quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

nº 77 Polvo à moda da Arousa

De criança, lembro que havia na minha casa um exemplar de Cocina gallega [Madrid : Everest, D.L. 1982], de Álvaro Cunqueiro e Araceli Figueira Iglesias, deambulando livremente pelos andeis. Sabe-se que um livro de cozinha é difícil de colocar. Há que ser bem ordenado para fazer-lhe um oco entre tachos é panelas, assim que muitas vezes irá ocupar os espaços livres que fiquem entre enciclopédias, livros de jardinaria ou primeiros auxílios.

Cocina gallega, era para mim um volume bem engraçado. Em primeiro lugar por estar co-escrito por uma moça chamada Araceli. Eu só conhecia a uma pessoa chamada assim, a nossa Araceli, a minha irmã. Achava que era um nome único, criado para ela, com uma etimologia quase druídica: ara + caeli = altar do céu.

Outro dos motivos que me atraiam do receitário é que havia um prato denominado Pulpo estilo «illa», em referência evidente à capital do polvo na Galiza: a Arousa.
Já daquela muito patriota no que respeita a nossa terra, fiquei com o dado na memória até hoje que vi e comprei uma nova edição do livro referido na livraria compostelana Follas Novas.
A receita é a do polvo com batatas e alhada da que tanto gosto, quiçá o modo mais nutritivo e familiar de cozinhar o riquíssimo cefalópode.
Deixo-vos a receita aqui traduzida à nossa língua (o original está em castelhano), que assim apreendida, o prato há saber melhor.

Polvo à moda da Arousa

1 ½ quilogramas de polvo
6 batatas
sal
1 vaso de aceite
4 dentes de alho
2 colherada sopeira de pimentão

Lavar o polvo. Levar ao lume uma caçarola com água e, quando comece a ferver, deitar o polvo. Deixar uns 35 minutos e, se está tenro, acrescentar as batatas peladas e cortadas em troços grossos.
Quando se vaia a servir, retirar o polvo e corta-lo em rodelas com a ajuda de umas tesouras. Sazonar de sal e colocar no centro duma fonte, rodeado das batatas e coberto por uma alhada.

Acho que a receita verdadeiramente carcamã leva cebola, quando menos assim o prepara a minha mãe. Nesse caso é recomendável pôr a cebola picada no aceite frio para que não se queime, e aguardar a que colha temperatura. Depois continuar com a receita cunqueiriana. Já retirada a alhada do lume, acrescenta-se-lhe um copinho da água de cozer o polvo.

Uma última questão. Faz trinta ou quarenta anos, duvido muito que um homem ou uma mulher do Mar da Arousa, incluíra no seu galego coisas tais como merluza por pescada, calamar por lura ou pulpo, na vez de polvo. Infelizmente estes castelhanismos estão a converter em algo exótico os termos patrimoniais, até o ponto de que nalgum cartaz tenho lido Festa do Pulpo, frase que poderia pertencer ao galego metamorfoseado do Sr. Feijoo. Um bocadinho de higiene para a nossa língua, por favor.

Imagem tirada do blogue http://www.illadearousa.blogspot.com/

JL

8 comentários:

Anónimo disse...

O do cartaz sen comentarios. O Céltiga, a pesar do seu fermoso nome, sempre se caracterizou por empregar o castelán nos altofalantes do campo, na lotaria do nadal, na súa páxina web, en toda a cartelaría...

Xa no do polbo, non será que Cunqueiro se refería á Illa de Ons. Mirao ben, así é como se fai o polbo en gran parte do Morrazo, non sei si por influencia dos de Ons ou porque xa era costume de antigo. No Morrazo cando falan da illa, os da illa... refírense aos de Ons. Nós sempre fomos da Arousa, os da Arousa, aínda hoxe si vas a calquera porto da Ría, os vellos diranche a Arousa, o da Illa é de hai catro días. É certo que o polbo con patacas na nosa zona practicamente só se fai na Arousa, porque será?...

Saúde compañeiro. Moitos bicos para as túas mulleres, tamén para as da Arousa.

Anónimo disse...

Na miña casa tamén se fai con cebola e o que se bota co aceite xa morno é o pimentón, que se queima con facilidade. Tamén se lle engade a este mollo auga da cocción do polbo.

Anónimo disse...

Eu teño ese libro que ti dis. e a verdade que non o utilizo moito porque a maioria das receitas pois seinas de memoria. pero hay unha seman botinlle a man para facer unha receita que ten de licor de naranja. yo lo hize con mnadarinas pequeñitas de mi huerta y ahora a esperar un tempiño haber como saleu o experimento.bikiños feliz familia!

José Luís do Pico Orjais disse...

Obrigado pelos beijos para as minhas moças, serão dados.
Eu acho que com o da Ilha refere-se a Arousa, mas tanto tem. O caso é que o polvo deu fama a Arousa em toda a península. Para mim o interessante é seguir a pescudar na culinária carcamã pois diz muito sobre o nosso povo. Agora estou para publicar o prato rei para mim: as ameijas com unto. Este é um dos chamados pratos pobres, ao que podiam aceder os marinheiros mais modestos. Adoro este prato. Animo-te a compartir com nós a tua versão desta receita que certamente conheces.
Obrigado também pelo do copo de molho de cozer o polvo, que esquecera.

José Luís do Pico Orjais disse...

Obrigado Esther. Continuo a dever-te um CD de Leixaprén. Esta semana dou-lho aos meus irmãos Ara ou a João para que te chegue. Beijos.

Anónimo disse...

Moitas grzas neniño! non te apures, cnado poidas, ainda tes que acostumarte a cambiar pañales. ji. con amor todo se fai a que si?

Cando poidas es gustes a ARA teño a dous pasos da mmiña casa e si non como estou enfermiña e paso moito pola farmacia teñoas que ver quiera o non jajaja. ALEGROME DA VOSA VOLTA SIN PROBLEMAS. BIKIÑOS!

Esther.

Anónimo disse...

Se me olvidaba dicir que na miña casa miña nai tamen lle botaba cebola e que eu aunque non me guste nada o polbo aunque mo cubran de ouro non o podo nin ver, non me gusta ese sabor, non entendo como toleades tanto por el. pero bueno na miña casa teño que cociñalo de todas formas me guste ou non e sigo botandolle cebola.
en canto o que di o señor ou señorita anonimo de que solo na illa se fai o polbo con patacas non de de todo certo. sei que hay arredores de Vigo que xa de moi antiguo preparaban o polbo tamen asi.
O que si e dificil topar fora de arousa e o bocadillo de polvo tal como o fai o Saratoga, cando pides un bocadillo de polbo en outros sitios poñenche polbo a feria no medio do pan. e en outros miranche con cara rara. bocadillo de polbo?????pareze que les estas pedindo algo extraterrestre ajjajaaa. bikiños!

Esther

sito vazquez disse...

Según eu teño investigado, o polbo a Illa de Arousa non é o mesmo que o polbo a Illa. O polbo a Illa é o tradicional dos pobos mariñeiros, con patacas cocidas e allada. O polbo a Illa de Arousa, na allada leva cebola abondo. Velaí a diferencia.
Por outra banda quero ofrecerche os meus máis sinceiros parabéns pola "boa nova".
Un abrazo