domingo, 3 de março de 2013

nº 158 Alguma coisa mais sobre o gaiteiro Pepe Poceiro.


Em 2004 a empresa Ouvirmos dava conta da existência duma gravação do gaiteiro Pepe Poceiro efectuada em Madrid em 1905. É de supor que foi feita na viagem que o coral da Sociedad Artística de Ponte Vedra fez a capital do Estado, na sequência do quarto centenário da publicação do Quixote.

Existem muitas referências a esta viagem na imprensa da época, sendo um material valiosíssimo com o qual se poderia construir um relato verdadeiramente excepcional. Por enquanto, eu vou achegando pequenas informações, gulodices, não é?, no paladar dos amantes da nossa tradição.

O 12 de maio, no Ateneo, o orfeão interpretará o seguinte reportório:



«La Sociedad Artística de Pontevedra celebrará hoy viernes, por la noche, una velada musical en el Ateneo de Madrid, con el siguiente programa:

1º Alborada del siglo XVI, por la famoso gaitero de Geve, José Poceiro.
2º Alalás de la Ulla, Rianjo y montañas de Cervantes.
3º Canto de Nadal, por el coro, con acompañamiento de gaita, bombo y tamboril.
4º Marcha procesional de las tarascas, por el gaiteiro.
5º Romances de Bernaldino y A flor da yagoa, por el coro.
6º Jácaras de Santa Irene y O cego, por el coro.
7º Parrafeo de Rufina hermosa por el coro.
8º Muñeira antigua, por el gaitero.
9º Alalás de Ponte-Arnelas y Oca.
10º Foliada montañesa, por el coro, con acompañamiento de gaita, tamboril y bombo, conchas y ferriñas.
11º Himno da la batalla de Puente-Sampayo, por el gaitero.
12º Danza de espadas galaica, ejecutada en el hemiciclo por 16 danzantes vestidos á la usanza tradicional.»
El liberal. 


Prudencio Landín, diretor do Diario de Pontevedra, era  por sua vez presidente da Sociedade Artística. Da pena de Landín hão sair alguma das melhores crónicas sobre a sociedade da capital do Leres, como as que se recolhem no seu muito interessante livro De mi viejo carnét. Mas como protagonista que foi da viagem do 1905, também dele se contou alguma anedota muito boa, como esta a duo com o gaiteiro de Xeve:



«Entre los números del programa de los celebrados en Madrid, figuraba un concurso de cantos regionales, que debía tener lugar en la Plaza de Toros.
El Orfeón de la Sociedad Artística encontrábase entonces en la capital de la monarquía, tomando parte en esos festejos.
Además de la Danza de Espadas de la que ya hemos hablado, nuestro Orfeón había formado también un Coro de cantos regionales, con su correspondiente gaitero, bombo y tamborilero.
Tanto la Danza de Espadas como este Coro, dirigialos artísticamente el malogrado Víctor Said Armesto y presidialos, lo mismo que el Orfeón el culto abogado don Prudencio Landín.
El bombo y el tamboril tocábanlos dos orfeonistas, que vistiendo cirolas y pucha, hacían maravillas con el mazo y los palitroques en los respectivos instrumentos...
El aplaudido Pepe Poceiro, era el gaitero.
Este nunca había salido de Pontevedra. Llegado el día del concurso, nuestros coristas y danzarines se dirigieron a la Plaza de Toros madrileña, aclamados por los gallegos residentes en la Villa y Corte, que locos de entusiamo al oir las melodiosas notas de la gaita y el melancólico eco del a-la-lá, no cesaban de aturuxar, gritando: ¡Terra a nosa! ¡Ei, carballeira! ¡Ard o eixo!
En medio de estas aclamaciones, llegaron los pontevedreses al circo taurino, encontrándose allí con millares de personas que pugnaban por entrar en la Plaza.
Los de la Artística intentaron romper aquella muralla humana que los cerraba el paso; pero convencidos de que sus esfuerzos resultaban inútiles, optaron por rtirarse a un lado, esperando que la enorme avalancha de gente disminuyese.
La Guardia civil a caballo maniobraba con cuidado, para mantener el orden sin causar desbracias.
No se sabe si debido a que el Guardia picó con la espuela al animal o que las moscas no le dejaban tranquilo, [...] que el caballo levantó una de sus patas traseras, rompiéndole el tamboril al orfeonista, y arrancándole al mismo tiempo el fleco de la gaita a Pepe Poceiro.
El orfeonista calló; mas el Poceiro al ver su gaita desnuda, no pudo contenerse y asustado, lleno de espanto, dirigiéndose al señor Landín, exclamó: ¡Vámonos pra España don Prudencio, vámonos pra España!
Don Prudencio Landín se sonrió, pensando si Pepe Poceiro se creía en aquel momento que estaba en África.» DIARIO DE PONTEVEDRA, 22-09-1923

O autor da crónica, um tal Errante, confunde alguns termos, por exemplo o de que Said Armesto era o director artístico. Victor Said estava em Madrid, isso sim, quando a viagem dos coralistas e possivelmente foi um dos armadanças, junto com o político González Besada, que fez possível a tourné.

Muitos anos depois, em 1947 aparece no jornal Ciudad, uma entrevista a Benito Poceiro, herdeiro da oficina e do ofício do seu pai. 

- ¿Cuánto tiempo hace que comenzó su industria?, preguntamos.

- La empezó mi padre hace cuarenta años. Después fué a perfeccionarse a una fábrica de acordeones en Estradella, pueblecito italiano, donde adquirió conocimientos suficientes para modificar y mejorar la artesanía de los instrumentos.

Asombrados de no encontrar en el taller una sola máquina, preguntamos a Benito Poceiro, que nos responde:

-Antes de la guerra habíamos pedido a Alemania las máquinas precisas para la construcción en serie de los instrumentos. Pero estalló el conflicto mundial y nos vimos obligados a proseguir haciendo los acordeones a mano, desde la caja de resonancia hasta la última lengüeta.

Mais adiante, na entrevista aparece um dado que para mim é sempre de grande interesse, o do preço dos instrumentos.

- Un acordeón hace quince años podría costar unas 1.500 pesetas. Actualmente vale 7.000. El aumento de precio es producido más por la escasez de instrumentos que por el alza en el coste de los materiales con que se construye.

Termina a entrevista com uma bonita referência para gaiteirómanos.

-Y para terminar voy a preguntarle algo que escuché en casa desde niño: ¿Es cierto que las lengüetas para gaitas, hechas por su padre se diferenciaban de las demás por la manera especial de construirlas?

-Cierto.

-¿Podría decirme que diferencia de construcción existía entre ambas?

Benito Poceiro calla un momento y cuando ya estábamos en la puerta, nos responde.

- Eso es secreto profesional.

Se fazemos caso aos dados recolhidos na imprensa, Pepe Poceiro abandonaria o ofício de gaiteiro em fins dos anos 20, para centrar-se na construção de instrumentos. Antes, em maio de 1921, dá-se conta da sua entrada no coro pontevedrês Foliadas e cantigas. Quiçá foi nesse intre, no que deixa as alvoradas, que decide fazer a viagem de aprendizagem a Estradella, na Lombardia italiana. Eu não tenho aprofundado muito na vida dos construtores galegos de instrumentos mas o fato de que na Galiza anterior a Guerra Civil um gaiteiro/artesão pontevedrês acordara ir a Italia a aperfeiçoar o seu ofício, parece-me um dado muito a ter em conta. Estradella é uma vila famosa pelos seus construtores de acordeão e serão os investigadores deste instrumento os que possam dizer até que ponto existe uma relação certa entre os poceiros e os acordeões lombardos.

Para rematar, quero expressar a minha mais absoluta admiração por este indivíduo, José Poceiro, que teve uma existência verdadeiramente rica em acontecimentos e que deixou impresso o seu apelido nas páginas douradas da história da nossa tradicionão. Quando era menino adorava escutar o acordeão de Rogelio o Coxo na Arousa, o qual contava que os grandes acordeonistas conhecem-se no bem que manejam a mão esquerda. Gostava tanto de aquele homem e daquele som que ficava parvo olhando para as letras feitas em marcheteria colocadas na caixa do seu instrumento: Poceiro.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

nº 157 Gaiteiros com pistola.

A hemeroteca sempre nos achega notícias bem curiosas. No final do século XIX e nos primeiros anos do XX, em Ponte Vedra e arredores, junta-se um grupo de gaiteiros ilustres entre os que destacam Manuel Villanueva, de Poio, Juan Tilve Castro, de Campanhó, e quiçá um menos conhecido hoje, mas igualmente popular na sua época, José Poceiro, de Xeve. Em 1905, o orfeão da Sociedad Artística de Ponte Vedra viaja a Madrid para participar nos atos do centenário da publicação do Quixote. O elenco de sessenta e cinco vozes é acompanhado, nesta ocasião, pelo gaiteiro José Poceiro. A viagem acontece em maio. Uns  meses antes, em 1 de outubro de 1904, aparece um breve no diário pontevedrês La correspondencia deste teor: «Regresando días pasados de una feria, los vecinos de Geve, José Poceiro Maquieira, de 21 años, y Manuel Garcia Chenlo, ámbos de oficios labradores, promovieron una reyerta intentando el primero disparar un revólver contra el segundo, hecho que pudo evitar la intervención de varias personas.»

Só uns meses mais tarde, o 8 de março do 1905, o duo José Poceiro e Manuel García vai-se ver envolto no que será qualificado pela prensa como o Crime do Leres. Os feitos foram mais ou menos assim: durante as celebrações do Entrudo na aldeia de Castelo, Leres, um grupo de pessoas afetadas pelo consumo abusivo de álcool, começam a brigar na taberna de Juan Magdalena. Os moços Juan Pintos e Manuel García, acusam-se de ter-se dado um pisão no percurso do baile que se estava a realizar no seu interior. O García era cunhado de José Poceiro que naquele momento estava amenizando o baile tocando uma guitarra, segundo as primeiras averiguações, ainda que depois se soube que em realidade o instrumento tangido era um acordeão. O caso é que Poceiro soltou a sua ferramenta de trabalho para pegar num pau que descarregou sobre a cabeça do infortunado Juan Pintos. O taberneiro procura calmar a malta, mas vendo que isto é impossível resolve bota-los a todos fora. Situado detrás da banca, recebe um disparo cerca das têmporas do lado direito. Às poucas horas, Juan Magdalena falece na sequência da fatal ferida. O juiz de instrução Sr. Portas, comparecente no lugar dos feitos, detém a seis pessoas, entre as quais os principais acusados, Esteban Rey, proprietário da arma criminosa e Faustino Lorenzo. O 30 de setembro desse mesmo ano tem lugar o juízo com jurado na audiência provincial baixo a presidência do Sr. Bermúdez de Castro. A Esteban Rey Pontevedra pedem-lhe 14 anos e oito meses, costas e 2000 ptas. para os herdeiros do falecido. Na sua defesa declara: «Habiendo tomado la refriega aspecto serio y queriendo evitarlo el procesado salió á la calle y desde ella disparó por la puerta que estaba abierta y sin hacer otra puntería que al techo de la casa con una pistola de dos cañones que llevaba, para ver si consgue de ese modo apaciguar los ánimos de los contendientes y aun cuando disparó un solo tiro sin hacer más puntería que la referida, quiso la fatalidad que por variación del pulso efecto del estado nervioso en que se encontraba, fuese el proyectil á herir al tabernero con el cual no tenía resentimineto de ningun género el procesado produciéndole desgraciadamente la muerte[...].» Trás breve deliberação o jurado declara ao acusado, inocente. 

Pode parecer desmedido que José Poceiro fique envolvido nalgum outro caso delictivo, mas o 20 de novembro de 1913, José Desiderio Portela Iglesias, um moço de 18 anos, natural de Barbeito, Cotobade, entre na relojoaria de D. Claudio Sotelo e subtrai da caixa 250 pesetas. Com o fruto do seu latrocínio acode a oficina de José Poceiro e compra uma gaita pela que paga 125 pesetas. Também deixou pago um bombo e uma caixa que aguardava recolher o 6 de dezembro. Conta a crónica que Portela comprou, além do instrumental, um revólver e regular quantidade de tabaco. Foi detido às poucas horas. 

 Todos estes dados saim das crónicas da época, tudo aponta que são dados certos, salvo erros tipográficos ou do jornalista que transcreveu a crónica. Portanto, após a exposição do acontecido, ocorre-se-me lançar alguma pergunta e também, de passagem, alguma reflexão. 

 1. O José Poceiro do altercado do 1904, 1905 e 1913 é a mesma pessoa? 
 2. Trata-se em qualquer caso do famoso artesãode gaitas e de acordeões? 
3. José Desiderio Portela Iglesias será parente do Ricardo Portela, também natural de Cotobade?
4. Graças ao caso Portela sabemos que em 1913 uma gaita custava 125 pesetas. 
5. Que pode levar a um homem a roubar uma joalharia para comprar uma gaita? 
6. A crónica não desvela onde comprou o revolver o José Desiderio Portela Iglesias. Desejaria que não fora na casa do Poceiro.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

nº 156 Um gaiteiro na fachada do Paço de Rajoy.




Não sei as vezes que olharia esta fotografia do Batalhão infantil na praça do Obradoiro, tirada em 1912 pelo fotógrafo Manuel Chicharro Bisi (1849-1924). Dá-me arrepios ver tanta criança ataviada de soldado, com as suas correias e quepes, firmes com os rostos olhando para a Sé compostelana.
Tão pouco engraçada me pareceu sempre esta foto, que nunca a olhei com o interesse que deve pôr um bom documentalista. A semana passada, repassando Galicia en blanco y negro de Ramón Pernas, Xosé Enrique Acuña e José Luis Capo, ed. Espasa; Madrid, 2000, encontrei-me novamente com a instantânea de Chicharro e cai na conta que na parede direita do primeiro vão das galerias do Paço de Rajoy há um cartaz. É difícil de distinguir, mas ampliando a foto vê-se bem que era o que anunciava.


É evidente que se trata do desenho que Castelao fiz para as festas do Apóstolo de 1912. Esse foi um grande ano para o artista rianjeiro, já que expõe em Madrid, no salão Iturrioz e em outubro casa com Virginia Pereira. Como se pode ver no gráfico, o desenho da parede e o da imagem a cor têm o mesmo motivo, um gaiteiro com a silhueta das torres ao fundo, mas não estão as colunas que suportam o arco e a grinalda. A imagem a cor, vem referenciada, aliás, como o programa de mão das festas com um tamanho de 33,2x23,4 cm. A foto de Chicharro amossa um papel de grandes proporções, calculo que de 100x140. Eu nunca vi uma imagem deste cartaz, e nem sei se existe. De momento conformo-me com saber que um dia houve um grande lençol com um gaiteiro pintado por Castelao no Paço de Rajoy. O atual presidente da câmara municipal de Compostela colgaria hoje um desenho do grande rianjeiro na fachada do consistório? De ser assim eu recomendaria-lhe aquele que diz: Mexam por nós e temos que dizer que chove.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

nº 155 A Ilha de Arousa no NO-DO


Estou começando a trabalhar com as imagem do NO-DO que já se podem ver na web de RTVE. As da Arousa em 1951 são breves mas fantásticas. Tal vez sejam as únicas imagens duma fábrica de conservas carcamão em movimento. Agora haveria que procurar identificar pessoas, lugares... ou simplesmente desfrutar dum paraíso perdido, o da nossa insularidade.



sábado, 19 de janeiro de 2013

nº 154 O Sillón dos Moros.

Ser profe nestes dias resulta bem durinho, mas, de vez em quando, acontece alguma alegria. Ontem, duas crianças de sexto, Marcos e Alonso do Aranho, disseram-me que cerca da sua casa, havia um rochedo chamado O Sillón dos Moros, um lugar ao que gostavam de ir nas suas expedições pelo mato. Ao escutar o nome soube que naquele lugar tinha de haver algo bom e perguntei-me como até agora não soubera da sua existência. Tenho que dizer que desde que lhes escutei falar do lugar fiquei preso pela ansiedade de ir lá, olhando pela janela se a ciclogénese ia embora e deixava raiolar o sol.
Hoje, ao meio-dia, enviei um correio ao amigo Carlos Collazo por ver se vinha comigo e a resposta foi imediata. As quatro e meia, aproximadamente, púnhamos rumo ao Sillón dos Moros.
Seguimos todas as indicações de Marcos e Alonso, que resultaram ser singelas e precisas, sem nenhuma possibilidade de perda. Depois de passar o centro cultural da Capela subimos cara ao monte pela estrada até colher uma pista repleta de caçadores. Baixo fogo amigo, ou quando menos essa era a nossa esperança, fomos caminhando sem ter muita certeza de estar pelo caminho certo. Quando já começávamos a duvidar, vimos um homem e a sua espingarda encostado a um 4X4, assim que decidimos achegar-nos a ele para lhe perguntar. Foi desnecessário. A poucos metros vimos uns cons que formavam um balcão ao rio, como pendurados a um vale de aparência glacial formado por um rio entre duas montanhas.
Nesse instante o Carlos e mais eu olhamo-nos para disser a um tempo:

- É aí.

Comecei a tirar fotos e uma vez mais comprovei o difícil que é transmitir em imagens estáticas o que vemos na realidade. O promontório vê-se desde o caminho como uma espécie de grande mámoa com um acesso lógico pelo que te vai levando a senda que se abre entre os cons. Teve a sensação de que o chão está todo ferrado de pedra [foto 1], quiçá o refugalho dos pedreiros ou quem sabe...


 
 foto 1

Para chegar ao Sillón entra-se por uma plataforma entre dois cons redondeados [foto 2] que vem sendo como o pórtico ao grande monumento paisagístico. Sempre gosto de lembrar que os galeguistas do manifesto de Lugo incluíam a defesa da paisagem na sua estratégia para lograr a soberania estética da nação galega.

foto 2

Depois deste primeiro patamar, descemos por um canal [foto 3] perfeitamente traçado que leva directamente ao Sillón.

foto 3

O Sillón dos Moros [foto 4] é exactamente isso, um cadeirão de pedra, com o seu espaldar e umas maravilhosas vistas aos montes da redonda, os mais próximos o Cerqueiro, o monte do Aranho, o Treito... Também se vê algo da ria e os picos dos altos montes barbações. Magnífico. 
A pedra em questão é branca, destacando no meio do mato, mesmo no conjunto pétreo, tendo no assento umas caçoletas pequenas.

foto 4

Sentado na pedra fiz esta instantânea [foto 5] que, como disse, apenas dá uma ideia da sensação que um sente ocupando tão privilegiada atalaia.

foto 5

O lugar merece visitas mais demoradas que com certeza serão dadas proximamente, mas uma vista de olhos rápida e arriscada, os disparos dos caçadores cada vez soavam mais perto, permitiram-nos descobrir alguma coisinha de interesse.
Eu gostei imenso duma pedra [foto 6], novamente esquisitamente branca, com duas pias cumpridas e comunicadas semelhando como algibes feitos de propósito para reter a água. Ainda que na foto pareça pequena, a pedra é de consideráveis proporções.

foto 6

Como não podia ser doutro modo, os graffiteiros do passado deixaram lá também a sua marca. Quando voltemos faremos uma descrição mais detida destas gravuras, mas por enquanto, fiquem estas imagens [foto 7-8].

foto 7
 
foto 8

Quisera, para concluir, fazer uma reflexão final. Nos anos que levo de mestre, cumpri em dezembro dezassete, venho observando como cada vez, os profissionais do ensino estão melhor preparados, mais especializados, com melhores recursos. Por contra, na minha modesta opinião, cada vez escutamos menos ao nosso alumnado. Sempre pensei que @s profes podemos ajudar aos noss@s alun@s a apreender algo, mas é de estúpidos não aproveitarem os ensinamentos que eles nos dão todos os dias. Tenho a impressão que nestes dezassete anos fui eu o aprendiz. Por certo, se eles me examinaram como eu os examino a eles, aprovaria?


P.S. Depois de publicado esta postagem recebi uma foto que me tirou o Carlos Collazo com o seu móbil. Acho que é a imagem que melhor transmite o que um sente nesse lugar. 

    

sábado, 12 de janeiro de 2013

nº 153 Por buscar um tesouro...

No concelho de Verim foram descobertas estelas funerárias tais como a do Muinho de São Pedro, que além do seu grande interesse arqueológico, resulta bem bonita para pessoas que como a mim a história nos entra pelos olhos (e pelos ouvidos). Lendo prensa antiga encontrei esta notícia que, perdoe-me o paisano do Espinho, resulta do mais cómica. Fica claro que se a avareza é perigosa, a arqueologia amadora não o é menos.
Aproveito para recomendar o artigo sobre o livro de São Cipriano do meu amigo, o culto advogado de Ourense, Felix Castro Vicente. 
Por certo, que seria da estela?

«Por buscar un tesoro

Una desgracia


En Espiño, pueblo del Ayuntamiento de Verín, hay una terrible monomanía entre el vecindario, crédulo y supersticioso, por los tesoros escondidos, que han de ser desenterrados por virtud del empecatado libro de San Cipriano o de otros mágicos conjuros y a fuerza de desembolsos y paciencia.
A algunos inocentes que antes eran allí labregos acomodados les ha costado ya una friolera la pícara idea de hacerse ricos por arte de birlibirloque.
Ahora nos escriben de allí dándonos noticia de un lamentable suceso de que fue víctima otro buscador de tesoros.
Dedicábase al laboreo de tierras en una finca de su propiedad cuando advirtió que la reja del arado que empleaba tropezaba con un obstáculo.
Suspendió la tarea, cavó, arañó la tierra y no tardó en descubrir una gran piedra, semejante á una lápida sepulcral.
Llamó en su ayuda a dos hijos que no lejos trabajaban y entre los tres levantaron la losa, que tiene, según dicen, particularidades curiosas.
Tratábase al parecer de los restos de una tumba que sabe Dios de que tiempo data. En la fosa abierta aparecieron algunos cacharros de barro cuya importancia está por determinar.
Se sobresaltó extraordinariamente el bueno del hombre. Se imaginó en presencia de uno de los tesoros del tiempo de los moros o de los de María Castaña con que sueñan sus convecinos y despidiendo a sus hijos y suspendiendo las faenas agrícolas puso manos decididamente al desentierro del hallazgo.
Trabajó con furia y la cueva fue ahondandose cada vez más.
Ni una moneda, ni una alhaja aparecería pero el labriego no se daba a partido. De pronto... la pesada losa que había quedado en alto, mal asegurada, rodó hasta el fondo del hoyo cogiendo debajo al infeliz.
A sus desesperados gritos acudieron varias personas que lo salvaron de una muerte cierta. Con todo, resultó con las dos piernas fracturadas.
Quizás haya que amputárselas.» La correspondencia gallega. 13/06/1905

Possível estela numa vivenda de Rianjo.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

nº 152 Uma molheira da Luftwaffe.

Em janeiro do 2010 escrevia alguma coisa sobre a história da simbologia fascista na Galiza (ver aqui), concretamente dos carimbos impressos na correspondência dum fabriqueiro arousão. A iconografia nazi produz certo estremecimento quando a temos tão cerca, entre as mãos, como se revivêramos os horrores que na altura provocaram os fanáticos alemães, sofrimento muito similar ao que hoje provocam outros fanáticos por causa duma ideologia, duma religião ou dum território.
Nos dias prévios ao Natal, fui ao Ferrol à casa familiar e um irmão meu indicou-me que olhara uma molheira antiga que a minha mãe guardava entre outras velharias. Ao dar-lhe a volta surpreendeu-me a marca da fábrica:


Trata-se duma peça de louça fabricada nos fornos de Plankenhammer, Floss Bavaria, tal e como se pode ler no emblema da firma.


O curioso da molheira da minha mãe é que junto ao emblema da marca Plankenhammer, aparece o da Luftwaffe, a águia imperial assegurando uma suástica. A cada lado da cruz gamada lemos FI. U.V., iniciais de Flieger Unterkunft Verxalting, uma marca de inventario da lufwaffe que vem a significar algo assim como «administração dos quartéis dos voos». Suponho que devia ser material do serviço em terra dos aviadores do exército alemão. 
A sopeira chegou à minha casa nos anos oitenta, na mala dum irmão militar que a encontrou no seu destino por terras espanholas. Outra caraterística da peça é a data junto a suástica: 1936. Neste ano, como é sabido, começava a Guerra Civil espanhola. Tal vez com esta baixela comeu algum dos aviadores da Legião Cóndor? Quiçá algum dos que deitaram bombas sobre Guernica? O dito,ter nas mãos esta peça de louça continua a produzir arrepios setenta e seis anos depois.