catálogos e artigos, sendo desnecessário deter-nos nele. Basta dizer que foi um dos maiores gravadores da pintura espanhola do seu tempo e que era irmão da compositora e pianista Obdulia Prieto.
* Os dados de nascimento e óbito são retirados de sua certidão de óbito.
Menos conhecida é a figura de Paquita Alcaraz, cançonetista que, apesar da sua curta vida, desenvolveu uma carreira repleta de acontecimentos notáveis. Estreou o filme mudo Alma rifeña (1922) de Juan Buchs e foi Teresa na estreia de El huesped del Sevillano do maestro Serrano.
Após se casar com Julio Prieto Nespereira (1930), a cantora deixou os palcos por um tempo. O fato de ter engravidado imediatamente deve tê-la incentivado a abandonar as tábuas por cerca de três anos. Finalmente decide regressar, mas já não como estrela de teatro musical, mas como liederista, acompanhada apenas por um piano e em espaços íntimos e intelectualmente elevados. Seu último concerto acontece no Lyceum Club Femenino o 30 do março de 1933. Uma despedida carregada de simbolismo, pois o 27 de setembro do mesmo ano morre de septicemia. Gloria tinha, na altura, três anos.
Compositora dos Festivais da Canção.
Esther Gloria Prieto era madrilena de nascimento, educou-se em Madrid e o seu trabalho como montadora musical de TVE sempre se desenvolveu fora da Galiza. Não sei se podemos considerá-la galega porque o pai o fosse. Mas o certo é que sempre manteve uma relação com Ourense, onde vivia a sua família paterna e com Pontedeume, estância de veraneio e vila na que morreu e foi enterrado seu pai. Se a considerarmos galega seria, muito provavelmente, a primeira compositora profissional de canção ligeira do nosso pais.
Arquivo de TVE La importancia de llamarse Ernesto. Estudio 1 |
A sua atividade estará limitada a festivais de música, concursos nos quais podiam ser recebidos importantes prémios em dinheiro; valores que facilmente podiam variar entre trinta e cem mil pesetas na época. Além disso, a canção que ganhava um prémio ou simplesmente tinha sido selecionada, acostumava ser gravada num álbum ou impressa a sua partitura, algo que gerava royalties de imediato.
Aqui fica uma pequena retrospetiva da presença de Gloria Prieto em algum destes festivais.
-Ao primeiro festival ao que acode Gloria é o da Canción de Madrid em 1961, onde obteve o 5º prémio com Sólo quiero olvidar, tendo como letrista a Amado Regueiro Rodríguez, o mesmo que fez a adaptação livre do texto do Hino da Alegria, popularizada por Miguel Rios.
-Um ano depois, apresentou as suas Canciones Tristes ao prémio Montes do Festival da Canción Gallega de Ponte Vedra, obtendo uma menção honrosa. Embora o género musical deste concurso pontevedrino fosse radicalmente oposto aos até agora mencionados, em alguns aspetos da sua organização eram muito semelhantes.
-Huella de ti, cantada por Gelu, foi pré-selecionada para o Festival de Eurovisión de 1962 e gravada por Los 4 de Barcelona e Elvira. Também foi impressa pela editorial Quiroga.
-Em 1963 é finalista em Benidorm com Lluvia, da que também era autora da letra. Foi gravada por Fina Galicia para Iberfón.
-7 de julho de 1963. Estreia no Festival de la Canción Gallega de Ponte Vedra de Canções Tristes, pola soprano Carmen Pérez Durías e da pianista Carmen Martín.
-Em 1965 participou no I Festival del Miño com La voz del río, letra de M. Martínez Remis, poeta madrileno, argumentista de filmes espanhóis de baixa qualidade e letrista de alguns sucessos musicais, na voz, por exemplo, de Sara Montiel. Com esta peça consegue o segundo prémio.
-Para a segunda edição do Festival del Miño (1966) apresenta três novas canções: Palabras gastadas e La niña del río, novamente do letrista Martínez Remis e Todo lo que yo sé, com letra e música sua. Com Palabras gastadas ganha o segundo prémio. Foi gravado para a discográfica Berta por Elvira.
-IV Festival del Miño (1968) De tu mano aprendí, letra e música de Gloria Prieto.
-II Festival de la Canción Infantil de TVE. Apresenta duas cançoes, Vamos a contar mentiras, música e letra sua, cantada por Ana Kiro e El Conjunto Sideral, com letra de Marisa Medina, interpretada por Sabrina.
-No Festival de Eurovisión de 1969, na edição que finalmente ganhou Salomé, Gloria poderia ter presentado Mil veces volverías, con letra da televisiva Marisa Medina, mas este é um dado que não posso confirmar.
As divas de Gloria Prieto
Resulta difícil rastrear todos os cantores e cantoras que incluíram músicas de Gloria Prieto nos seus álbuns. Alguns dos seus sucessos foram registados por diversos artistas, a maioria com uma vida profissional não muito longa.
Cantoras não galegas
- Elvira
De todas as suas intérpretes, foi com a cantora valenciana Elvira -que para que não houvesse dúvidas sobre a sua origem era conhecida como La Voz de Naranja- com a que manteve uma relação pessoal e profissional mais intensa. Elvira acabou fazendo parte da família, já que Gloria foi madrinha da sua filha, a dançarina Esther Ponce.
Huella de ti, neste caso cantada por Elvira, é um slow-rock com orquestração de big band. A "voz de naranja", caricaturada desta volta com propositado estilo anglo-saxão, dificulta, em boa medida, a compreensão do texto. Sendo o arranjo musical mais do que correto, e mesmo, a meu ver, não desprovido de beleza, questiona-se como soaria esta peça com a intervenção de gargantas menos maquilhadas como a de Fina Galicia. De qualquer forma, em 1962, esta canção não teve sorte na pré-seleção do Festival de Eurovisão. Ela foi defendida por Gelu de Granada, terminando em último lugar dos dez competidores. Não sei se conta como desagravo patriótico saber que a vencedora, Llámame de Victor Balaguer, ficou em último lugar na fase final realizada no Luxemburgo, sem receber um único ponto do júri.
Palabras gastadas mostra algumas chaves do que será o estilo preferido nas composições de Gloria, principalmente uma maior influência da música francesa sobre a anglo-saxónica ou italiana. Se o texto fosse em francês poderia passar por um gémeo em estilo de Ma vie de Alain Barrière ou Capri c'ést fini de Herver Vilard.
- Sabrina
Com as demais músicas selecionadas para o II Festival da Canção Infantil da TVE, 1968, a cantora Sabrina gravou El Conjunto Sideral, música de Gloria e letra de Marisa Medina. Sabrina era presença habitual nos festivais de verão espanhóis, entre os quais, como não poderia deixar de ser, o do Miño (Ourense).
Ouvir
Ora, sem comentários...
As nossas cantoras
Mas no que diz respeito aos interesses galegos, as suas canções são interpretadas polas mais grandes do seu tempo: Fina Galicia e Ana Kiro.
- Fina Galicia
Como já tenho contado neste mesmo blogue, Fina Galicia foi uma das triunfadoras do V Festival da Canción de Benidorm. A artista corunhesa gravou vários EP, com canções próprias do ambiente ye-ye e aperturista da época. Numa compilação das vinte canções finalistas do Festival, Fina Galicia grava LLuvia de Gloria Prieto.
Em Lluvia pudemos ouvir a bela e afinada voz de Fina Galicia, madura apesar da juventude e, ao contrário do que é habitual nos restantes participantes do evento levantino, muito natural. Outra característica das músicas de Gloria Prieto e presença de introduções instrumentais, por vezes bastante longas, destacando-se algumas de piano, criando efeitos sonoros, como neste caso, evocando nas notas mais altas do teclado o som da chuva batendo no chão ou no vidro.
- Ana Kiro
Ouvir
De tu mano aprendí começa com uma bombástica introdução de piano solo, um tanto Tchaicovskiana, preludiando à voz da Kiro num estilo de canção e desempenho que não a favorece em nada.
Ouvir
Em Vamos a contar mentiras, a voz de Ana Kiro apresentasse-nos muito próxima, com um carácter otimista, sendo o resultado uma escuta agradável que transmite vibrações muito boas.
- Madalena Iglésias
Madalena Iglésias (Lisboa; 24 de octubre de 1939-Barcelona; 16 de enero de 2018), nascida Madalena Lucília Iglésias do Vale, era, como Glória, meio galega. A sua mãe foi a pontevedrina Lidia Garrido Iglesias, refugiada em Portugal devido ao golpe de estado franquista**, que após casar com o almadense José Rodrigues do Vale, vai morar na freguesia portuguesa de Cecilhas. Bayo Veiga, Luís O Pharol, nº 28, ano 11, Novenbro de 2015. p. 3
** Dados oferecidos por Madalena Iglésias em entrevista concedida por Júlio Isidro ao programa Inesquecível da RTP.
Madalena é um ícone da canção, da rádio e do cinema portugues, com uma grande relação com os meios artísticos espanhóis nos anos da sua atividade profissional, décadas de 60-70. Prova disto é que a sua primeira presença na rádio espanhola fosse da mão de Bobby Deglané, sendo apadrinhada por Lucho Gatica e Paquita Rico.
sexta-feira, 21 de julho de 2023
nº 255 Faustino Rei Romero e Artur Garibáldi. Uma foto em Braga.
O poeta Artur Garibaldi Pereira Braga (1913-1992) viajou por primeira vez à Galiza em 1935. Parece que esteve um tempo, o suficiente como para apaixonar-se do país, e também duma viguesa. Em qualquer caso, a sua conexão com a nossa terra propiciou um viçoso ramo de amizades, eventos, publicações e cargos honoríficos.
Foi autor, por exemplo, do livro de poemas À Cidade de Vigo, dedicado a todos os seus amigos da dita urbe galega. Neste estranho poemário, o rapsoda português, dedica uma das suas composições a um endereço de correios, polo que sabemos, com certeza, onde era que morava sua amada olívica.
Há uma casa na Espanha
que tem lá meu coração:
por ela fiquei a amar
a gloriosa Naçao.
-Linda cidade de Vigo:
Sanjurjo Badia, 9!
Como para não se dar por aludida!
Desde a sua primeira visita a Galiza em 1935, o vínculo com a nossa terra não deixou de crescer, sendo nomeado em 1940 Acadêmico Correspondente da Real Academia Galega. Uns anos mais tarde, no 1944, organiza o primeiro Torneo Poético Luso-Galaico, com o que pretendia um maior achegamento literário entre ambas comunidades.
Como ativista no movimento de unidade de ação entre intelectuais de aquém e além Minho, foi promotor e participou em númerosos congressos e certames, como a Assembleias lusitano-galegas celebradas em Braga (1955), a primeira, e A Corunha (1961), a segunda.
Por certo, a Real Academia Galega publicou as atas e comunicações em 1965, no prelo da Editora Nacional, imprensa do regime franquista, dedicando-lhe o volume Al Exmo. Sr. D. Manuel Fraga Iribarne.
O seu posicionamento político levou-no a militar, sem fazer demasiado ruído, nas forças progressistas contrárias ao Salazarismo. Assim, entre as suas obras, há um curioso Polonia heroica, poemário publicado em 1941 e traduzido ao espanhol por Enrique Romero Archidona. Em entrevista publicada em El Pueblo Gallego (5 de Março de 1957), Garibáldi afirmava que dita publicaçao constituyó un éxito, pero sentimos mucho miedo. -De Hitler? -Y de los muchos amigos que tenía entonces.
Os seus poemas tiveram acolhida na Galiza em jornais e revistas como Sonata ou Spes. O seu círculo de amizades mais íntimo estava no grupo de poetas vigueses, como os Álvarez Blázquez ou o próprio Celso Emílio. Entre esses elegidos estava o nosso Faustino Rei Romero, com quem vai colaborar nas páginas literárias dedicadas, nos jornais portugueses, à literatura galega.
Algumas semanas atrás, por sorte, abri um velho livro guardado no Fondo Local de Música do Concello de Rianxo e, entre as suas desarrumadas páginas, encontrei um pequeno recorte do jornal Faro de Vigo. Está datado em 22 de fevereiro de 1952. O breve, assinado por Faustino Rei Romero, vem ilustrado por uma fotografia de Artine, com o próprio Faustino e o Arturo Garibáldi como protagonistas.
sábado, 6 de maio de 2023
nº 254 Ninguém se lembra do segundo!
Ninguém se lembra do segundo!
Pequena biografia de Celestino López Sánchez.
«Se exhibe en un escaparate del Toral, una preciosa gaita gallega de madera clara y guarniciones de terciopelo y seda morado y amarillo, que encargó el comité de exploradores del distrito de Chamberí, en Madrid, al local de Santiago.Tal instrumento es para la charanga de los exploradores de la Corte, y en el extremo del ronco lleva una artística plancha en mate, en la que, rodeando la estrella de cinco puntas, se lee: “Exploradores madrileños». La Correspondencia Gallega : diario de Pontevedra (6 abril 1914) Ano XXVI n. 7259 p. 1.
«Tanto la banda de los exploradores como el coro de los mismos con su gaita, fueron ovacionadísimos y obsequiados en las Sociedades Casino, Gimnasio y Círculo Mercantil. [Visita à Estrada]» Diario de Pontevedra (6 de agosto de 1918) Ano XXXV n. 10290 p. 1.
Nesse período estudou magistério, recebendo-se em 1928.
A guitarra e a Agrupación Artística Compostelana
Em 1929 nasce a Asociación Artística Compostelana, sendo Celestino o primeiro regente da sua rondalla. Com efeito, entre os muitos instrumentos que tocava estava a guitarra, como pode ser conferido na notícia a seguir:
«El director del coro Cántigas e Agarimos y profesor de la Banda Municipal don Celestino López Sánchez ha dado ayer noche en su academia de música ante un público selecto invitado particularmente al acto, un magnífico recital de guitarra, en el que fue muy aplaudido y demostró la sorprendente técnica y dominio que tiene en la ejecución del referido instrumento.
Celestino López Sánchez se propone llevar a cabo por Galicia una tornee artística para darse a conocer como guitarrista notabilísimo que es». El pueblo gallego : rotativo de la mañana. (15 de marzo de 1929). Año VI Número 1581
Era frequente que nos concertos da rondalla, Celestino tocasse algumas peças a solo. À frente da Agrupación Artística é mais do que possível que tenha dirigido, e até formado, a um adolescente Basílio Carril (1914-1974), famoso fabricante de gaitas-de-foles. Dizia-se que ele até construiu sua própria guitarra [Ver entrada da Gran Enciclopedia Gallega assinada por Benedicto García]. A formação de Celestino como guitarrista e rondallista pode ter vindo daquela banda de exploradores pontevedrina. Seu regente, Juan Serrano, também tocava guitarra e bandurra. Se considerarmos que Serrano foi aluno de Montes, mais uma vez, também guitarrista, poderíamos falar de algo semelhante a uma escola. Na realidade, Montes, Serrano e López Sánchez constituem uma cadeia de custódia de uma tradição musical ou prática comum, bandística, orfeonística e guitarrística. Infelizmente, para poder falar nesses termos, falta-nos o fundamental: seu repertório.
Como todos os cursillistas da República, ele foi expurgado. Assim, em setembro de 1936, foi suspenso do seu cargo por um ano. No entanto, depois de três meses, ele já tinha voltado para a escola. Em junho de 1937 [BOE, Burgos, 7 de agosto de 1937] foi reintegrado definitivamente no cargo, ordenando-se o pagamento dos salários que lhe eram devidos.
Nos primeiros anos da década de 40, aprovou as oposições de orientação marítima e integrou a junta local de pesca da costa noroeste. Além disso, ocupa o cargo de chefe local do Sindicato Espanhol de Professores (S.E.M.), sindicato vertical franquista.
Presidente da Câmara Municipal da Póvoa do Caraminhal
Por um curto tempo, 1952-1954, ocupou a presidência da Câmara Municipal da Póvoa do Caraminhal. Durante sua gestão, começaram as conversas sobre a valorização turística do entorno de Curota e foi recebido o busto de Valle-Inclán, um presente do concelho de Ponte Vedra, obra do extraordinário artista Benito Prieto Coussent. Em agosto de 1953 é apresentada ao seu público a Agrupación Artística Musical Caramiñas, na qual Celestino dirige o coro.
Juízo a Cantigas e Agarimos
«El coro Cantigas e Agarimos juzgado por su antiguo director Celestino Sánchez.[...]-Opino que dos gaitas están bien en los desfiles y en las foliadas, pero no en otra clase de cantos, en los que me inclino a utilizar una sola, puesto que, además del exceso de sonido, y posible desafinación y la también posible poco unidad entre las mismas, pueden deslucir y quitar el carácter a la canción.Opino también, que el director debiera ir uniformado, como es clásico en este tipo de agrupaciones, lo cual no quita personalidad, pero en cambio desentona, rompiendo la vistosa armonía del conjunto» La noche. (5 de agosto de 1954) Ano XXXVI. N.º 10431. p. 4
«En lo que al Director se refiere, estoy de acuerdo en que debe vestir igual que los coristas, para no desentonar el conjunto. Espero que en su día quede resuelta esta cuestión, que es asunto interno de la Colectividad.En cuanto al empleo y afinación de las gaitas acompañando al Coro en alalás y foliadas, estas, que son casi siempre a dos voces al disponer de dos gaitas es lo lógico que cada una se emplee, respecto del Coro, oportunamente en cada voz: porque si se suprime una de las gaitas, evidentemente reproduce un desequilibrio sonoro en el conjunto, lo que supone peor el remedio que la posible desafinación.¡No suprima gaitas, don Celestino! Hace pocos meses he visto y oído un prestigioso coro de nuestra región actuar simultaneamente con tres gaitas, y no sé que tengan ningún propósito de suprimir alguna…Los tiempos evolucionan, y esta misión “sagrada” de suprimir gaitas y folklores queda reservada a la música importada llamada de negros, que se me antoja ya infiltrada en la ropa. La Noche. (14 de agosto de 1954) Ano XXXVI. n.º 10439. p. 2
Celestino contra-atacou com seus velhos argumentos, aliás, não tão distantes dos de Francisco Rodríguez.
«Las composiciones musicales armonizadas están destinadas a ser interpretadas por orfeones y polifónicas masas corales en las que todas sus cuerdas están bien nutridas de voces y no dan la sensación de debilidad y pobreza.El quitar a un coro gallego de la interpretación de las canciones “folklóricas” es lo mismo que oirle tocar a una gaita la rumba del “negro zumbón”. Cada cosa es para lo que es.[…]Si como observamos la tendencia “moderna” a orfeonizar toda nuestra música regional, aun aquellos cantos del mayor sabor enxebre, entonces es preferible dejar los trajes que representan al tipo individual de nuestros paisanos en traje de fiesta, y se toquen con smoking o chaquet». La Noche. (24 de agosto de 1954). Ano XXXVI. nº. 10447. p. 4
«Hubo tiempos, no muy remotos, que el pertenecer a una colectividad artística era el mayor honor que podía caberle a un artesano. Con fe y entusiasmo, se sacrificaba por parte de “ellos”, el tiempo que podían invertir en tomar y charlar la penúltima chiquita de la noche para dedicarlos a las tareas artísticas, y por parte de “ellas”, las últimas vueltas en los paseos cotidianos por las calles y rúas de las ciudad.¿Es más honroso y decente para las chicas artesanas, el pulular por calles y jardines o frecuentando los lugares mas concurridos para su mayor exhibición? Como hombre, les manifiesto que no son precisamente esas las mejores armas para buscar el compañero ideal, porque la modestia, la sencillez y la virtud, son como la violeta que aun estando oculta, se la busca por su pureza, belleza y perfumeAl pertenecer a una agrupación artística, demuestra la delicadeza y perfección espiritual, vestir ese traje tan gracioso y elegante y enxebre, cantar las alegres foliadas y sentimentales alalás, etc., le dan un encanto y pureza de alma, que significan un poderoso imán para los mozos, y así hemos visto, que muchas chicas que han pertenecido al coro, han encontrado sus ideales en él y fuera de él, que seguramente no hallarían de otra manera por mucho que se lo propusiesen, y soy testigo que fueron objeto en todo momento del mayor respeto, las mayores consideraciones y de las más cariñosas manifestaciones de afecto en casa y fuera de ella» La Noche. Ano XXXVIII. n.º 11696. 30/08/1958
quarta-feira, 31 de agosto de 2022
n° 253 Eu ia dar um passeio por Rianxo quando
Eu ia dar um passeio por Rianxo quando,
inesperadamente,
encontrei-me com Walt Whitman.
Cumprimentei,
e ele me cumprimentou.
Nervoso,
toquei a haste dos meus óculos;
Whitman,
acariciou a aba do seu chapéu.
Perguntei a ele por Wilde
‒a quem beijou nos lábios em Camden‒
Ele interessou-se por Manuel António
‒a quem rezo todas as noites antes de dormir‒
Invejei-lhe o cabelo e o talento.
De mim, apenas invejou as minhas cinco décadas.
-Goodbye, Mr. Walt.
-Goodbye, Barão de Orjais.
Quase me virava as costas
quando escutei que sussurrava:
-Many things to absorb I teach to help you become eleve on mine.
Barão de Orjais de If I were a Whitman.
Barão de Orjais, de If I were Mr. Walt
terça-feira, 2 de agosto de 2022
Nº 252 Crónica negra da Sanfona
Em 13 de novembro de 1863, aparece no Boletim Provincial de Lugo a seguinte nova:
Don Antonio del Rio y Cuesta Juez de primera instancia en la villa de Noya y su partido.
Por el presente se cita, llama y emplaza por el termino de treinta días perentorios á Lucas Casal Tarpa, vecino de la parroquia de San Nicolás de Mosteirón lugar do Outeiro, Ayuntamiento de Sada, partido de Betanzos á fin de que se presente en la cárcel pública de esta capital á responder á los cargos que contra el mismo resultan en causa criminal sobre la muerte de Feliz Romero, pues no haciéndolo se sustanciará con los Estrados y le parará el perjuicio que haya lugar. Al propio tiempo se exhorta con las Autoridades civiles y militares para que procedan al arresto de Lucas y su remisión caso ser habido. Noya 26 de octubre de 1863. Antonio del Río y Cuesta. Manuel Ramón Martelo. Escribano Originario.
No mesmo breve do jornal, dá-se a descrição do suposto assassino:
Edad de 40 á 44 años, estatura alta y de buen color, es tuerto y deja caer sobre el ojo un gran mechón de pelo: viste chaqueta negra y azul, pantalón de lo mismo y algunas veces de tela, unos zapatones y un sombrero ongo de lana blanca por encima de un pañuelo encarnado que ciñe á la cabeza, tambien tiene uno ó dos aretes en las orejas y gasta capa negra, ó azul, toca Zanfona y algunas veces lleva alforjas cruzadas al pecho y además anda con un perro pequeño color pardo ceniciento y adiestrado en juegos, tiene cédula de vecindad del número primero espedida en 22 de Abril de este año. Registrado núm. 949
Em 17 de junho de 1864, o sanfonista Lucas Casal continuava em fuga e captura, pelo que e publica novamente no Boletín Oficial da Província de Lugo o mesmo edital, mas esta vez com ligeiras modificações nos nomes dos protagonistas. Lucas Casal Tarpa aparece agora como Lucas Casal y Jarpa e a sua vítima como Félix -e não Feliz- Romero.
Absolutamente fascinado por encontrar-me com uma descrição tão minuciosa dum sanfonista galego de mediados do século XIX, acudi ao Arquivo diocesano de Compostela na procura da verdadeira identidade do cego de Mosteirão.
Se em 1863 tinha entre 40 e 44 anos, o sujeito devera ter nascido ca. de 1823. Num intervalo duns 50 anos a redor dessa data (1800-1850), não encontrei mais que a um Lucas Casal cuja partida de nascimento dizia o que segue:
Em 18 de octubre, año de 1823, el Br. Dn. Manuel Benito Milleiro, cura propio de esa parroquia de S. Julian de Osedo y S. Nicolas de Mosteirón su anejo, en esta bauticé solemnemente y puse los santos óleos a un niño que nación el mismo día, hijo de lexítimo matrimonio de Juan Casal y de Josefa Prego su mugger vecinos de la dicha de Mosteirón, púxosele por nombre Lucas María. Fue su madrina Dª Josefa Ramos...
De ser esta pessoa a que andávamos a procurar, havia, novamente, um problema com o seu segundo apelido. A solução pode estar na própria partida de batismo, na relação que se faz das avós.
Abuelos paternos Pedro Casal y Fca. Rodríguez difunta vecina de la dicha Mosteirón; Maternos Marcos Prego, difunto y María Jaspe, cecinos que son y fueron de la parroquia de Osedo.
Semelha que Lucas María Casal Prego, adotou nalgum intre o apelido da sua avó materna, passando a se chamar Lucas Casal y Jaspe. Segundo o mapa cartográfico dos apelidos na Galiza [https://ilg.usc.es/] o apelido Jaspe só tem alguma ocorrência em três concelhos galegos, com uma máxima porcentagem povoacional no de Oleiros, vizinho a Sada.
Com estes dados à vista, considero que podemos afirmar que o sanfonista acusado de causar a morte de Félix Romero foi o sadense Lucas María Casal Prego (Mosteirão, Sada, 18 de outubro de 1823; ?), cujo nome, na cédula de vecindad devia aparecer como Lucas Casal y Jaspe.
E quem era em realidade este sanfonista de Mosteirão? Apenas sabemos mais que alguns dados biográficos e só contamos, que não é pouco, com a sua descrição física para fazermo-nos um ideia do ser aspeto. O fato de levar chapéu de hongo branco e aretes nas orelhas, faz com que pensemos na hipótese de ser um marinho, quiçá reconvertido a cego andante depois dalgum acidente no exercício do seu ofício. Os chapéus de hongo branco, chambergos, de obispo ou de caminho, que de todas estas maneiras eram chamados, foram usados nas colónias espanholas de ultramar, como Cuba ou Filipinas. Os aretes nas orelhas também podiam reforçar a ideia de ser um marinho veterano. Mas, fique claro que nos movemos no terreio das hipóteses. Enquanto trabalhava na personagem de Lucas Casal foi-se formando na minha cabeça a imagem de Lucas Casal que se tornou imediatamente esboço no meu caderno de notas. Coloco aqui os desenhos só para que o pessoal acredite o mal que me funciona por vezes o meu caletre.
©Orjais
As liortas entre músicos e comediantes, e em geral todo tipo de feirantes, foram habituais e, como nao podia ser doutro modo, os cegos iam bem armados. No cintura levavam um punhal, pois como dizia Pablo Mendoza de los Ríos (1737) havia "ciegos, no de amor, sinó de bayna abierta".
Mais nao sempre eram os culpáveis da briga, as vezes apareciam como simples vítimas.
También se vió ante el mismo Tribunal la causa procedente del Juzgado de Cambados, por el delito de atentado contra Benito Rodríguez y José Manuel Rañó Ferreirós.
Refiere el Fiscal, que durante la tarde del 24 de Junio del año último, el Guardia municipal de Carril Arturo Meigide Otero, que como tal agente de la autoridad se hallaba prestando servivio en la romería de San Juan, que se celebraba en Bamio, reprendió á los procesados por estar maltratando á un ciego que pedía limosna tocando la zanfoña y aquellos lejos de atender sus indicaciones, le acometieron dándole de bofetadas y agarrándole de las barbas, recibiendo también otra bofetada Amador Sijas López, que le hizo sangar por las narices, de mano del Benito, al acudir en auxilio del mencionado Guardia, requerido poe este al verse acometido por ambos procesados.
Que son autores los procesados, y procede imponer à los mismos la pena de 3 años, cuatro meses y ocho días de prisión correccional, multa de 150 pesetas con las costas. La Correspondencia Gallega: diario de Pontevedra: Ano XIX nº 5349 7/12/1907
Então, em 1906. ainda caminhavam os cegos de sanfona por Bámio, Vila Garcia. talvez numa das suas últimas aparições nestas terras. A sua presencia polo Salnês faz-me pensar nos desenhos de Castelao, tão realista no trazado dos instrumentos. É evidente que o caricaturista rianxeiro teve oportunidade de tomar apontamentos do natural em feiras e romarias da contorna como Sao Ramão de Bealo ou do Santiaguinho de Padrão ou em qualquer outro lugar, mesmo Rianxo, a onde chegara um cego andante. E é por isso que os seus desenhos, só precisam de soar.