O primeiro filme que lembro ter visto num cinema foi Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Este grande sucesso na carreira de Spielberg, causou-me uma grande impressão, até o ponto de não poder dormir em noites por medo aos extraterrestres. Tendo em conta o atraso com o que chegavam as fitas à Ilha, acho que devim vê-la um ano após da sua estreia no 1977.
O que ficou na minha memória de aquele dia foi a gigantesca imagem da nave-mãe iluminada, tão real que parecia que estava a atracar no cais do Xufre. Também lembro que me impactou a trilha, muito antes de saber quem era o John Willians, não tanto por questões puramente musicais, (tinha oito ou nove anos), por quanto a sugestão que produzia combinada com o projectado na tela.
Nessa sala gocei de muitos outros títulos desde um lugar privilegiado, a cabine de projeção. Meus pais eram amigos do cameraman, assim que alem de não pagar tiquete via o filme através dum pequeno quadrado feito na parede. Quando a película não interessava muito, vigiava os eletrodos que se consumiam aos bocadinhos, deitando ao ar um ténue fio de fumo.
Às vezes, o celulóide se queimava e então umas borbulhas apareciam na tela, começando na plateia uma grande vaia que devia elevar subitamente as pulsações do coração do cameraman. Então, havia que cortar a fita deteriorada com uma lâmina e depois colar os extremos o mais rapidamente possível. Essas fitas voltavam às latas e às sacas onde vieram para ir parar em outro cinema de aldeia assim de diminuídas.
Na metade do filme havia um intervalo que se anunciava com um fotograma no qual líamos: Visite el ambigú. Tardei décadas em saber que era aquilo do ambigú. Suponho que com anterioridade ao que eu posso lembrar houve tempos melhores nos que o bufê era real. Nos meus, o ambigú, era uma banca improvisada no exterior do edifício, onde se vendiam sementes e tofes de café.
Quando os filmes eram de índios e vaqueiros, a tensão ia in crescendo até que com a chegada do Sétimo de Cavalaria o público rompia num prolongado sapateado, uma forma de dizer Viva, ganharam os bons!
Lá vi cento e um títulos de Bruce Lee, de Cantinflas, westerns, históricos, etc, e ainda lembro, entre tantos sons fossilizados nos meus ouvidos, o do mecanismos do projector a funcionar.
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