quarta-feira, 31 de agosto de 2022

n° 253 Eu ia dar um passeio por Rianxo quando


Eu ia dar um passeio por Rianxo quando, 

inesperadamente,

encontrei-me com Walt Whitman.

Cumprimentei,

e ele me cumprimentou.

Nervoso,

toquei a haste dos meus óculos;

Whitman,

acariciou a aba do seu chapéu.

Perguntei a ele por Wilde

‒a quem beijou nos lábios em Camden‒

Ele interessou-se por Manuel António

‒a quem rezo todas as noites antes de dormir‒

Invejei-lhe o cabelo e o talento.

De mim, apenas invejou as minhas cinco décadas.

-Goodbye, Mr. Walt.

-Goodbye, Barão de Orjais.

Quase me virava as costas

quando escutei que sussurrava:

-Many things to absorb I teach to help you become eleve on mine.

Barão de Orjais de If I were a Whitman.




Barão de Orjais, de If I were Mr. Walt

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Nº 252 Crónica negra da Sanfona

 Em 13 de novembro de 1863, aparece no Boletim Provincial de Lugo a seguinte nova:

Don Antonio del Rio y Cuesta Juez de primera instancia en la villa de Noya y su partido.

Por el presente se cita, llama y emplaza por el termino de treinta días perentorios á Lucas Casal Tarpa, vecino de la parroquia de San Nicolás de Mosteirón lugar do Outeiro, Ayuntamiento de Sada, partido de Betanzos á fin de que se presente en la cárcel pública de esta capital á responder á los cargos que contra el mismo resultan en causa criminal sobre la muerte de Feliz Romero, pues no haciéndolo se sustanciará con los Estrados y le parará el perjuicio que haya lugar. Al propio tiempo se exhorta con las Autoridades civiles y militares para que procedan al arresto de Lucas y su remisión caso ser habido. Noya 26 de octubre de 1863. Antonio del Río y Cuesta. Manuel Ramón Martelo. Escribano Originario.

No mesmo breve do jornal, dá-se a descrição do suposto assassino:

Edad de 40  á 44 años, estatura alta y de buen color, es tuerto y deja caer sobre el ojo un gran mechón de pelo: viste chaqueta negra y azul, pantalón de lo mismo y algunas veces de tela, unos zapatones y un sombrero ongo de lana blanca por encima de un pañuelo encarnado que ciñe á la cabeza, tambien tiene uno ó dos aretes en las orejas y gasta capa negra, ó azul, toca Zanfona y algunas veces lleva alforjas cruzadas al pecho y además anda con un perro pequeño color pardo ceniciento y adiestrado en juegos, tiene cédula de vecindad del número primero espedida en 22 de Abril de este año. Registrado núm. 949

Em 17 de junho de 1864, o sanfonista Lucas Casal continuava em fuga e captura, pelo que e publica novamente no Boletín Oficial da Província de Lugo o mesmo edital, mas esta vez com ligeiras modificações nos nomes dos protagonistas. Lucas Casal Tarpa aparece agora como Lucas Casal y Jarpa e a sua vítima como Félix -e não Feliz- Romero.

Absolutamente fascinado por encontrar-me com uma descrição tão minuciosa dum sanfonista galego de mediados do século XIX, acudi ao Arquivo diocesano de Compostela na procura da verdadeira identidade do cego de Mosteirão.

Se em 1863 tinha entre 40 e 44 anos, o sujeito devera ter nascido ca. de 1823. Num intervalo duns 50 anos a redor dessa data (1800-1850), não encontrei mais que a um Lucas Casal cuja partida de nascimento dizia o que segue:

Em 18 de octubre, año de 1823, el Br. Dn. Manuel Benito Milleiro, cura propio de esa parroquia de S. Julian de Osedo y S. Nicolas de Mosteirón su anejo, en esta bauticé solemnemente y puse los santos óleos a un niño que nación el mismo día, hijo de lexítimo matrimonio de Juan Casal y de Josefa Prego su mugger vecinos de la dicha de Mosteirón, púxosele por nombre Lucas María. Fue su madrina Dª Josefa Ramos...

De ser esta pessoa a que andávamos a procurar, havia, novamente, um problema com o seu segundo apelido. A solução pode estar na própria partida de batismo, na relação que se faz das avós. 

Abuelos paternos Pedro Casal y Fca. Rodríguez difunta vecina de la dicha Mosteirón; Maternos Marcos Prego, difunto y María Jaspe, cecinos que son y fueron de la parroquia de Osedo. 

Semelha que Lucas María Casal Prego, adotou nalgum intre o apelido da sua avó materna, passando a se chamar Lucas Casal y Jaspe. Segundo o mapa cartográfico dos apelidos na Galiza [https://ilg.usc.es/] o apelido Jaspe só tem alguma ocorrência em três concelhos galegos, com uma máxima porcentagem povoacional no de Oleiros, vizinho a Sada.

Com estes dados à vista, considero que podemos afirmar que o sanfonista acusado de causar a morte de Félix Romero foi o sadense Lucas María Casal Prego (Mosteirão, Sada, 18 de outubro de 1823; ?), cujo nome, na cédula de vecindad devia aparecer como Lucas Casal y Jaspe.

E quem era em realidade este sanfonista de Mosteirão? Apenas sabemos mais que alguns dados biográficos e só contamos, que não é pouco, com a sua descrição física para fazermo-nos um ideia do ser aspeto. O fato de levar chapéu de hongo branco e aretes nas orelhas, faz com que pensemos na hipótese de ser um marinho, quiçá reconvertido a cego andante depois dalgum acidente no exercício do seu ofício. Os chapéus de hongo branco, chambergos, de obispo ou de caminho, que de todas estas maneiras eram chamados, foram usados nas colónias espanholas de ultramar, como Cuba ou Filipinas. Os aretes nas orelhas também podiam reforçar a ideia de ser um marinho veterano. Mas, fique claro que nos movemos no terreio das hipóteses. Enquanto trabalhava na personagem de Lucas Casal foi-se formando na minha cabeça a imagem de Lucas Casal que se tornou imediatamente esboço no meu caderno de notas. Coloco aqui os desenhos só para que o pessoal acredite o mal que me funciona por vezes o meu caletre.

                                                                 ©Orjais

As liortas entre músicos e comediantes, e em geral todo tipo de feirantes, foram habituais e, como nao podia ser doutro modo, os cegos iam bem armados. No cintura levavam um punhal, pois como dizia Pablo Mendoza de los Ríos (1737) havia "ciegos, no de amor, sinó de bayna abierta".

Mais nao sempre eram os culpáveis da briga, as vezes apareciam como simples vítimas.

También se vió ante el mismo Tribunal la causa procedente del Juzgado de Cambados, por el delito de atentado contra Benito Rodríguez y José Manuel Rañó Ferreirós.

Refiere el Fiscal, que durante la tarde del 24 de Junio del año último, el Guardia municipal de Carril Arturo Meigide Otero, que como tal agente de la autoridad se hallaba prestando servivio en la romería de San Juan, que se celebraba en Bamio, reprendió á los procesados por estar maltratando á un ciego que pedía limosna tocando la zanfoña y aquellos lejos de atender sus indicaciones, le acometieron dándole de bofetadas y agarrándole de las barbas, recibiendo también otra bofetada Amador Sijas López, que le hizo sangar por las narices, de mano del Benito, al acudir en auxilio del mencionado Guardia, requerido poe este al verse acometido por ambos procesados.

Que son autores los procesados, y procede imponer à los mismos la pena de 3 años, cuatro meses y ocho días de prisión correccional, multa de 150 pesetas con las costas. La Correspondencia Gallega: diario de Pontevedra: Ano XIX nº 5349 7/12/1907

Então, em 1906.  ainda caminhavam os cegos de sanfona por Bámio, Vila Garcia. talvez numa das suas últimas aparições nestas terras. A sua presencia polo Salnês faz-me pensar nos desenhos de Castelao, tão realista no trazado dos instrumentos. É evidente que o caricaturista rianxeiro teve oportunidade de tomar apontamentos do natural em feiras e romarias da contorna como Sao Ramão de Bealo ou do Santiaguinho de Padrão ou em qualquer outro lugar, mesmo Rianxo, a onde chegara um cego andante. E é por isso que os seus desenhos, só precisam de soar.


quinta-feira, 20 de maio de 2021

nº 251 Fina Galicia: Uma Diva ye-yé (1ª parte)

 

Heterodox@s Galeg@s 01

Fina Galicia: Uma Diva ye-yé (1ª parte)

De Fina Galicia sabemos mais bem pouco. No meu arquivo pessoal conto com alguns documentos onde reconheço a uma mulher formosíssima, elegante e com uma voz que às vezes acada níveis de excelência. Mas, com certeza, desconheço quase que tudo desta artista que aparece arredor de 1955; que transita pelo cimo da sua popularidade nos primeiros sessenta e cujo rastro dilui-se pouco a pouco ate se converter numa espécie de personagem legendária. Anuncio desde já que não tenho todas as respostas, mas sim quisera fazer uma primeira aproximação que conduza à descoberta duma mulher corunhesa da que fiquei, devo dizer, absolutamente fascinado.  

De Josefa López a Fina (Finita) Galicia.

Em 1958, El Pueblo Gallego (23 de agosto), publica uma entrevista feita a Fina Galicia na que a cantante achega alguns dos escassos dados biográficos que temos dela. Por uma das suas resposta sabemos que o seu nome real era Josefina López, mas ela mudou seu apelido polo de Galicia porque «nací en la Coruña, enxebre cien por cien; [y] a que tuve empeño frente a consejos de adoptar otros nombres ya tópicos, como “Granada”, “Andalucía”, etc. este de mi tierra que tanto amo». 

Também nos informa de que seu instrutor foi o maestro Quiroga (1899-1988), o popular compositor de Tatuaje ou Ojos verdes, proprietário duma editora e duma academia onde selecionava e instruía a futuras estrelas.

Porém, antes de 1958, e apesar da sua juventude, a cantante corunhesa já contava com um pequeno curriculum que incluía uma viagem a Venezuela e a México, périplo no que deveu realizar atuações nalguns canais de TV, principalmente venezolanos.

 

1955-1958. Das noites do Morocco à tournée com o Festival en Gilacolor.

 

1954. As primeiras notícias na imprensa que temos de Fina Galicia remontam-se a 1954 e a relacionam com um dos géneros onde vai concorrer nestes primeiros anos da sua carreira: o flamenco. Como se verá, compartirá cenários com alguma das primeiríssimas figuras do cante da pós-guerra, mesmo, nalgum caso, com os mais grandes: Manolo Caracol e La Paquera de Jerez.

 

“Teatros.

Price.- 7 (¡éxito!): Festival del cante. La Paquera de Jerez, Paco Isidro, Montoya, el Posaero, el Culata y todos los ases de la baja Andalucía. 11 noche, función homenaje a la Paquera de Jerez y 11 macarenos. Grandioso fin de fiesta, com intervención de Manolo Caracol, Finita Galicia, Camilín, Juanito Campos, Dolly Montenegro, Gloria y Shanfres, el Pili, Adela Borja y principales figuras de la escena. ¡Será un acontecimiento!”. Hoja del Lunes de Madrid, 27 de setembro de 1954 in https://aventurerosdelflamenco.blogspot.com

 

1955. A continuaçao de pisar as tábuas do madrileno teatro Price, a atividade da nossa biografada desloca-se a Barcelona, atuando na Alameda del Cómico e, acabada a temporada de verão, no teatro Victória com um programa de variedades. Não é até fins desse ano que volta a Madrid, esta vez para atuar em Salas de Festa como o cabaré Morocco, inaugurado só cinco anos antes.

 

Durante o biénio 1956-1957 não encontramos nenhum dado relacionado com Fina Galicia na imprensa galega e espanhola. Pensamos que neste tempo deveu ter alguma oferta, como já dissemos, para ir fazer as Américas, radicando-se em Venezuela e, quiçá, deslocando-se para algum trabalho a México.

 

1958. Manuel Gila Cuesta Gila (1909-2001) já era uma personagem muito popular em 1958, principalmente pola sua participação numa dúzia de filmes, nalgum deles como protagonista. O Festival en Gilacolor, produção de José Mª Lasso de la Vega, um dos mais grandes produtores e representante de artistas da época, vinha a ser como um espetáculo de variedades com números intercalados entre os monólogos do humorista madrileno. Portanto, um espetador podia rir com as chamadas telefónicas do Gila e a um tempo desfrutar duma vedete cantando e mostrando “palmito y salero”, um quadro de baile flamenco, um conjunto vocal ou o genuíno ballet francês (sic) “Las Gila girls”. E entre aquele elenco heterogéneo, a colaboração especial da nossa Fina Galicia. Não sabemos se a cantante corunhesa fez a gira completa de Gilacolor polo estado espanhol, mas podemos localizá-la no mês de julho no teatro Calderon de Barcelona e nos galegos García Barbón, Malvar e Rosalía de Castro em agosto. Em qualquer caso, o projeto não durou mais de uma temporada, quiçá apenas uns meses, já que neste mesmo ano Fina Galicia ingressa no elenco do madrileno Teatro Fuencarral. Desta etapa ficou para a posteridade a belíssima capa de Primer Plano, Revista española de cinematografía, com um retrato da cantante corunhesa de enigmática elegância. 

 

Arquivo do Pico Rodríguez

 

A pé de página podemos ler: “Fina Galicia. La sensación de Madrid. A su vuelta de América y parte de Europa, Fina Galicia se presentó em el teatro Fuencarral como primerísima figura de la canción, logrando ser aclamada por su arte extraordinario, juventud y belleza”. Primer Plano. 1958

 

1959-1963. A vedete.

 

1959. Em janeiro do 1959 Fina Galicia trabalha no espetáculo De lo bueno… lo mejor, de Rafael Farina. No elenco, ademais deles dois, encontramos nomes como Los Chimberos, Hermanas Bernal e Jorge Sepúlveda. 

 

1961. Não sabemos o tempo que a cantante corunhesa passou com o cantaor salmantino, mas não é até o ano 61 que volvemos encontrar anúncios com seu nome, esta vez como estrela principal no cabaré Villa Romana de Madrid.

 

Na frequente alternância ou convivência entre a vedete e a cançonetista pseudo-folclórica, Fina participa dum novo espetáculo, La sangre morena, esta vez de Ochaíta e Valerio e música de Solano. Estes três criadores de canções ostentam o duvidoso honor de ter composto nada menos que o Porompompero. La sangre morena tinha como primeiras figuras a El Príncipe Gitano, o da “icónica” interpretação de In the ghetto, e a Dolores Vargas, irmã do anterior, conhecida artisticamente como La Terremoto. 

 

1962. Durante o ano 1962 não encontramos o seu nome anunciado mais que entre as atrações dalguma sala de festas como a Teyma, situada na madrilena praça Callao. 

 

1963-1965. A época dos Festivais de la Canción.

 

1963. Do 21 ao 23 de julho de 1963 celebrou-se na Praça de Touros de Benidorm o V Festival Español de la Canción organizado pola R.E.M., ou o que é o mesmo, a Red de Emisoras del Movimiento. Neste festival o prémio principal e de maior quantia era para uma canção, não para quem a interpretava, mas obviamente o prémio para o cantor ou cantora era uma ajuda importante na procura dum espaço no competitivo mundo da canção ligeira. Por ali passaram artista como Raphael, o Duo Dinámico ou Julio Iglesias, assim que Fina Galicia deveu de ver parte dos seus sonhos feitos realidade quando lhe foi concedido um segundo prémio dotado com 20.000 pts. O No-do filmou parte do evento, graças ao qual podemos ver uns poucos segundos de imagens em movimento da cantante corunhesa.

 

 

No-Do TVE

 

Imediatamente depois do seu sucesso no Festival de Benidorm grava para Zafiro um EP com quatro das canções participantes: Viejo reloj, Suéñame, Quédate e Cuándo y dónde. Na contracapa do disco podemos ler uma nova referência ao seu périplo polas Américas:

 

“Su nombre no suena aún em España todo lo que merece por la calidad extraordinaria de su voz y por la personalidad de su estilo. Ello se debe a que Fina Galicia há venido actuando hasta ahora em Hispanoamérica.

 

Recorrió em triunfal gira artística vários de aquellos países y actuó durante una larga temporada em la televisión venezolana”. 

 

Foto de Fina Galicia na capa duma partitura de Edicones Segovia

Arquivo do Pico Rodríguez

 

Como artista exclusiva do selo Zafiro-Iberofon vai gravar uma série de E.P’s e singles promocionais que nos proporcionam um pequeno catálogo de canções da nossa artista:

 

Z-E 434 1963

Viejo reloj – Ignacio Román-Rafael Jaén

Suéñame – Rafael de León-Máximo Baratasy-Antonio Areta

Quédate – Ignacio López García-Adolfo Garcés

Cuando y dónde – Camilo Murillo-Antonio Segovia

Z-E 491 1963

Pobre Apolo - [Ignácio] Román-M[anuel]. Alejandro

Pasó el amor - Román-M. Alejandro

Cabiar de vida - Román-M. Alejandro

Desperté - Román-M. Alejandro

00-7 Promocional 1964

Ciudad solitaria – Doc Pomus-Mort Shuman

Es inutil – Pieretti-Sonna-Privitera

00-8 Promocional 1964

Copacabana – J. de Barro-A. Ribeiro

Un poncho y un sombrero – D. Oace-G. Colonello

 

Cabe destacar como nas gravações do 1963 os autores das canções são todos espanhóis: os participantes do Festival de Benidorm e o Manuel Alejandro, compositor reclamado polas grandes figuras. Embora, os temas dos discos promocionais são todos êxitos internacionais traduzidos ao castelhano. 

 

Arquivo do Pico Rodríguez

 

 

 Arquivo do Pico Rodríguez

 

1964. Zafiro deveu querer apostar por Fina Galicia ao lançar estes discos promocionais que a levaram, inclusive, a estar nas tradicionais recepções de Franco nos jardins da Granja de San Ildenfonso, na comemoração do 18 de julho. Esta recepção a que acudia o corpo diplomático acreditado em Madrid, o Governo e as altas jerarquias da nação, contava com atuações musicais em direto baixo a direção dum velho conhecido da nossa cantante: o Maestro Quiroga. No ano 64, nos jardins segovianos, cantou Fina Galicia diante de Franco e de Carmen Polo e de lado de muitos outros artistas tais como Sara Montiel, Juanita Reina, Luis Mariano ou Tony Leblanc.

 

Nesse mesmo ano acontece algo que pode significar um cambio na carreira da cantante corunhesa. Num programa da TVE emitido o 10 de maio de 1964, Fina Galicia canta Uma noite na eira do trigo. O programa era um especial dedicado a luita contra o cancro, transcorrendo parte dele em Compostela. Não consegui ver estas imagens, polo que não sei que instrumento e instrumentista a acompanhava.

 

O certo é que Zafiro, com a produção de Ignacio Roman, vai lançar um L.P. em 1965 no que Fina Galicia interpreta um repertório completamente em galego. O disco será chamado Alma gallega e a cantante corunhesa estará acompanhada pola Agrupación Coral Flolklórica de Cámara de Madrid, baixo a direção do mestre nado em Ortigueira, Domingo Martínez Vieito. Na parte instrumental participam o gaiteiro Antonio Garcia, o tambor Saturnino Clemente e na guitarra, o próprio maestro Domingo M. Vieito.

 

Este conjunto de canções serão reeditadas por Zafiro em múltiplas ocasiões e com diferentes formatos, podendo encontrar-nos com E.P’s onde se reduziram os cortes ou em L.P’s nos que as peças de Alma gallega se misturaram com outras de diferentes discos, intérpretes e géneros. Um destes pot-pourri, tal vez o mais ilustre, é o que levou por título Voces do Pobo (1976), uma cassete que viajou nos carros de todas as famílias progres da minha geração.

 

O meu exemplar de Alma gallega, um E.P. do 1966, leva no seu interior um libreto em quatro línguas: castelhano, francês, inglês e alemão. O fato de conter estas traduções fala-nos dum troco no paradigma. Agora não se faz um produto para a emigração, para os galegos e galegas em ultramar. Interessa mais aproveitar o turismo e mesmo, neste meu exemplar, aparece um autocolante em dourados muito significativo: Recuerdo de Ortigueira.

 

  ZM-18 1965

01 N’a eira/ Ala la – Domingos Martínez Vieito

02 Negra sombra – Juan Montes-Rosalía de Castro

03 Ruliño/ Villancico (Popular) - Armonización: Domingo Martínez Vieito

04 Alalá de Amoeiro (Popular) - Armonización: Domingo Martínez Vieito

05 Son o mellor mariñeiro/ Popular – Armonización: Domingo Martínez Vieito

06 Cando a terra chama – Martínez Vieito

07 Pandeirada labrega/ Martínez Vieito

08 Foliada de Ortigueira – D. Martínez Vieito

09 Alborada gallega/Fragmento - Veiga

10 Unha noite na eira do trigo – Curros Enríquez-Alonso Salgado

11 Meus amores – Golpe-Baldomir

12 Aires gallegos/Popular  

 

1965. Em 1965, Fina vai participar no I Festival Hispano Portugués de la Canción del Miño. No parque do Possio ganha um terceiro prémio, por trás da portuguesa Maria Júlia e de Esther Gloria Prieto. Esta última, filha de Julio Prieto Nespereira e sobrinha de Obdulia Prieto Nespereira, obtêm também um segundo prémio como compositora com a canção La voz del río.

 

Em setembro desse mesmo ano, volvemos a localizar a nossa cantante em Barcelona, esta vez atuando nas Ramblas, num espetáculo onde se levará a cabo a eleição de Miss Artista 1965.

 

E depois disto, mais nada. Perdo o rastro de Fina justo quando mais me apetecia saber dela. 

 

Conclusões.

 

Fina Galicia foi cupletista, vedete, cantante ye-yé e até provou sorte na canção de salão galega, acompanhada à guitarra pelo maestro Martínez Vieito. Foi uma trabalhadora do espetáculo nas boates e nos tablaos flamencos. Quis trunfar como uma Concha Piquer ou como uma Concha Velasco, mas sem ter que renunciar às suas origens galegas. Por isso mudou o nome e teve, desde um primeiro momento, o projeto íntimo de cantar em galego. A sua biografia tem muito em paralelo com outras mulheres bravas que procuraram um espaço artístico longe da Galiza. Parece óbvio lembrar aqui à Ana Kiro. Mas Fina Galicia deixa logo de ter presença nos médios e o seu nome é ignorado na atualidade polos estudiosos das nossas músicas populares. Oxalá este artigo deite alguma luz sobre Josefa López, de nome artístico, Fina Galicia.

 

Breve audição:

 

  Viejo reloj (Ignacio Román-Rafael Jaén) Zafiro (Z-E 434)

 

Pertencente ao disco com canções do Festival de Benidorm, esta peça foi composta por Ignacio Román, produtor, também para Zafiro, do disco Alma Gallega. Rafael Jaén (1915-1984) foi o compositor da famosíssima rumba Mi carro, de Manuel Escobar. Viejo reloj é um bolero cantado por Fina com uma voz muito elegante, fazendo uso dum vibrato típico da canção sudamericana. 

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    Pobre Apolo (Ignácio Román-Manuel Alejandro) (Z-E 491)

 

Esta peça faz parte do EP de canções compostas por Ignacio Román -mais uma vez- e Manuel Alejandro, criador de êxitos para Raphael ou Julio Iglesias, entre outros muitos. No áudio aprecia-se um reverb (disculpem se não é este exactamente o efecto utilizado) comumente usado nos anos 60. A voz de Fina está, na minha opinião, mais na onda de Marisol ou Rocio Durcal que na de Concha Velasco, mas, em qualquer caso, num estilo marcadamente ye-yé.

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 Unha noite na eira do trigo ZM-18 1965

Quando um escuta a voz de Fina nesta versão do poema de Curros, pode apreciar as grandes dotes dramáticas da artista corunhesa. A gravação apenas tem um par de anos de diferença a respeito das anteriores e, sem embargo, a voz parece mais avelhentada, mais madura. Além disso, a cantora interpreta o texto até quase pronunciar a última frase num contido soluço. É evidente que nalguns portamentos a afinação entra em crise, mas resolve aceptavelmente e tem momentos onde a sua interpretação resulta absolutamente convincente. 

Escutar aqui

 

Um dos grandes descobrimentos para nós deste disco foi o de poder escutar as harmonizações e interpretações na guitarra de Domingo Martínez Vieito (Ortigueira, 1917-?) Este músico militar apaixonado da guitarra merece, e talvez algum dia fagamos, um trabalho de recuperação do seu legado musical. 

 

terça-feira, 2 de março de 2021

nº 250 Dez anos de Cantos Lusófonos.


Quando andava a fazer este livrinho, a minha mulher e mais eu conhecemos à pessoa mais importante das nossas vidas: a nossa filha Dália. É por isso que o livro tem na capa um desenho desta flor e uma dedicatória para ela. 

Além disso, há três mulheres mais que participaram na composição do volumem com seu alento de companheiras e amigas: Maria Manuela, ilustradora ilustre, e Ugia Pedreira e Uxía Senlle com sendos prólogos. Nunca melhor acompanhado.

O Cantos Lusófonos leva anos esgotado nas livrarias e não sei se é possível encontrar algum exemplar de velho. Eu gosto imenso de partilhar estas canções porque todas elas fazem parte dum momento importante da minha vida, e no seu conjunto, constituem o trilho musical da minha existência.

 

 
 


 Alguma das peças de Cantos Lusófonos viajou até o meu disco Poetas nas mãos carinhosas de Alejo Amoedo e na perfeição vocal de Helena de Afonso. Que eles dois interpretem uma peça arranjada por mim é um motivo para não abandoar, quando abandoar resulta tao motivador!



          

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

nº 249 Uma coleção de fotografias de Rianxo, o Museo de la Baraja e um sujeito de Vox que passava por ai.

 

Há alguns meses comprei uma pequena coletânea de fotografias de Rianxo ao Museo de la Baraja de Madrid. O seu diretor as vendeu para mim muito baratas, sabendo que o seu destino era a vila onde as instantâneas foram tiradas. Agradeço imenso, O lote tem alguma leitura curiosa e que gostaria de partilhar. É por isso que começo mostrando-vos as belas imagens.

Fig. 1
 
Fig. 2

Fig.3
 
Fig.4
 
Fig.5

A qualquer pessoa acostumada a ver fotografias históricas de Rianxo, o conjunto irá imediatamente sugerir duas questões:

1º A maioria das imagens são muito conhecidas por estar penduradas nas paredes do Museu de Manuel António e fazer parte da coleção de postais de La Colmena, estabelecimento de C. González.

2º Também que a qualidade de exposição das minhas cópias é muito baixa, tendo em conta que de alguma delas existem reproduções magníficas.

Sendo isto absolutamente verdade existem vários aspectos que tornam a este conjunto agora no meu poder em algo do maior interesse.

A primeira questão a ter em conta é a autoria das fotografias e a sua datação. No Museu de Manuel António, e em diversas publicações, insistem em atribuir-lhas todas a José Pérez González (1901-1942), músico e fotografo amador. Já no 2012, avisava numa postagem de Ilha de Orjais da improvabilidade, senão impossibilidade, de que alguma destas fotografias fossem do primo de Manuel António. Aquela da que eu falava especificamente, datada em 1912 e na que aparecia um homem mostrando um jornal coa notícia do afundimento do Titánic, teria que ser obra dum menino de apenas onze anos. Depois de um tempo, soubemos que em realidade essas primeiras fotografias foram tiradas por José Barreiro, ajudado pelo seu amigo e correligionário, José María Varela Torrado.

Distinguir quais foram feitas por Pepito Pérez e quais por José Barreiro é coisas de uma análise profunda para a que precisaríamos de ver o tipo de placas utilizadas, conhecer em profundidade a história de Rianxo e, por cima de tudo, saber ler uma fotografia. Este labor deveria ser uma tarefa colegiada, pois ninguém sabe de tudo, e nem preciso dizer que muito necessária.

O meu método de leitura duma fotografia semelha-se em tudo ao dum texto escrito. Começo no canto superior esquerdo e, muito devagar vou lendo até terminar no canto inferior direito. Simples.

Da leitura das fig. 1 e 2 apreciamos as seguintes diferenças:

1º Fig. 1 Os plátanos do Campo de Acima têm folhas.

Fig. 2 Os plátanos do Campo de Acima carecem de folhas. Portanto, as fotografias 1 e 2 foram tiradas em estações diferentes.

2º Fig. 1 No centro do Campo de Abaixo há um farol e a Escola da República parece que está sem pintar.

Fig. 2 Embora possa haver um problema de perspectiva, semelha que nesta altura na praça não havia um farol e que a Escola da República estva sem pintar.

Da fig. 2, na que se vê a Casa do Povo, podemos dizer alguma coisa mais. Na fachada ainda não fora colocada a placa dedicada a Ángel Baltar, assim que a fotografia teve que ser tirada antes de 1929. Também se aprecia o encofrado das colunas da esqueira pola que se acede à porta principal do Concelho. De saber quando se fiz esta obra, teríamos a data certa da fotografia.

Como curiosidade, na fig. 2 vê-se um grupo de nenos e nenas rodeando a um adulto que parece dizer-lhes algo. As crianças levam livros debaixo do braço, talvez o Primer Manuscrito ou a Encilopédia, e o adulto uma carteira cruzada ao peito, polo que muito possivelmente estejamos ante o mestre com seus alunos.

Nas fig. 3, 4 e 5, também podemos ver algo que nos situa em épocas diferentes na história rianxeira. Nas três notamos a presença da Capela de São Bartolomeu, um fito que nos permite situar perfeitamente a câmara do fotógrafo. Mas a capela da fig. 3 aparece no estado anterior à sua restauração, um elemento mais para datar este grupo. Na fig. 5 vê-se claramente a capela pintada de branco e com a espadana e a campá que lhe foi colocada na altura.

Noutra postal da minha coleção, da série de La Colmena, fig. 6vê-se claramente a capela branca com sua espadana e com a porta aberta olhando para Rianxo, é dizer, ao leste, portanto desorientada. Na fig. 3 esta porta aparece bloqueada.

                                                                               Fig.6

As duas dornas jeiteiras da fig. 3 são a Juanita e a San Antonio y Animas.

Fazia referência à baixa qualidade das imagens impressas. Na minha opinião poderíamos estar ante umas provas de impressão, já que as figuras aparecem desenquadradas no papel, com uma banda lateral em branco onde alguém anotou como recordatório, os lugares onde se tiraram as fotografias. Essa pessoa não devia ser rianxeira, pois usa expresoes como Plaza Mayor, pouco ou nada utilizada em galego .ou Alameda ,para um espaço que um rianxeiro denominaria Campo de Arriba ou de Abaixo. Mas o erro mais grande e o de denominar à Capela de São Bartolomeu como Ermita de Guadalupe.

Se observamos os postais pola parte de atrás fig.7, podemos ler impresso neles a frase Tarjeta Postal e o desenho dum anagrama com as siglas IFAG, as quais fazem referência a Industria Fotoquímica Antoni Garriga. 

Fig.7

Antoni e o seu irmão Rafael foram engenheiros pioneiros no desenvolvimento de produtos fotográficos. Rafael Garriga Roca (1896-1869) é o avó de Ignacio Garriga Vaz de Concicao (sic), candidato de Vox a Generalitat de Catalunya. Como é sabido, o político xenófobo é filho duma guinéu-equatoriana nascida antes da independência do seu país, portanto de nacionalidade espanhola. Se Ignacio Garriga fosse um Rei da Espanha, talvez o seu sonho, mereceria a alcunha régia de Ignacio I El Oxímoron, porque ele próprio é uma contradição em termos. Se ser catalão e ultra nacionalista espanhol a um tempo é um disparate, ser de Vox e negro, parece uma piada.

Todas as fotografias desta postagem pertecem ao arquivo do Pico Rodríguez, depositado no Fondo Local de Música do Concello de Rianxo.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

nº 248 Leyendas de la música e o nascimento da fábrica Dieste.

 

Nadie está obligado a ser genio, pero todos estamos obligados a aspirar a la obra para salvarnos.

Eduardo Dieste.

Entre as pequenas joias bibliográficas que fatigam os meus andeis -que diria Borges- encontra-se o formoso volume titulado Leyendas de la música (1911) de Eduardo Dieste (1881-1954). Formoso volume, repito, como objeto, pois como leitura resulta mais bem prescindível. Está composto o exemplar por dois relatos ou novelinhas titulados Margaritas de oro e La canción tonta, literatura romântica, folhetinesca, na que se pode entrever alguma referência paisagística ao Rianxo diestiniano. Na minha opinião, o principal valor que para os rianxeiros tem as Leyendas de la música reside em estarmos a olhar a primeira obra do que poderíamos chamar a fábrica Dieste; o primeiro dos volumes publicados por qualquer dos moradores do número 1 da rua de Abaixo.

A coleção

Leyendas de la música faz o volumem XI da coleção Biblioteca de Escritores Gallegos, editorial madrilena do bilbaíno Luis Antón del Olmet (1886-1923) e do pontevedrês Prudencio Canitrot (1883-1913). Foi impresso na Imprenta de Alrededor del Mundo -que belo nome- em Caños nº 4. 

Canitrot e Eduardo Dieste coincidiram fisicamente na Ponte Vedra de fins do século XIX, e ainda que por idade é possível que ambos não intimaram, resulta improvável as famílias não se conhecerem.

Luis Antón del Olmet também teve muita relação com os galegos e nomeadamente com Rianxo. El barbero municipal, em agosto do 1913, dá conta da visita do ilustre escritor à vila rianxeira, convidado por Castelao. 

A união de Canitrot e Olmet deu numa empresa fabulosa contando com nomes como Ramón del Valle Inclán (Las Mieles del rosal), Manuel Murguía (Desde el cielo), Linares Rivas (Mientras suena la gaita), Wenceslao Fernández Flórez (La tristeza de la paz) ou Sofía Casanova (El pecado). A estes nomes de galegos consagrados na corte madrilena, somaram-se outros quase ou absolutamente desconhecidos, como o de Eduardo Dieste. Este ex-seminarista e periodista de 30 anos publica o seu livro a consequência de ter ganhado o primeiro prémio no concurso organizado pola editorial de Olmet e Canitrot.

O texto

Abrindo o volumem de Leyendas de la música, aparece um soneto no que o seu autor, J. Ramirez Uria, descreve, belamente, ao seu amigo Eduardo:

Su alargada figura la de un Greco parece,

y hay grabado en su rostro un raro complejismo:

tristeza que sonríe... ira que languidece...

escéptica mirada con fulgor de ascetismo.

Su pelo lacio y negro de bohemio poeta

al de un prerrafaelista nazareno retrata,

Edgar Poe Compuso su extraña silueta

y Muset le hizo el lazo suelto de la corbata.

Su alma ingenua y profunda es el alma gigante

de aquel gentil modelo de caballero andante

cuya bella locura hizo flotar su airón.

Le es posible, á quererlo -y por ello alardea-

ver en cada cocota vil una Dulcinea

y ver en cada pecho vacío un corazón.

Em realidade, Ramírez Uría está a por em verso o retrato sem assinar que aparece na capa do livro, tal vez do próprio Canitrot.

 

Arquivo do Pico Rodríguez


Finalmente

No prólogo que antecede às duas noveliñas que No prólogo que antecede às duas novelinhas que compõem Leyendas de la Música, Eduardo Dieste descreve uma paisagem bem conhecida para nós: 

«Cruz berroqueña y manchada de líquenes que atalaya el mar imponiendo á los pescadores la obligación del recuerdo y de narrar su historia á los de pueblo extraño que viajen en sus naves. Y aunque su vida por tierra se extiende á poco, los que pasan por el apretado sendero que bordea temerariamente la costa de abruptos barrancos también la miran en remembranza, y las viejas se persignan y oran, acallando con misterio las preguntas en voz demasiado sonora de los rapaces prendidos á sus faldas. 

La misma piedad alimenta de aceite una lamparilla que pende en su centro. ¡Qué tristeza tiene el fulgor de la cruz cuando es de noche! Y débil como es, en ocasiones de tormenta sostuvo con su parpadeo animoso la esperanza de los marineros en peligro».

 Aos que conhecemos Rianxo, esta paisagem evoca-nos o caminho que desde Punta Fincheira percorre a costa sobrevoando os areais do Quenxo e Tanxil. Bem ali, em Punta Fincheira, existe uma pequena cruz, desrespeitosamente tratada pelo enchimento do porto e dos chalés turísticos que a sombreiam. Este caminho costeiro une a vila dos Dieste com o areal dos Baltar, como um cordão umbilical da aristocrática cultura aldeã. E mesmo agora, quando somos nós que o transitamos, ainda sentimos nele um algo de romântica literatura.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

nº 247 Caderno de Campo de Lisón Tolosana. Rianxo

 

A partir de outubro de 1963 e durante os seguintes dois anos, o professor Carmelo Lisón Tolosana (1929-2020) realizou o trabalho de campo na Galiza com o que fundamentou parte da sua importante obra antropológica. Entre os numerosos lugares que visitou nesse périplo figuram a vila de Rianxo e a paróquia de Assados. 

Não sei a data exata na que o antropólogo Lisón Tolosana e a sua mulher Julia Donald visitaram o nosso concelho, mas o que sabemos com certeza é que aqui contou com a ajuda do que na altura era um jovem professor, o grande amigo Xesús Santos. Ele foi quem convocou ao grupo de marinheiros que na taberna de Galbán, na ribeira rianxeira, contaram ao antropólogo espanhol alguma das suas tradições, fobias e filias da gente do mar.

O documento que agora achego é a transcrição literal do caderno de campo de Lisón Tolosana com algumas anotações minhas que aguardo ajudem a compreender melhor algum aspecto. 

Dividi o texto em parágrafos, para ter uma visão ordenada dos temas que tratam nas suas conversas os marinheiros convocados na taverna de Galbán.

O documento recolhido em Rianxo por Lisón Tolosana achega-nos uma visão da cultura marinheira em transição, os velhos e os novos tempos arredor duma mesa tavernária. A linguagem misógina com a que falam os informantes resulta difícil de ler -mesmo humilhante pelo seu trato as mulheres- mas entendo que transmite muito bem o que era a sociedade marinheira, tantas vezes idealizada e, por isso mesmo, com uma imagem pública muito deformada.

Na seguinte entrada deste blogue, publicarei a parte do caderno dedicado a Assados, um relato cheio de magia, trasnos e superstições. Continuamos.

Agradeço aos amigos Ramóm Pinheiro Almuinha e a Kike Estévez ter-me posto em conhecimento da existência destes valiosos documentos.