terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

nº 248 Leyendas de la música e o nascimento da fábrica Dieste.

 

Nadie está obligado a ser genio, pero todos estamos obligados a aspirar a la obra para salvarnos.

Eduardo Dieste.

Entre as pequenas joias bibliográficas que fatigam os meus andeis -que diria Borges- encontra-se o formoso volume titulado Leyendas de la música (1911) de Eduardo Dieste (1881-1954). Formoso volume, repito, como objeto, pois como leitura resulta mais bem prescindível. Está composto o exemplar por dois relatos ou novelinhas titulados Margaritas de oro e La canción tonta, literatura romântica, folhetinesca, na que se pode entrever alguma referência paisagística ao Rianxo diestiniano. Na minha opinião, o principal valor que para os rianxeiros tem as Leyendas de la música reside em estarmos a olhar a primeira obra do que poderíamos chamar a fábrica Dieste; o primeiro dos volumes publicados por qualquer dos moradores do número 1 da rua de Abaixo.

A coleção

Leyendas de la música faz o volumem XI da coleção Biblioteca de Escritores Gallegos, editorial madrilena do bilbaíno Luis Antón del Olmet (1886-1923) e do pontevedrês Prudencio Canitrot (1883-1913). Foi impresso na Imprenta de Alrededor del Mundo -que belo nome- em Caños nº 4. 

Canitrot e Eduardo Dieste coincidiram fisicamente na Ponte Vedra de fins do século XIX, e ainda que por idade é possível que ambos não intimaram, resulta improvável as famílias não se conhecerem.

Luis Antón del Olmet também teve muita relação com os galegos e nomeadamente com Rianxo. El barbero municipal, em agosto do 1913, dá conta da visita do ilustre escritor à vila rianxeira, convidado por Castelao. 

A união de Canitrot e Olmet deu numa empresa fabulosa contando com nomes como Ramón del Valle Inclán (Las Mieles del rosal), Manuel Murguía (Desde el cielo), Linares Rivas (Mientras suena la gaita), Wenceslao Fernández Flórez (La tristeza de la paz) ou Sofía Casanova (El pecado). A estes nomes de galegos consagrados na corte madrilena, somaram-se outros quase ou absolutamente desconhecidos, como o de Eduardo Dieste. Este ex-seminarista e periodista de 30 anos publica o seu livro a consequência de ter ganhado o primeiro prémio no concurso organizado pola editorial de Olmet e Canitrot.

O texto

Abrindo o volumem de Leyendas de la música, aparece um soneto no que o seu autor, J. Ramirez Uria, descreve, belamente, ao seu amigo Eduardo:

Su alargada figura la de un Greco parece,

y hay grabado en su rostro un raro complejismo:

tristeza que sonríe... ira que languidece...

escéptica mirada con fulgor de ascetismo.

Su pelo lacio y negro de bohemio poeta

al de un prerrafaelista nazareno retrata,

Edgar Poe Compuso su extraña silueta

y Muset le hizo el lazo suelto de la corbata.

Su alma ingenua y profunda es el alma gigante

de aquel gentil modelo de caballero andante

cuya bella locura hizo flotar su airón.

Le es posible, á quererlo -y por ello alardea-

ver en cada cocota vil una Dulcinea

y ver en cada pecho vacío un corazón.

Em realidade, Ramírez Uría está a por em verso o retrato sem assinar que aparece na capa do livro, tal vez do próprio Canitrot.

 

Arquivo do Pico Rodríguez


Finalmente

No prólogo que antecede às duas noveliñas que No prólogo que antecede às duas novelinhas que compõem Leyendas de la Música, Eduardo Dieste descreve uma paisagem bem conhecida para nós: 

«Cruz berroqueña y manchada de líquenes que atalaya el mar imponiendo á los pescadores la obligación del recuerdo y de narrar su historia á los de pueblo extraño que viajen en sus naves. Y aunque su vida por tierra se extiende á poco, los que pasan por el apretado sendero que bordea temerariamente la costa de abruptos barrancos también la miran en remembranza, y las viejas se persignan y oran, acallando con misterio las preguntas en voz demasiado sonora de los rapaces prendidos á sus faldas. 

La misma piedad alimenta de aceite una lamparilla que pende en su centro. ¡Qué tristeza tiene el fulgor de la cruz cuando es de noche! Y débil como es, en ocasiones de tormenta sostuvo con su parpadeo animoso la esperanza de los marineros en peligro».

 Aos que conhecemos Rianxo, esta paisagem evoca-nos o caminho que desde Punta Fincheira percorre a costa sobrevoando os areais do Quenxo e Tanxil. Bem ali, em Punta Fincheira, existe uma pequena cruz, desrespeitosamente tratada pelo enchimento do porto e dos chalés turísticos que a sombreiam. Este caminho costeiro une a vila dos Dieste com o areal dos Baltar, como um cordão umbilical da aristocrática cultura aldeã. E mesmo agora, quando somos nós que o transitamos, ainda sentimos nele um algo de romântica literatura.

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