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domingo, 14 de abril de 2013

nº 161 A câmara de Ugia.

Durante o tempo que viveu na Ilha de Arousa, Ugia Pedreira teve uma forma um bocado esquisita de se comunicar comigo. Os seus correios apenas tinham palavras, mas não era necessário, vinham sempre ilustrados por uma fotografia. O acordo ao que cheguei com ela foi que de cada imagem, ou de cada grupo de imagens, faria um pequeno texto, sempre improvisando, deixando que as palavras fluíram ceives e espontâneas.
Depois duns quantos anos, a Ugia deixou a sua morada da Arousa, pelo que podemos dar por concluída esta colaboração, mas haverá outras.
Eis aqui o caderno completo com as suas fotos e os meus poemas. Só há que premer na imagem.
Obrigado, Ugia. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

nº 136 A Câmara de Ugia XIII

CADEIRAS
I

II

 III

IV

Fotos: Ugia Pedreira ©; Desenho: Orjais ©


domingo, 27 de novembro de 2011

nº 125 A Câmara de Ugia XI



Dizem que as casualidades
são as milagres dos ateus,
quiçá por isso
eu acordei em ti
sem vontade própria.
Quiçá por isso,
sem sabê-lo,
aproei a minha nau
para o teu cais
na procura de abrigo,
Quiçá por isso,
quando preciso naufragar,
encosto-me ao teu ventre
- Princesa-de-Olhos-Aquáticos -
e deixo-me ressuscitar.



      AmadArousa
quem dera
- qual ontem -
ver-te durmir
na tua cama de lama:
MAIS LIBRE.
Quem dera ceibar-te na ria
sem adibal nem açeime
para novamente voares soa.
Meu pobre mascato
de aças rotas.

Poderão condenar-te

a ser mais uma, 
TERRA que quis ser MAR,
mas não serás privada
da garroa do meio-dia,
nem
de ser,
por sê-lo,
Pátria Definitiva
dos Extra Vagantes.




Foto: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

quarta-feira, 29 de junho de 2011

nº 115 A Câmara de Ugia X

Foto: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

Quando te pões ante mim
luzindo teu corpo espido,
não sei se serás um anjo
ou mais bem um anticristo.

(Seica lhe disse Nietzche a uma moça...)

domingo, 8 de maio de 2011

nº 110 A Câmara de Ugia IX.

Soneto.

Se o velho Simbad volta-se à Ilha
Atracaria sua dorna num areal do sul,
Longe do escuro, procuraria a luz
Acesa nos primórdios da sua vida.

Esqueceria Bagdade e tal vez seria
Um marujo mais a pescar no azul,
Lembraria a casa na que moras tu
E quereria morrer contigo a vida.

Se o velho Simbad volta-se à Terra
Encher-te ia o coração de agoras
Para compensar ausências velhas.

Serias a rainha da Arousa toda;
para a mais formosa gradicela
um tule de pétalas de ardora.

Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

nº 100 A Câmara de Ugia VIII.

Hedonigramas

1

Flores como poemas
para um cantar perfumado,
quem queira ser namorado
que arrecenda.

Lume em vez de beijos
para acender paixões,
não ponhas condições
nem desleixo.

Vitória do hedonismo,
luxúria contra o cancro.
Onan perdeu o tato
no ativismo.

2

Prazer, quero-te libre,
não há adival bom,
porque és colesterol,
vives.

Vinguemos as carícias
que arranham nossos rostos,
troquemos tanto choro
por malícias.

3


Queimemos as bandeiras
que sujam o que tocam,
tu és quanto me importa
companheira.

A luta continua
p[a]ra dar-lhe gosto ao corpo,
já tenho enchido o copo
e a ti...
nua.

Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

segunda-feira, 7 de junho de 2010

nº 85 A Câmara de Ugia VII

Acróstico

Mãe arquitecta de palavras como punhos,
Arousã devota dos abalos do mar,
Rosa sem espinhas, quer dizer, camélia,
Fanática de aquele que a apreendeu a chorar.
Última diva com voz de alvorada
Louvada sejas por sempre, irmã.



Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

nº 72 A Câmara de Ugia VI


Um sol pôr na Arousa é tão lindo

como o colo despido dum homem,

ansioso a ver

-quando passe a noite-

o primeiro sorriso dum filho.
Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

terça-feira, 8 de setembro de 2009

nº 63 A Câmara de Ugia V

Título das fotografias: Curiosidades dos Ilheus.

Sou diferente
porque aprendi a caminhar
sobre a tona do mar e
no sangue tenho salitre em vez de colesterol.

Sou diferente
porque me iniciei com um cubata de lírios e
sementei de camisinhas o campo da Bouça.


Sou diferente
porque sou amoriscadora, é dizer,
mariscadora de amores.

Sou diferente
porque aprecio o arrecendo do abalo da maré e
o do sexo quase consumado.

E tu também és diferente,
porque possuis a sensibilidade
dum acorde de Satie.

Abençoada sejas.

Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

sábado, 8 de agosto de 2009

nº 61 A Câmara de Ugia IV

Título das fotografías : Lixo na beira direita da Praia de Gradim (Ilha de Arousa).






















Rendimento ou provérbio carcamão: Que o lixo da direita não te impeça ver o formoso país no que vivemos.

Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

quinta-feira, 9 de julho de 2009

nº 55 A Câmara de Ugia III

Madrigal do Nó Amante
ou
Bolero Gordiano

Quisera ser um nó
para abraçar-te
com o meu chicote
fazer-te o amor,
ser lais de guia
para salvar-te
se há naufrágio
no coração.

Alma com alma
atar bem curto,
ser o sujeito
da tua oração,
- Arria cabo!
que tu me digas
quando te abafe
minha paixão.

Quero empatar
a minha aorta
na tua cava
e em transfusão,
deitar em ti
fluído amante
num rito antigo
de perversão.

Quero ser nó
que tu desates
quando remates
esta canção,
embora sejas
a sentinela
que guarde o fio
do meu amor.

Fotos: Ugia Pedreira ©; Texto: Orjais ©

sexta-feira, 3 de julho de 2009

nº 53 A câmara de Ugia II

JANELAS

Há janelas contaminadas de carena,
vãos contranaturais
como olhadas de concreto,
há paredes impossíveis
em lugares inauditos,
cruzes desvidradas,
muros de esparavel.
Há um problema resolvido
com atávicos somiês,
com portas agônicas revividas,
onde um musgo que se extingue
cheira à floresta do mar.
Há um antropólogo
perplexo ante o fenómeno,
uma augusta rareza
fertilizada de tradição,
há um céu que se amostra deslocado
entre o burato irreverente
duma viga de formigão.
E depois está o homem
que nivela perpianhos
con conchas de venera,
o opus incertum
e o opus quadratum,
a ortodoxia do iconoclasta
a heterodoxia do santarrão.
Depois estou eu
que leio binómios em cada estratégia,
que amo a aquele anjo
com cara de ladrão,
que gozo das drogas legais
e dos panfletos,
que rezo orações
a um Deus perdedor.
E depois estas tu,
Tudo.
Fotos: Ugia Pedreira ©, Texto: Orjais ©

segunda-feira, 1 de junho de 2009

nº 49 A Câmara de Ugia I

O conceito de estranhamento é muito usado em etnologia quando teorizamos sobre o trabalho de campo. O investigador deve manter uma distância com os informantes para que questões de tipo afetivo, prejuízos, etc., não afetem significativamente a investigação.

A mim, resulta-me muito complicado analisar, estudar, interpretar os usos e costumes da gentes da Arousa, porque seria falar em primeira pessoa e não resultaria muito científico. Por isso apreendo tanto de artigos ou comentários feitos por qualquer pessoa em qualquer tempo referidos a nós, e que pouco a pouco irei pousando no contentor da Hemeroteca dos Ilhéus.
Mas, ás vezes, tens a sorte, como eu tenho, de conhecer a indivídu@s excepcionais que te regalam a sua olhada particular sobre o teu mundo, que já é, que bom!, um mundo compartido.
É o caso da minha irmã Ugia Pedreira, poeta e cantora, que sacou a sua câmara e me enviou uma instantânea da Arousa indiosincrática. Ugia pode definir a um povo com imagens, como Proust deu aos seus recordos o aroma duma magdalena.

Se eu tivera que definir a minha terra usaria sabores, o do pão de ovos do patrão molhado no leite saturado de Colacao, as ameijoas com unto, delicatessem argonauta, e os lamparões cozidos, o chiclete do mar. Mas Ugia escolhe o que lhe entra pela câmara, com a sua facilidade para captar o importante. O cabeçalho da postagem completa-se com o numeral I, porque aguardo que seja uma série que tenha abrigo no meu blogue, com ou sem os meus comentários. Obrigado, Ugia.


© Ugia Pedreira