quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

nº 21 Sanfona

A Sanfona

Velha sanfona que trunfas
nas romarias e feiras,
quanto te querem, velhinha,
os que movem tuas teclas!
E não é muito, minha jóia,
que tal apego te tenham
os ceguinhos que te adoram
e a todas partes te levam
como um imã poderoso
para sacar as moedas
que nos bolsos, bem guardadas,
têm as gentes festeiras.

Quando o teu rodízio gira
roçando as cordas singelas,
e tangendo ceibas notas
muito melosinhas e meigas,
os cegos põe-se fonchos
e entoando quadras ledas
um sorriso te doam,
e por ver-te, quanto deram
se as portas dos seus olhos
não se encontrassem tão fechas!

Quiçá em tempos passados
fostes nobre companheira
dos galãs muito namorados
que, a beirinha da reixa
do ninho da sua amada
entoavam doce queixa...
e agora encontras-te pobre...
pobre como quem te leva!


Velha sanfona do cego,
pelos favores que emprestas
aos que têm neste mundo
obscuridades eternas,
ainda velha, muito vales!
Vales de oiro quanto pesas.
Sanfoninha, nunca faltes
nas romarias e feiras,
pois tanto ti como a gaita
sois relíquias galegas.

Poema:
Manuel Nóvoa Costoya
Eco de Galicia. Havana, 1 de Janeiro de 1935. nº 379 p. 20

Pintura:
Luis Menéndez Pidal (Pajares, Asturias; 1861 - Madrid, 1932)

versão galego-portuguesa: Orjais.

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