Mostrar mensagens com a etiqueta Sanfona. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sanfona. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Nº 252 Crónica negra da Sanfona

 Em 13 de novembro de 1863, aparece no Boletim Provincial de Lugo a seguinte nova:

Don Antonio del Rio y Cuesta Juez de primera instancia en la villa de Noya y su partido.

Por el presente se cita, llama y emplaza por el termino de treinta días perentorios á Lucas Casal Tarpa, vecino de la parroquia de San Nicolás de Mosteirón lugar do Outeiro, Ayuntamiento de Sada, partido de Betanzos á fin de que se presente en la cárcel pública de esta capital á responder á los cargos que contra el mismo resultan en causa criminal sobre la muerte de Feliz Romero, pues no haciéndolo se sustanciará con los Estrados y le parará el perjuicio que haya lugar. Al propio tiempo se exhorta con las Autoridades civiles y militares para que procedan al arresto de Lucas y su remisión caso ser habido. Noya 26 de octubre de 1863. Antonio del Río y Cuesta. Manuel Ramón Martelo. Escribano Originario.

No mesmo breve do jornal, dá-se a descrição do suposto assassino:

Edad de 40  á 44 años, estatura alta y de buen color, es tuerto y deja caer sobre el ojo un gran mechón de pelo: viste chaqueta negra y azul, pantalón de lo mismo y algunas veces de tela, unos zapatones y un sombrero ongo de lana blanca por encima de un pañuelo encarnado que ciñe á la cabeza, tambien tiene uno ó dos aretes en las orejas y gasta capa negra, ó azul, toca Zanfona y algunas veces lleva alforjas cruzadas al pecho y además anda con un perro pequeño color pardo ceniciento y adiestrado en juegos, tiene cédula de vecindad del número primero espedida en 22 de Abril de este año. Registrado núm. 949

Em 17 de junho de 1864, o sanfonista Lucas Casal continuava em fuga e captura, pelo que e publica novamente no Boletín Oficial da Província de Lugo o mesmo edital, mas esta vez com ligeiras modificações nos nomes dos protagonistas. Lucas Casal Tarpa aparece agora como Lucas Casal y Jarpa e a sua vítima como Félix -e não Feliz- Romero.

Absolutamente fascinado por encontrar-me com uma descrição tão minuciosa dum sanfonista galego de mediados do século XIX, acudi ao Arquivo diocesano de Compostela na procura da verdadeira identidade do cego de Mosteirão.

Se em 1863 tinha entre 40 e 44 anos, o sujeito devera ter nascido ca. de 1823. Num intervalo duns 50 anos a redor dessa data (1800-1850), não encontrei mais que a um Lucas Casal cuja partida de nascimento dizia o que segue:

Em 18 de octubre, año de 1823, el Br. Dn. Manuel Benito Milleiro, cura propio de esa parroquia de S. Julian de Osedo y S. Nicolas de Mosteirón su anejo, en esta bauticé solemnemente y puse los santos óleos a un niño que nación el mismo día, hijo de lexítimo matrimonio de Juan Casal y de Josefa Prego su mugger vecinos de la dicha de Mosteirón, púxosele por nombre Lucas María. Fue su madrina Dª Josefa Ramos...

De ser esta pessoa a que andávamos a procurar, havia, novamente, um problema com o seu segundo apelido. A solução pode estar na própria partida de batismo, na relação que se faz das avós. 

Abuelos paternos Pedro Casal y Fca. Rodríguez difunta vecina de la dicha Mosteirón; Maternos Marcos Prego, difunto y María Jaspe, cecinos que son y fueron de la parroquia de Osedo. 

Semelha que Lucas María Casal Prego, adotou nalgum intre o apelido da sua avó materna, passando a se chamar Lucas Casal y Jaspe. Segundo o mapa cartográfico dos apelidos na Galiza [https://ilg.usc.es/] o apelido Jaspe só tem alguma ocorrência em três concelhos galegos, com uma máxima porcentagem povoacional no de Oleiros, vizinho a Sada.

Com estes dados à vista, considero que podemos afirmar que o sanfonista acusado de causar a morte de Félix Romero foi o sadense Lucas María Casal Prego (Mosteirão, Sada, 18 de outubro de 1823; ?), cujo nome, na cédula de vecindad devia aparecer como Lucas Casal y Jaspe.

E quem era em realidade este sanfonista de Mosteirão? Apenas sabemos mais que alguns dados biográficos e só contamos, que não é pouco, com a sua descrição física para fazermo-nos um ideia do ser aspeto. O fato de levar chapéu de hongo branco e aretes nas orelhas, faz com que pensemos na hipótese de ser um marinho, quiçá reconvertido a cego andante depois dalgum acidente no exercício do seu ofício. Os chapéus de hongo branco, chambergos, de obispo ou de caminho, que de todas estas maneiras eram chamados, foram usados nas colónias espanholas de ultramar, como Cuba ou Filipinas. Os aretes nas orelhas também podiam reforçar a ideia de ser um marinho veterano. Mas, fique claro que nos movemos no terreio das hipóteses. Enquanto trabalhava na personagem de Lucas Casal foi-se formando na minha cabeça a imagem de Lucas Casal que se tornou imediatamente esboço no meu caderno de notas. Coloco aqui os desenhos só para que o pessoal acredite o mal que me funciona por vezes o meu caletre.

                                                                 ©Orjais

As liortas entre músicos e comediantes, e em geral todo tipo de feirantes, foram habituais e, como nao podia ser doutro modo, os cegos iam bem armados. No cintura levavam um punhal, pois como dizia Pablo Mendoza de los Ríos (1737) havia "ciegos, no de amor, sinó de bayna abierta".

Mais nao sempre eram os culpáveis da briga, as vezes apareciam como simples vítimas.

También se vió ante el mismo Tribunal la causa procedente del Juzgado de Cambados, por el delito de atentado contra Benito Rodríguez y José Manuel Rañó Ferreirós.

Refiere el Fiscal, que durante la tarde del 24 de Junio del año último, el Guardia municipal de Carril Arturo Meigide Otero, que como tal agente de la autoridad se hallaba prestando servivio en la romería de San Juan, que se celebraba en Bamio, reprendió á los procesados por estar maltratando á un ciego que pedía limosna tocando la zanfoña y aquellos lejos de atender sus indicaciones, le acometieron dándole de bofetadas y agarrándole de las barbas, recibiendo también otra bofetada Amador Sijas López, que le hizo sangar por las narices, de mano del Benito, al acudir en auxilio del mencionado Guardia, requerido poe este al verse acometido por ambos procesados.

Que son autores los procesados, y procede imponer à los mismos la pena de 3 años, cuatro meses y ocho días de prisión correccional, multa de 150 pesetas con las costas. La Correspondencia Gallega: diario de Pontevedra: Ano XIX nº 5349 7/12/1907

Então, em 1906.  ainda caminhavam os cegos de sanfona por Bámio, Vila Garcia. talvez numa das suas últimas aparições nestas terras. A sua presencia polo Salnês faz-me pensar nos desenhos de Castelao, tão realista no trazado dos instrumentos. É evidente que o caricaturista rianxeiro teve oportunidade de tomar apontamentos do natural em feiras e romarias da contorna como Sao Ramão de Bealo ou do Santiaguinho de Padrão ou em qualquer outro lugar, mesmo Rianxo, a onde chegara um cego andante. E é por isso que os seus desenhos, só precisam de soar.


sábado, 28 de dezembro de 2013

nº 177 Uma foliada rianjeira de 1955.

Na página web http://www.musicatradicional.eu estão-se a colocar digitalizadas, as transcrições do trabalho de campo realizado pelas missões folclóricas do CSIC entre 1944 e 1960. Fazia anos que vinha reclamando que a parte galega deste material, milheiros de fichas com partituras e anotações, viera para a Galiza. Se como parece este fundo estará disponível em breve para todo o mundo, poderemos gozar dum material de indubitável valor histórico, documental e, obviamente, também artístico, que nos vai permitir aos músicos contar com uma quantiosa base de melodias e de letras para futuras actualizações.
Entre o ramalhinho de registos galegos digitalizados, ainda escasso, eu encontrei uma delicatessen que, além disso, tem relação direita com a vila na que moro, Rianjo.

A história é esta:

Em 1943 o Padre Higínio Anglés começa a dirigir o Instituto Español de Musicologia dependente do CSIC. Os trabalhos de etnomusicologia correram por conta da Sección del Folklore, dirigida desde o 1944 até o 1955 por Marius Scheneider (1903-1982). A Sección de Folklore vai realizar 68 missões por todo o Estado Espanhol, recolhendo-se, como já disse, milheiros de cantigas transcritas com notação musical. 
Em 1955, o músico Pedro Echevarria Bravo (1905-1990) vem a Rianjo na sequência do que será a missão 46 e recolherá umas cantigas a Ramón Rodríguez Alcalde, marinheiro rianjeiro de 67 anos de idade. O tal Pedro Echevarria Bravo era natural de Villalmanzo, Burgos, mas desde o 1953 dirige a banda de música da Deputação da Corunha e desde o 1955 a de Compostela. Esta recolha tem um valor ainda maior se pensamos na escassíssima historiografia musical com a que conta o nosso concelho. Por exemplo, Rianjo não aparece no cancioneiro de Casto Sampedro, ainda que sim nos fundos recentemente publicados pelo Dr. Xavier Groba. Também não aparece nenhuma entrada na magna colecção de canto antigo galego da Dra. Dorothe Schubarth. Só Bal y Gay e Torner se acordaram de Rianjo no seu cancioneiro. 

Transcrição de Pedro Echevarria Bravo da cantiga Se chove, deixa chovere.


Edição com musescore (pdf)

Tal vez seja um erro irreparável pela minha parte, mas não me resisto a oferecer-vos uma actualização deste tema que fiz com minha sanfona. Eu não sou um bom sanfoneiro, nem o instrumento estava em uso, já que faz algum tempo que apenas toco. Mas hoje fui ao colégio onde trabalho e onde por acaso estava a sanfona. Tinha uma câmara a mão e sem muita preparação volveu a sonar em Rianjo, neste caso Taragonha, a velha foliada do senhor Ramón Rodríguez Alcalde. No vídeo, ao meu lado, vê-se uma maqueta da motora dos Cambeses feita pelo nosso alunado. Bom, aguardo que me desculpem o atrevimento.


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

nº 175 Uma sanfona da goiva de Urbano Anido.


D. Urbano Anido (Mondonhedo,1834; Compostela, 9 de setembro 1930) foi um muito importante ebanista com oficina na rua compostelana do Hórreo. A primeira notícia que teve dele foi graças a um documento já publicado neste blogue. Segundo os dados que ele oferece, o mestre Anido construiu um «Organillo de cilindro» para ser exibido na Exposición agricola industrial y artística de Santiago de Compostela celebrada em 1858. 


Na altura, documentando-me sobre o artesão, encontrei-me com a surpreendente notícia de que uma secretária fabricada por Anido viajara a EE.UU em 1892, por iniciativa do banqueiro galego residente em Nova Iorque, Manuel García. Segundo o artigo de José Tarrío García publicado na Gaceta de Galicia, o móvel ia fazer parte da World's Columbian Exposition de Chicago a acontecer em 1893. Não dei confirmado se foi finalmente exposto.


O artigo em questão foi ficando oculto numa pasta do meu computador, junto com muitos outros documentos curiosos dos que apenas posso comentar nada. Mas, por vezes, a fortuna alia-se da nossa parte e, como por acaso, aparecem novos documentos, dados, comentários que deitam um bocado de luz sobre as velhas histórias já quase esquecidas.
O caso é que a secretária de Urbano Anido tem profusas talhas nas que se amostram cenas próprias de romarias galegas, paisagens camponesas com músicos e bailadores vestidos com o fato tradicional. Não vou descrever pormenorizadamente cada cena, tão bem descritas por José Tarrio, só vou falar daquela que me levou, na altura, a guardar este artigo. Trata-se duma tábua que pecha o corpo inferior do móvel, por trás dumas pilastras que sustêm cinco arcos de meio ponto. Talhada pela goiva de Anido, podemos ver, junto com outros instrumentos musicais do folclore galego, uma sanfona. 
Esta semana, na sequência de uma outra investigação que nada tem a ver com esta, dei com uma página de subastas http://www.liveauctioneers.com na que fora posta a leilão o móvel de Urbano Anido. Graças às imagens que aparecem na mesma podemos saber como eram as cenas e os instrumentos talhados pelo artista da rua do Hórreo.


Existem muitos pontos de contacto entre os artistas e intelectuais da Compostela de entre séculos e a sanfona, instrumento, na altura, decadente, evocatório duma época que termina. Já neste blogue dava conta de como Cándido Castro López, vizinho da rua de Pitelos, expunha em 1909, também em Compostela, uma sanfona feita por ele mesmo. Isidoro Brocos, Manuel Vidal, o próprio Castelao... nomes unidos à sanfona como símbolo, tal ve,z do saudosismo de toda uma geração.











sexta-feira, 27 de setembro de 2013

nº 174 Um duo de sanfona e frauta.

A primeira vez que vi referenciado este conto foi no histórico artigo de Julio García Bilbao, Averiguaciones sobre la zanfona de Faustino Santalices. Recentemente, Pablo Quintana cita-lo-à na palestra apresentada em Ponte Vedra para a SAGA, que já podemos ver na rede os que na altura, infelizmente, não demos assistido. [ver aqui]
O autor do relato é Manuel Vidal (Maceda, 1871-Compostela, 1941) um padre, militante agrarista primeiro e  autonomista depois, possuidor duma extensa obra narrativa, teatral e ensaística. 
Acostuma-se a citar O derradeiro xuglar de viola pelos valiosos dados que achega referente à sanfona, dados que não procedem do estudo minucioso, como no caso de Isidoro Brocos ou Casto Sampedro, senão da simples observação dum intelectual curioso. 

Num plano puramente pessoal, fiquei impressionado pela cena na que Manuel Vidal relata um concerto realizado num paço de Lalim a cargo do duo formado por dois senhoritos, um moço desconhecido de Bergondo na sanfona e Jorge Quiroga na frauta. Este concerto evocou-me muitas coisas, velhas lembranças e alguma hipótese que apenas me atrevo a esboçar. Contudo, vou expor as minhas ideias com vontade de que na rede alguém as leia e até mesmo lhes acrescente ou refute alguma coisa.

Que eu saiba, O derradeiro xuglar de viola foi publicado por vez primeira na revista Ultreia nº 4 (15/07/1919). No texto há duas cenas contrapostas que ilustram muito bem a belle epoque da cultura tradicional galega, um intre de descobrimento definitivo do folclore pelas elites culturais e abandono paulatino de certos usos e costumes pelas populares. Assim, no mesmo conto no que se nos fala do último cego compostelano, um velhote canso das misérias do seu ofício, também se descreve um concerto numa Casa Grande, evocador das soirées do século XIX como a que tivemos o privilégio de reviver em Vilancosta.
Desta cena, na que se executa um duo de sanfona e frauta, é da hoje quisera falar.

Em primeiro lugar, devemos fixar-nos no cenário, o espaço no que está a acontecer o concerto. O paço de Quintela é uma propriedade situada na paróquia de Catasós no concelho pontevedrês de Lalim. Pertencia à família de Xorxe, o frautista, cujo nome completo é Jorge Quiroga García (Banga, O Carvalhinho, ? ; Madrid, 03/02/1953),  proprietário, desde 1935, do balneário de Carvalhinho. Jorge Quiroga era filho de Eduardo Quiroga e sobrinho de José Quiroga, o marido da Pardo Bazán. Este dado é interessante já que o padre Manuel Vidal foi capelão no Paço de Meirás, propriedade da condessa, entre os anos 1914-1918, rematando este serviço um ano antes da publicação de O derradeiro xuglar da viola.
Por certo, a Pardo Bazán também retratou num conto a um sanfonista, esta vez ao Tio Amaro de Espadanela e a sua acompanhante às conchas Sidorinha Finafrol.

Mas, chegados a este ponto, sabemos ou quando menos intuímos a identidade do sanfonista?
Pois pelo que a mim respeita, não faço a menor ideia. Quando li que era um músico multi-instrumentista e espontâneo, palavra que tal vez queira significar autodidata, pensei em João Vicente Viqueira. Tudo parecia calhar bem. O Viqueira era um corunhês de Bergondo, concretamente radicado em Vixoi, na Quinta dos Cortão. Por outra banda, o Jorge Quiroga tinha relação com Paderne, nomeadamente com o Paço dos Montecelo, herdança familiar da sua mulher Amparo Quiroga Navia. Mas resulta pouco crível que de ser Viqueira, Manuel Vidal ignorara o seu nome ou o esquecera, a não ser que se trate dum "de cuyo nombre no quiero acordarme...". Também é difícil associar, mesmo para um único concerto de música, a duas pessoalidades tão dispares, a do filósofo da I.L.E. com a do sportman filhote dos Quiroga.

Bom, fique aqui o texto com a ilustração original da capa para um leitura atenta e gozosa. O desenho de Castelao amostra a um cego com os atributos próprios do seu ofício, o de músico de la legua, chapéu de aba ancha e capote, com uma sanfona ligeiramente desproporcionada para a figura do tangedor. 

Retomarei diversos aspectos de O derradeiro xuglar de viola noutras postagens quando tenha mais vagar, mas por enquanto, desfrutem do texto1.

1. Embora, o texto esteja escrito com numerosos e grosseiros erros, decidi, como sempre faço, presenta-lo na sua versão original.



O derradeiro xuglar de viola
____

A viola, conocida co nome onomatopéyico de zanfona, no nosa terra, e o instrumento de mais groriosa hestoria da civilización española, o símbolo venerable da nosa musa popular, a maiestra musical da lingua de Castela e da lingua galaica, desde fís do sécolo doce, en que deron os primeiros vaxidos poéticos as doces vibracións das suas cordas sonoras.
Acompañados da viola entonaron os xuglares castelans e os xuglares galaicos os cantares de jesta, que ensalzaban as proezas e caudillos da Reconquista, espertando e alentando nos espritos os grandes sentimentos da gran raza ibérica.
Acompañados da viola cantáronse dispoixas os romances que sucederon as jestas, estendéndose os asuntos d’ amor, de costumes e outros mais, todos eles cheos de gracia e de inxenio, de naturalidade, de frescura e de poesía.
 Os dôces acordes da viola latexaron de alegría, moitas veces, os curazóns dos nosos antepasados, cando cáxeque non había mais medios de counicación espiritual que os sempáticos xuglares, e forxáronse as virtudes românticas da y-alma española que levou a cabo empresas cen veces mais grandes que as homéricas que cantaran os xuglares da famosa Grecia.
Os melancólicos e misteriosos acordes da viola derramaron na fala gallega esa suavidade e melosidade qu’ a distingue, e lle deu a excrusiva da lírica, na mesma Castela, en todo o sécolo trece e parde do sécolo catorce.
Unha das razós con que probarse pudera a influencia da viola na fala da nos terra é a sua supervivencia nas nosas costumes populares, sendo quizáis Galicia a últema rexión de España en que inda se toca, ou que o menos se tocou polos cegos nas nosas feiras e romeirías hastra fai moi poucos anos. Eu oína moitas veces na famosa romeiría de Sainza, non lonxe de Xinxo de Limia; na festa de Don Fanque, xunto a Maceda, e na de Nosa Señora dos milagres; e non fai moitos meses inda oína on distinguido mozo coruñés, de Bergondo, múseco xenial e espontâneo que toca toda clás d’ instrumentos –sinto non recordar o nome- na casa que n’ aldea de Quintela ten o nobre patrício don Eduardo Quiroga, meu respetable amigo e compañeiro de caza.
N’ aquela casa solariega agasalloume o xenial múseco bergondense con tres concertos de viola acompañada a frauta polo sempáteco Xorxe, fillo do señor Quiroga, e xuro polo nome da miña nai, que en toda a miña vida non sentín o misterioso escalofrío da emoción da múseca, como n’ aqueles inolvidabres concertos de Quintela ¡nin cando oín tocar o violín a Sarasate e a Manolo Quiroga!
¿Qué digo violín? Nin cando oín tocar a nosa docísima e garimosa gaita galega os Trintas de Trives, a Modesto Sánchez de Rivadavia, a Elices de Celanova, a Tomás da Ponte de don Alonso, se me escaparon bágoas tan fondas, mornas e xinselas, nin me fixo sentir e querer tanto a Galicia como cando gocei dos sentimentás, melodiosos e misteriosos acordes d’ aquela meiga viola.
Non me preguntedes que tonadas tocou que non o sei; somente sei que moitas d’ elas parescían talmente ecos cercanos das melopeas meioevás con que se cantaron as jestas e as Cantigas de Sta. María do Rey Sabio, dend’ os tempos de Xelmírez hastra Xan de Padrón e Macías o Enamorado, e dospoixas os romances populares.
Un poeta castelan a quen, sen sabere por qué, faguía chorar a gaita galega, adicoulle unha trova, na que non sabe decir se canta ou chora. A cantora do Sar e de Follas Novas repricoulle com outra dicindo: Non canta, que chora. A mín pareceu-me nos concertos aqueles que a viola canta e chora.
Nos comenzos e prelúdios, coma alma atormentada por unha cuita negra e amarga, que a espertan do noso, alivio dos tristes, espertaba tamén a viola fosca e mal-humorada, renxendo dooridamente, como os chideiros dos carros da nosa terra renxen cando van cargados polas corredoiras nas noitas sereas do vran; logo iba trocando aqueles tristes queixumes en notas e acordes de suavísema armonía, hastra que olvidando as suas cuitas e tristuras, cantaba alborozada. ¡Quén poidera decir como cantaba e como choraba!
***
N’ este Santiago de Compostela, relicário de preciosas antigüedás, vive, no Carme d’ Abaixo, o últemo descendente d’ aquela ilustre xeneración de xuglares de viola, mensaxeiros entusiasiastas e ben amados do arte e da poesia, das lendas, costumes e sentimentos da nosa Patria grande e da nosa Patria feiticeira e pequeniña.
Vive inda na groriosa Compostela o últemo xuglar de viola, aunque xa non tocará mais, pois está triste, cego, cargado de anos e ulvidado, coa sua sanfona enfundada, doéndose das tristes mudanzas dos tempos, en que xa non se lle fai ningún caso, e añorando os anos felices en que era o encanto dos pelegrinos nas foliadas do Santo Apóstol, e rrecorría alegremente as feiras e as romerías de Galicia.
Non hai moito qu’ o vin pasar, cabizbaixo, co seu carís hierático, coas suas antiparras milenarias, co seu chaquetón todo remendado, sen mais guía que un can vello pola rúa do Pombal abaixo.
Levaba a zanfona colgada as costas por unha baraza averdosada, e corrín tras dél pra lle preguntar onde vivía e se podia faguerme o favor de tocarme un pouco, aunque fose na sua casa; mais contívenme pois pareceume unha sombra ancestral d’ aqueles tempos d’ amor e de relixiosidode, de patriotismo e de poesía, que pasaron pra non velveren, e que se debía respetare como se respeta unha cousa misteriosa e sagrada.
Aunque vive inda hoxe, según me dicen, como se non vivira. ¡Non volverá a tocar máis o derradeiro xuglar de viola!
Despóis que él cerre os ollos xa non nos quedará mais recordo do venerabre instrumento da nosa poesia popular que o organistrum, pai da viola, que teñen nas maus os músicos anxélicos do noso Pórtico da Groria.

Vidal Rodríguez, Manuel (1871-1941) Contos galegos d’antano e d’hogano Santiago de compostela: [s.n.], 1920 (El Eco Franciscano)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

nº 139 A sanfona de J. M. Pintos e uma ilustração de Francisco Herrera.

Quando dava aulas no Conservatório de Música Tradicional e Folque de Lalim, trabalhei com meus/minhas alun@s o famoso texto de J. M. Pintos, dado a conhecer por Casto Sampedro, no que se recolhe um pequeno catálogo de vocábulos referentes às partes da sanfona. O léxico do Pintos resulta muito valiosa, por quanto além de lexicógrafo era músico, violinista, sendo uma voz, por tanto, muito acreditada.

Estes termos não vêm acompanhadas das respectivas definições que o Casto Sampedro considerava óbvias e eu não tanto. Por mais que procurei o original utilizado pelo antiquário pontevedrês, não dei com ele, nem sei se ainda existe. Num intento de criar a polémica necessária que nos leve ao conhecimento do significado real de cada item proponho as que seguem, fruto mais da intuição que de qualquer método científico.

Convido-vos a que participeis com as vossas sugestões.

ASAS ALZAS: Alça é sinónimo de presilha como a que serve para passar o cinturão nas calças em redor da cintura. Asas são a parte pela que se pega nalguns utensílios, assim que asas alças, acho que fez referência aos apêndices da sanfona as que se amarra a correia ou correão.

BORDÓN: Bordão: "Corda grossa que nalguns instrumentos musicais, produz sons graves" (P.E.) Em Coromines podemos ler: 1463, "del fr. Faux-bourdon id., compuesto de faux "falso" y bourdon tono bajo en ciertos instumentos musicales, propte. Abejorro, zángano (por el zumbido de estos insectos), voz onomatopéyica. Origen parecido tiene bordona "cuerda de la guitarra". Nas sanfonas em G fundamental do teclado produziria um som contínuo em C.

BORDONETA OU QUINTILLA: O sufixo -eta provem do latim -itta, vivo em palavras como pandeireta. Com tudo hoje está em uso bordoncinho. Esta corda fez uma quinta do bordão, origem da segunda acepção. Quintilha, usa-se para a forma poética de cinco versos, pelo que de empregar esta acepção e por correspondência com prima e terceira preferimos quinta.

CAIXONCIÑO OU SECRETIÑA: Compartimento pequeno situado na parte que toca ao músico entre o cravelhame e a tampa traseira.

CASTILLETE: Parece referir-se ao compartimento provido de tampa com dobradiças que protegem as cordas desde o cravelhame até a roda, cujas paredes laterais estão furadas transversalmente para ser atravessadas pelos barrotes das teclas. É uma palavra castelhana que significa "s.m. Armazón de materiales y formas diversas que sirve como soporte de algo". Também dim. de castillo. Dado que não é palavra galega pode ser substituída por castelinho ou castelejo. Por similitude preferimos a mais comum estojo.

CHAVE: Esta palavra refere-se entre outras acepções aos pistões de alguns instrumentos de metal que ao preme-los permitem dar a nota desejada. Acho que na sanfona se refere as teclas que para o mesmo fim preme a mão esquerda do executante.

CORDAS: "s.f. Fio de tripa ou de metal para produzir sons em alguns instrumentos" (P.E.)

CORDEEIRO: Pintos (D.D.) no seu dicionário recolhe esta palavra: "Cordelero, tirante en instrumentos de cuerda". A tradução ao castelhano mais correcta seria cordal. Em galego podemos usar a palavra estandarte, que é o nome empregado para o elemento similar na família dos violinos.

CORREDORES: Em quanto que corredor pode ser uma viela estreita ou um carreiro, possa que esta palavra faça referência a o espaço pelo que transitam as cordas entre os tempereiros.

CORREÓN: Correão: "Correia larga e grossa" (P.E.)

CRAVIXAS: Cravelha: "s.f. Peça com que se retesam as cordas de certos instrumentos musicais para afinação" (P.E.)

CRAVIXEIRO: Cravelhame: "s.m. O conjunto das cravelhas; a parte onde estão as cravelhas". (P.E)

ESPECAS: Em (E) Espeque: "s.m. 1º Estaca ou pau com que se estea algunha cousa. 2º Pau que manten erguida a cabezalla do carro." Parece fazer referência as almas e passaria a denominar a estas especificamente na sanfona.

FERRO DO CORDEEIRO: Nos instrumentos de corda friccionada como a sanfona ou o violino, botão ou saliente a que vai fixada por duas finas cordas o estandarte ou cordoeiro e que na sanfona forma parte do veio.

FOLLA DE DIAPASÓN: O diapasão no violino é uma peça, geralmente de ébano, sobre a que dedilha a mão esquerda através da que se pode desenvolver a gama completa da voz do instrumento. Na sanfona o diapasão viria dado pelo tamanho do estojo e o número de teclas que este suportara. Sobre folha lemos em (E): "s.f. (13) Cada unha das palletas, lascas ou partes delgadas en que se divide un todo. (16) Cada unha das partes que se abren e fechan nas portas, xanelas ou biombos." Acho que a folha do diapasão pode ser a tábua do estojo, furada com o fim de que ao seu través passem as chaves.

GARDAPOLVOS: Guarda-pó: Forro de madeira que se põe sobre a roda para a proteger do pó.

PIA: O vocábulo pia é utilizado em náutica como sinónimo de carlinga, " Encaixe na sobrequilha para receber a extremidade do mastro." (P.E.) No caso da sanfona poderia tratar-se dalguma das peças que recebem o eixo, quiçá a entrada a caixa sonora onde se situa o veio.

PONTE: Para a palavra ponte, preferimos a galego-potuguesa cavalete, que é a peça que separa o tampo superior das cordas, transmitindo o som do primeiro ao segundo para que o amplifique. Esta ponte, nas sanfonas clássicas ia sobre uma peça de madeira que impedia que fosse directamente sobre o tampo.
PORTA: Quiçá a tampa do estojo ou castillete.
PRIMAS: As duas cordas cantantes, afinadas ao uníssono e na mesma oitava.

PUNTOS: Pontos, pensamos que podem ser uns ouvidos abertos nos aros da sanfona cujo uso é ainda de difícil interpretação.

RECINA: Resina: "s.f. Producto natural, viscoso, que se extrai de alguns vegetais (especialmente coníferas), de alto valor industrial." (P.E.) A resina utilizada pelos músicos de instrumentos de corda friccionada tira-se do aceite de trementina e serve para oferecer resistência na fruição do arco ou roda sobre a corda.

RODA: Objecto circular, geralmente de nogueira, comunicada através dum eixo metálico ao veio que ao ser accionado fez mover a esta. Tem a função do arco nos instrumentos da família do violino.

SEGUNDA PONTE: Acaso um barrotinho de madeira que vai próximo aos primeiros tempereiros e logo da ponte principal.

TAMPO DE DIANTE: Tampo sobre o que vai situado o estojo e o cavalete, e menos próximo ao executante.

TAMPO DE TRAS: Tampo mais próximo ao executante.

VEO OU AGULLA: A agulha é o objecto metálico que usamos para coser e parece fazer referência ao eixo. Veio e a manivela com a que transmitimos movimento à roda, através do eixo.

TECLAS OU TÉCOLAS: "s.m. Peças de madeira sobre as que se pulsa para que os tempereiros cheguem a encurtar a corda."

TEMPEREIROS: Cada uma das pecinhas de madeira que a forma de tangente pulsam a corda, encurtando a longitude da mesma a diferentes alturas.

TERCEIRA: Corda cantante que acompanha às primas, em uníssono com esta na oitava inferior.

ZAPATILLA: Sapatilha: Camurça de alguns instrumentos de vento para que nas chaves não escape o sopro. É de supor que na sanfona servira para aperfeiçoar o som no roce dos tempereiros com as cordas, podendo ser neste caso de borracha.

(D.D.) 2003 SANTAMARINA, ANTÓN ed. Dicionario dos dicionários.
(P.E): 1990 Dicionário da Língua Portuguesa. (Porto; Porto Editora).
(E): 1995 ALONSO ESTRAVIS, ISAAC Dicionário Sotelo Blanco da língua galega. (Compostela; Sotelo Blanco)

Outro tema, que deixarei para mais adiante, é o do vocábulo veio: manivela com a que se acciona a roda da sanfona. Dará para muito.

Por último, e como ilustração a este artigo, uma reprodução dum quadro de Francisco Herrera (Sevilha, c. 1590 - Madrid, c. 1656).


É uma das representações de cego com lazarilho menos conhecidas das pintadas por artistas da península Ibérica. Pertence ao Kunsthistorisches Museum Wien, que achega a data  de c.1640. Ficha.
O que resulta mais curioso e o próprio instrumento. Parece ter um teclado diatónico e as cravelhas dispostas na parte superior do cravelhame, e não lateralmente como na sanfona ibérica. As ilhargas tendem a ser rectas, com uma pequena curvatura muito afastada da sanfona em forma de guitarra. Eu diria que é um instrumento muito semelhante ao do cego de La Tour, que foi pintado só uns trinta anos antes que o de Herrera. Também é de destacar os pregos cravados na tampa e a postura tão sanfonística das mãos do músico.
Uma beleza.

Para mais referências iconográficas da sanfona ver neste blogue a etiqueta sanfona e a nossa revista digital Opúsculos das Artes.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

nº 129 Uma sanfona na Exposición Regional Gallega.

O meu amigo do facebook, Jesús Giráldez Rivero, a quem espero conhecer em pessoa qualquer dia, contou-me que também na Exposición Regional Gallega de 1909 celebrada em Compostela, houve expostos instrumentos musicais . Segundo ele me diz, mesmo uma sanfona dum artesão de Pitelos, dado este que ele pôde comprovar na documentação que se encontra no Padre Sarmiento.
Com esta grande dica foi-me fácil encontrar referências na imprensa da época. Contudo, o que não acreditava encontrar era uma descrição tão extraordinária como a publicada no jornal Gaceta de Galicia.
O dito texto, dá-nos informação sobre medidas, materiais, questões técnicas e mesmo o nome do constructor, D. Cándido Castro López. 
A dia de hoje desconheço quem é o artista, mas é muito possível que não fora um luthier profissional, sendo uma obra feita ad hoc para a Exposición.
Um dado curioso, e que dá que pensar, é o facto de a dita sanfona ser apresentada em 1909, o mesmo ano em que Isidoro Brocos fez a sua estatuinha do Velho da Sanfona e em que estão datados os planos que publicamos no primeiro volume dos Opúsculos das Artes.
Já disse muitas vezes que as casualidades são as milagres dos ateus...


«Una zanfona

Tan curioso instrumento ha sido presentado en la Exposición, y tiene la originalidad de haber sido construída en Santiago, por el hábil artista vecino de esta población D. Candido Castro López, que está recibiendo muchas felicitaciones por lo acertado de la ejecución y lo bien ultimado que está en todos sus detalles.
La describiremos, por que es curiosísima este instrumento músico, no sin antes dar nuestra enhorabuena al joven y estudioso artista.
Es de forma de guitarra sin el mástil que forma cuerpo aparte y que está colocado sobre la caja sonora, hallándose en el sitio de éste una pieza corta de 0'15 m. que remata en espiral y en donde se encuentran cinco clavijas de boj que graduan otras tantas cuerdas.
Las dimensiones de este instrumento músico tomadas en rectángulo son: largo 0'80 m. y 0'35 m. de ancho. El aro que mide 0'15 m. de alto en su parte trasera y 0'90 en la delantera, y las tapas superior é inferior son de nogal, así como la pieza anterior.
Rodean los bordes de dicho aro dos tiras de caoba cuyo dibujo en forma de lira, resulta un adorno elegante. Componen el mástil, que es la parte más interesante, el doble teclado de boj y su correspondiente caja de nogal; está situado encima de la caja hacia adelante y unico á ella por medio de dos clavijas de hierro. Es doble  su teclado para ejecutar con é la escala cromática, indispensable en la música, hallándose provisto de unos puntos ó piececitas de boj que al herir las tres cuerdas (primas), que pasan entre ellos, determinan las entonaciones mediante la presion de las teclas (1).
Se toca este instrumento por medio de un manubrio que situado atrás, hace dar vueltas á una rueda de nogal, con resina, y que está situada perpendicularmente á la caja, quedando media rueda dentro de ésta y la otra mitad fuera de dicha caja; esta rueda al rozar con las cuerdas, dá el sonido correspondiente según las teclas que al mismo tiempo se opriman. Tres cuerdas llamadas primas que pasan por encima de la rueda y por el interior del mástil, sonando al mismo, llevan el canto ó melodía; otras dos cuerdas colocadas fuera y al lado del mástil y mas bajas  que las primas, casi tocando la tapa superior de la caja sonora, una llamada mouche (mosca) y otra petit bourdon (bordoncillo), hacen la tónica y la quinta del tono. Estas cuerdas se pueden afinar sin hacer uso de las clavijas, moviendo hacia delante ó atrás unos graduadores ó rensatitos de boj, de que está provisto el instrumento y que los atraviesan la mosca y el bordoncillo.
A la rueda que está situada detrás del mástil, en el puente de boj, colocado á espalda de dicha rueda y á la pieza, también de boj, en forma de lira en que se hallan sujetas las cuerdas, y que es la última después del manubrio, las defiende una tablilla giratoria de caoba en forma de semi circunferencia, aunque su papel principal es tapar la rueda: y como las demás piezas están colocadas inmediatamente junto á ella también las cubre. Destácase en la tapadera del mástil el nombre del constructor, tallado en hermosa letra gótica.
Tiene la particularidad el instrumento de que nos ocupamos, de armarse y desarmarse facilmente.
La zanfona fué modificación del Organistrum, cuya modificación consiste en aplicar el teclado destinado á remplazar la acción directa de los dedos sobre la cuerda que, como hemos dichoa, ejercen los puntos que están situados perpendicularmente en las teclas.
Fué instrumento muy cultivado en la edad media, y en la época  del renacimiento ha desempeñado su papel en la orquesta.
Tenía el nombre latino Organistum.
Tambíen se llamó Rota Sambrica rotula y fué instrumento de trovadores y menestrales.
Después del siglo XV, fué abandonado á los pordioseros y músicos nómadas, llamándose Lira mendicorum. También se conoció con el nombre de Symphonia.
_______

(1) El teclado superior se compone de 13 teclas y de 10 el interior. Son pues 23 teclas cada una de las cuales tiene tres puentos situados en línea recta, haciendo un total de 69 puntos.» Gaceta de Galicia, Ano XXXVIII; nº 177; 14 de agosto de 1909

domingo, 5 de fevereiro de 2012

nº 128 Uma "zampoña" na Exposicion Agricola Industrial y Artistica de Galicia


Catálogo metódico de los objetos exhibidos en la esposición (sic)
Agrícola Industrial y Artística de Santiago de Compostela.

No Ayes de mi país, que publiquei para Dos Acordes no 2010, em parceria com a Pr. Isabel Rei, acho que há poucos erros daqueles que aparecem depois de que o livro já está  editado. Mas há um que me doe como se me estiveram a tirar um dente são sem anestesia.
Na página 34 falo da relação de Marcial Valladares com o  artesão Manuel Garcia de Oca, a quem solicita umas miniaturas de utensílios de lavoura. Estas miniaturas estão destinadas a ser expostas, na Exposição de Produtos Agrícolas que se vai celebrar, e aí o meu primeiro erro, não em Compostela, senão em Madrid. Também está errada a data, 1857 e não 1851 como aparece no livro. Prometo corrigir isto se   há uma segunda edição.
A modo de compensação, achego algum dado mais que pode ser de interesse para os estudiosos da flauta.
Um ano mais tarde da expo de Madrid, celebra-se em Compostela a Exposición Agrícola Industrial y Artística. Valladares vai ter um grande protagonismo nesta mostra, achegando muitos frutos das suas propriedades de Vilaencosta. Junto aos produtos agrícolas, também havia artesanatos, com um pequeno mas interessantíssimo conjunto de instrumentos musicais.
Manuel Garcia de Oca, do lugar de Rio Bô, apresenta uma flauta de ébano com chaves de prata. Tomou como modelo a de Sérgio Valladares que ainda hoje se conserva na casa petrucial de Vilancosta?
A informação que nos dá o Catálogo metódico de los objetos exhibidos en la esposición sobre o resto dos instrumentos é muito importante, já que se nomeiam materiais, algum detalhe de carácter organológico e o nome dalgumas pessoas que podem ser construtores ou simplesmente os donos dos instrumentos.
Procedentes de Compostela, Antonio Bergaña, expõe um violino de nogueira e pinheiro embutido, Domingo Villar, uma guitarra inglesa, Urbano Anido, um realejo de cilindro, Severino Pérez, um malvisto (sic), piano harmónico. Desde Lalim, Andrés Nóvoa,  uma zampoña (sic) com registro de flauta.
Algum dos nomes que aparecem aqui são de artesãos de grande renome, mesmo nalgum caso, como o de Severino Pérez, um velho amigo meu.
Em El fomento de Galicia, na altura da Expo compostelana, aparecia a seguinte coluna:

«Don Severino Pérez, hijo de Cotovad en la provincia de Pontevedra, y alumno de literatura en esta universidad, acaba de inventar un instrumento músico que puede rivalizar dignamente con los pianos mas completos. El invento ha llamado la atención de los hombres mas notables de esta capital, entre ellos el célebre violinista don Hilario Curti, quien despues de haber ejecutado con maestría varias piezas en el nuevo instrumento, tributó mil elogios al escolar artista.
La forma del "Malvis", que así se llama esta reciente obra del genio, es la de una mesa regular; en su frente descúbrese el teclado, y el interior contiene, á manera del olvidado tímpano, tres órdenes de cristales que producen dulcísimos sonidos cuando los hieren una porción de martillos colocados con notable artificio, y que constituyen la esencia de la invención.
El artista ha dirigido al señor Zepedano, alcalde de esta capital y presidente de la sociedad económica de amigos del pais, la adjunta solicitud, pidiendo la cantidad que ha creido necesaria para la constucción de un "Melvés" digno del público que concurra en julio á la esposición compostelana. No dudamos que el Sr. Zepedano, en unión con las corporaciones que preside, sabrá dispensar al talento la protección á que es acreedor.
El señor Pérez debe enorgullecerse con el producto hermoso de sus desvelos: el laurel de las artes el el que mas ennoblece la frente de los hombres; el artista arranca á la naturaleza sus arcanos, y dice generosamente al mundo, á quien regala sus conceptos: "toma; esto es mi obra".
Felicitémonos: Galicia despierta al fin! Así nos lo prueba esa porción de sucesos que estamos presenciando; así también esa emulación noble que se observa entre sus hijos, y que concluirá por dar á nuestra pátria el esplendor y la gloria de que es digna». El Fomento de Galicia, Ano I, Nº 25, Quarta feira, 14 de Abril de 1858.

Severino Pérez Vázquez é uma personagem fascinante, inventor de artefactos com aplicações musicais como o próprio malvis, o tecnefone ou a vocalina. Oxalá que alguém, algum dia, escreva a sua biografia.
Outro dos nomes importantes é Urbano Anido, ebanista da rua do Hórreo, que bem a confirmar como muitos destes instrumentos singulares provêm de luthieres ocasionais. Neste caso, isto é apenas uma hipótese, suponho que a oficina de Anido compraria o mecanismo e, em realidade, da sua autoria, só seria o móvel.
Outro dos instrumentos mencionados é a zampoña que achega Andrés Nóvoa, mas a que objeto denomina este termo? O mais fácil é pensar numa flauta pastoril, quiçá de cana. Trata-se dum pito? 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

nº 127 Opúsculos das Artes.


Em parceria com aCentral Folque e coa colaboração da Pró Academia Galega da Língua Portuguesa, Ilha de Orjais acaba de botar ao mar um novo barco com rumo incerto mas muito esperançoso. O dito navio chama-se Opúsculos das Artes, e pretende ser uma revista digital de descarga gratuita que porá a dispor de toda a comunidade aqueles documentos  que consideramos de imprescindível consulta.
Está alojada no portal de descargas de aCentral Folque: http://commons.folque.com/
No mesmo apresentámonos da seguinte forma:


Opúsculos das Artes é uma revista de achegas, de graça e em suporte digital. Disponibilizaremos documentos sobre as diferentes disciplinas da Arte Galega que até hoje estavam desaparecidos, ignorados ou invisíveis entre os inúmeros objetos das bibliotecas, arquivos e museus. Opúsculos das Artes nasce da vontade de aCentral folque e do blogue Ilha de Orjais de fazer divulgação desses documentos, considerando que devem ser de fácil acesso para investigadores e para o público em geral. Publicaremos um mínimo de dois números por ano, com contidos que tenham a ver com as diferentes disciplinas artísticas como a música, literatura, fotografia, pintura, etc.
Em definitiva, Opúsculos das Artes é também uma revista cooperativa, que deve nutrir-se do trabalho solidário dos investigadores, tendo como princípio básico a retroalimentação e colaborando na construção duma comunidade científica galega documentada e solidária.
O primeiro volume de Opúsculos das Artes está dedicado à figura do artista plástico e músico Isidoro Brocos (1841-1914), autor duma das obras mais formosas da escultura de costumes galega: O Velho da Sanfona. Da leitura dos textos em torno a esta pequena peça de barro, demos com um rico caudal de documentos sobre a música tradicional da Galiza, entre os que sobranceian os magníficos planos duma sanfona de 1909.
A vida dos Brocos, Isidoro e Modesto, daria para vários monográficos, e quem sabe se voltaremos a eles em futuros números dos Opúsculos das Artes, mas este primeiro dedicado à Sanfona de Isidoro Brocos entendemos que é um belo exemplo do que queremos seja a nossa revista.
Na mesma plataforma podes descarregar o livro do meu amigo e produtor dos Opúsculos das Artes, Ramão Pinheiro AlmuinhaA la Habana quiero ir. Los gallegos en la música de Cuba.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

nº 120 Para uma historiografia da sanfona.


Um dos meus centros de interesse neste momento é a figura do sanfonista desde um plano não estritamente biográfico ou do reportório, o mais frequentado nos nossos tempos, senão questões paramusicais, da representação, técnicos, etc. Considero que falta uma interpretação profunda da historiografia existente e que a documentação recuperada foi exposta com certo descuido; deslumbrados pelo dado superficial, esquecemos apurar toda as respostas.

A investigação documental não deve esquecer as achegas gráficas, venham duma nova de jornal, a ilustração dum livro ou duma figurinha de presépio. O nosso discurso terá coerência, só se somos quem de relacionar todas estas fontes de informação, conhecerem o grau de verosimilitude das mesmas e, finalmente, tirar conclusões históricas. 

Sobre a sanfona e os sanfonistas há toda uma nebulosa de opiniões e pareceres pelo que quase haveria que falar de sanfonismo, aludindo ao conceito de folclorismo tão amplamente desenvolvido por Josep Marti.

Nos últimos tempos estou a pôr baixo a lupa, ou quase melhor ao microscópio, a documentação que durante tantos anos estivemos a manejar sobre o instrumento da roda e do beu. Figuras como a de Faustino Santalices cobraram para mim uma nova dimensão quando comecei a considera-lo como uma personagem criada por si próprio e o principal responsável do construto sanfonil no que hoje nos movemos.

Em breve aguardo se publiquem novos trabalhos nos que ponheremos em circulação informação novidosa e no que ficará bem ilustrado alguma das ideias que acabo de expor. Agora só quero falar de dois documentos que me impressionaram muito.


Na página da wikipédia referente ao verbete organistrum:
http://es.wikipedia.org/wiki/Organistrum podemos ver um detalhe dum dos conhecidos quadros do cego da sanfona de de la Tour.





O criador do artigo da Wikipedia destaca a precisão com a que o pintor francês desenha os papelinhos e os algodões protetores das cordas. Resulta muito emocionante ver este recurso de sanfonista plasmado num quadro pintado no século XVII. Mas há outras coisinhas interessantes: a postura que adota o cego com um pé apoiado num tijolo, a mosca (mousche) sobre o guarda-pó e a magnífica postura das mãos colhendo o béu ou digitando o teclado.

Mas o documento que mais me tem impactado nos últimos tempos é o magnífico artigo de Xulio Alonso Sánchez (27/05/1859 Lugo; ?/01/1916 Cangas do Morraço) publicado em A Monteira, Nº 14, 4 de janeiro de 1890, pp. 106-108. No contexto duma boda de aldeia aparece uma sanfonista com a sua lazarilha. Vai-se introduzindo no convite até se converter na autêntica protagonista. A descrição da performance é extraordinária, das características próprias do ofício, feita por alguém que deveu ser espetador das atuações duma destas músicas cegas. Se não conhecias o texto, desfruta dele como eu desfrutei.

Unha boda

Xa sán d'a irexa. Diante ven a noiva co a madriña, dempoil-noivo c'o padriño y-a traseira váreos mozos e mozas, amigos y-amigas d'as famíleas, por certo algús d' eles marmulando d'a cara que puxo marica, qu'est' é o nome dá moza casadeira, cando lle tocou dal-o si, namentras qu' outros miden c'os ollos o ancho d'o terceopelo d'a manti-lla larga qu' ela leva, ou arroparan-os pindientes y-o sapillo que loce n-as orellas e n-a gorxa.

N-o adro aspéran-ô cortexo moita xente. Us por curiosidá y-outros levados ¡quen sabe! por outros sentementos, e non faltan rapaces debecidos, que se chusgan d' ollo, nin tampouco quen s' entreteña en votarll'o cont'ô que levan-os mozos d'a noite.

Moita trafega hai n-a casa de Manoel de Xanciño, pai de marica e donde vai sel-a boda. Cadra n-o Carnaval y-alí non falta nada. matous'unha xata, qu' estaba encortellada dende fai tres meses, dous carneiros d'o fumeiro, baixous'un pau de longaniza y'hai tamen unha froumada de miudos de cocho, como lacón, dent' e barbada, non faltand'o arroz con leite.

Todol os pistos están en cazolas e n-un pote ô redor d'un gran lume feito n-a lareira, e n-o que arde médea carretada de garrochas. ¡Que bouréo! Hastr'os homes se meten a cuciñar. Algun hai que xa ten-os dedos untados de pemento, y-outros quentan-a badila pra dourar logo co-ela os pratos d'arroz, qu' están postos en gorde en-riba d' unha gran artesa. As mulleres, que non lles gustan estas maricadas, están que rabean.

A eso d'as doce sob'ô piso a Tia Xacinta ou Xinta, que por calquera d'os dous nomes responde, saca d' un almáreo un gran mantel y-entr'ela y-a madriña, xuntan dúas mesas e cóbrenas logo co el, baleirando enriba unha cesta chea de pantrigos e colocand'os xarros de viño, que pol-o barrigudos ven pod' aventurarse leva cad' un d' eles médeo canado.

Van chegand' os convidados, parentes d' unha y-outra parte, montados en égoas, dás que hai pol-o menos vinte n-a cadra xa.

As mulleres van dreitas â enciña, y-os homes danll'a tarabela (lease língoa) n-a aira. Quen lle vota ditos churrusqueiros ôs noivos, quen fala d'o ano e d'a cosecha e todos pensan mais ou menos sacal-a barriga de mal ano, quentándos' os cangos.

Xa está a mesa posta y-a madriña vaixa e vai pol-os corros chamando â xente pr'a xantar, e xa arriba, sentase po-lo gorde siguente: o Crego y-a madriña, de cabeceira, sig'a noiva, dempois os mais achegados y-os parentes d'a familea. Esto â dreita, a ezquerda d'o Crego pons'o padriño, o noivo, un tio d'este, úneco parente que tén, o patrón d'a casa y-os demais achegados. Xa están, pois, todos acomodados e comenz'a comida pol-o caldo de cimos, qu' abofellas ten unha tona de catro dedos, siguindo logo as tarteiras de carne, qu' asomellan serras pol-o grande, moitas e cheas que veñen. Alí hai pra todol-os gustos: o bon dente, que parez sandía pol-o rúbio, a cachola etc. Un brinca qu' un lacón, que n-un dicir ¡Xesús! deixô posto en anacos; outros pasan-as cacholas pr'os maores, non s'esganen c-un oso os rapaces y-o partil-a longaniza, salt'o moao... que da grórea. Mais alá outro hai que folguex'ô devidir médea perna de xato, e todos, o que mais o que menos porparanse pra dar que facer ôs dentes. Por soposto, o pirmeiro prato y-a millor tallada son pr'o Sr. Abade, que por certo non se fai de rogar.

Os homes tiran unhas fumadas entre prato e prato, trafegas'o viño que da xenio e xa a xente vai quencendo y empeza haber foliada. Us tíranse rafas de pan, outros, ledos como tolos, non lles coll'o pan n-o corpo nin acougan sin facerlles picardías âs rapazas y o final quimas'unha gran fonte d'augardente con viño, rapartindos'entre todos.

Empezan a sail-os contos, algús non de moi boa lei, bríndase pol-o padriño e Xosé d'Outeiro apert' ò Sr. Abade pra que fale.

Este, qu'está colorado e riseiro, dícelle: non faltará a miña palabra, qu'ha de ser d'o agrado de todos, como é o casamento qu'estamos celebrando; pro antes divirtídevos rapaces, e sobre todo, que sall'o padriño â currada, onde deben estal-os d'a rúa, pois eu sinto aturular. 'O qu'o aludido responde: boeno, veña logo un xarro e vasos y-alumádeme.

Sai o tal â portada, ond'está a mocedá d'a parroquia, envoltos en xergas ou mantas e beiland'o son d'a zanfona que toca unha cega a quen c'os ferrillos acompaña unha rapaza. O padriño envorc'o xarro n'os vasos, métese n'o corro dó baile ofrecendo viño, que n'un instante s'espabila, mando logo por outro xarro, ind'os rincullos, onde non todos queren beber é ser vistos, y-hastr'apagan-o candil tapándose moi ben.

Feito este deber dó padriño, que de non cumpril-o sería un porco, a cega pergúntalle si lle dá licéncea pra subir. Non se fai esperal-o premiso, subindo aquela ô cuart'onde rebrinc'a xente ainda n-a mesa.

-Boas noites teñ'a xente d'esta casa, dí a rapaza d'a cega.

-Boas noites, dí tamén a cega, de a todos e que Dios entr?aqui pra ben d'a famílea.

Séntase logo n-un taburete e pons'a tempral-a zanfona, mentral-a rapaza, qu' é unha laberca, votall'unha ollada á canto hai drento d'a habitaceón, porparándose pra leval-o compás co-a pandeira e falar ô ouvido d'a cega.

Os convidados, que xa tiñan-o viño n-o faiado, poñens'a berrar, dicindo: «vaia veña unha cantiga pronto», y-a cega empeza c'un cantar médeo gallego e médeo castillano:

«Vivan el novio y la novia,
el cura que los casó,
los padriños, la madriña,
los convidados y yó.»

Ben, ben, dicen â unha; outra, outra.

A d'a pandeira vólvenll'a falar â cega ó ouvido.

-Ahi vai, dí a d'a zanfona:

«Vivan el novio y la novia,
dios los degue prosperar,
que al cabo d'algunos meses
tengan ya de bautizar.»

Asi me gusta, din os mais feros, d'esas, d'esas, que tamen lle gustan ô padriño.

A cega, que sigue toca que te toca, dí estonces: -Ahora vai co él:

«Estou mirand'o padriño
qu'está xunto d'a ventana,
ten o bolsillo ben quente
e boas vacas n-a cabana.»

Todos rin a quen mais ô vel-o inxéneo d'a cega, pro deteñens'ô ouvir que vai encomenzar outra;

«A madriña, qu'está enfrente
mira pra el que da grórea,
queira Dios qu'hoxe nun ano
lle cantemos n-a súa boda.»

Volven todos á festexal-a saída d'a cega, quen moll-a palabra c'o viño que ll'ofrece o padriño, dempois d'o que sigue votando copras a todos, fin faital-a y-ama d'a casa, a quen ll'adic'a siguente:

«A Tía Xacinta está leda,
y-a cousa non é pra menos,
qu' acomodou a súa filla
n-a casa dond' hai torreznos.»

Vai a cega xa moi esganada de tanto cantar e ben lle ven que n'un entermédeo a leven pr'a cuciña, onde cura a laceira qu'a afrixe.

Entramentres, as rapazas convidadas van sacand'os regalos e poñendo á noiva os panos un enrriba d'outro. D' estonces o padriño, qu' é rumboso, ô ver a súa afillada tan engalanada, tirand' un peso n-unha roda sobr'a mesa, dí: «ahí vai pr'alfilleres.»

Outros dán o que poden.

Sando xa de noite, dispóñense â leval-a noiv' â casa nova, ou sexa a d'o seu home montan n-as bestas, e n-a que troug' o noivo, qu' é a mais arregrada, pons' a noiva y-o padriño. A madriña vai n'outra c'o noivo y-así n-as demais de dous en dous formando unha récoa, qu' aluman os mozos con facheiros feitos de palla.

Chegan logo â casa, ond' alcontran a céa porparada, que non desmerece d'o que foi a comida, e dempois de cear e colgarll'a madriñ' a rosca pol-a cabeza ô Abade e de repartir á cada convidado o seu pano de roscas, facend' outro tanto o padriño c-os cigarros, vanse dispidindo e votando cada un o seu riqulóreo de bendiciós, qu' así eu medre, que si todas lle can, han ter boas medas vellas, e...

o que queira saber mais, que vai' a escola.