domingo, 31 de janeiro de 2010

nº 78 Simbologia fascista.

O meu irmão Xoán introduziu-me desde bem pequeno no mundo da filatelia e todos os seus segredos. Comprou-me os primeiros álbuns, ensinou-me a descolar os selos dos envelopes, classifica-los, manipula-los, etc. Quando comecei a estudar na universidade, a minha colectânea ficou interrompida, custodiada no fundo duma gaveta na casa arousã da minha irmã.

Ontem teve a curiosidade de revisar aquele velho tesoiro feito com o desordem próprio dum cativo, e levei agradáveis surpresas.
Num lugar destacado da colectânea estavam algumas postais que foram remetidas a um fabriqueiro da Ilha de Arousa nos anos da Guerra Civil e da Mundial. Guardara aquelas cartas porque tinham carimbos com simbologia fascista que na altura me causaram grande impressão.
Visto com a perspectiva que dão os meus quarenta anos não deixa de surpreender-me pensar naquele menino colocando os velhos postais ao lado da série comemorativa do mundial de futebol do 1982.

O primeiro documento remetido por Centro Comercial Ramiro Caamaño López, representante da azeiteira malaguenha Moro, foi datada o 25 de Abril do 1939, poucos dias depois do final da Guerra Civil espanhola. No frente vemos um carimbo com os lemas do novo regime: Una, grande y libre e ¡Arriba España!.

No invés, ao lado do carimbo de Establecimientos Moro, o jugo e as setas franquistas, flanqueadas pelo fascio italiano e a esvástica de Hitler.



Oberkommando der Wehrmacht ou OKW era "a mais alta instância de planejamento e gerenciamento das forças armadas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial." Wikipédia.

A carta foi enviada desde Amsterdão em 1941, uma cidade ocupada, como todos os Países Baixos, desde 1940 pelo exército nazi. O texto da missiva é muito interessante por ser um intento de mediação para fomentar o comércio entre a Espanha da pós-guerra e a Holanda ocupada. Só como curiosidade, é lindo ver como o mecanógrafo teve certa habilidade para evitar palavras com ñ, uma tecla inexistente na sua máquina de escrever.

Por baixo da águia imperial e a esvástica, está carimbado em vermelho o rótulo da censura gubernativa de Vigo.


A primeira guerra mundial foi muito produtiva para as fábricas de conservas que exportaram a maior parte da sua produção com uma grande entrada de divisas. Por contra, a segunda das guerras mundiais colheu a indústria em plena crise, com uma pós-guerra que deixou uma grande carestia de lata e com grande parte da produção confiscada para consumo interior.
Temo-me muito que o intento do mediador holandês por abrir pontes comerciais deveu ficar em nada, mas a mim a águia e a esvástica segue a produzir-me os mesmos arrepios de quando menino.

JL

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