quarta-feira, 23 de setembro de 2009

nº 68 Os cruzeiros de capela de Brião, Rianjo.

Num dos meus habituais passeios em bicicleta por Rianjo adiante, fui dar à aldeia de Brião, um lugar que ainda guarda a beleza rural e aristocrática da Galiza antiga. Lá é possível ver quintas com eiras alousadas como preparadas para a malha, um formoso pombal de tecto um bocado exótico, o paço dos Torrado e, por fim, a Capela dos Desamparados, com um escudo na sua fachada sujeito por uma sereia hoje decapitada.

Neste espaço tão particular há também dois cruzeiros de capela conhecidos como o da Aldeia e o da Fonte. Quando os vi por primeira vez, faz já muitos anos, olhei para eles com admiração pela sua formosura, por certas características que surpreendem, como a imagem que coroa o da Aldeia, mas passou-se-me pôr atenção ao seu embasamento, quiçá o elemento mais singular de ambos cruzeiros.

A questão é que os degraus de ditos embasamento estão cheios de covinhas, como as que se podem apreciar em muitos petróglifos, tal que se as pedras foram extraídas duma rocha que continha este tipo de restos arqueológicos. Como sou lego nestas questões, procurei literatura científica mas não achei nada, pelo que se algum leitor de esta postagem sabe qualquer coisa, agradeço desde já comparta comigo a informação.

Existe no Concelho de Rianjo um inventário de cruzeiros que ainda não teve a oportunidade de consultar, mas que aguardo pode-lo fazer em breve. Quem sim o utilizou para a realização de um estudo monográfico sobre os cruzeiros de Capela do Rianjo foi Clodio González Pérez para os Cuadernos de Estudios Gallegos. Neste artigo dividido em duas partes, os exemplares de Brião, como é óbvio, aparecem referenciados, mas sem nenhuma alusão a estas covinhas.
Vejamos, pois, que é o que si conta González Pérez no seu artigo.
  • Cruceiro da Aldeia.
Do embasamento diz que: “de planta cuadrangular, consta de tres chanzos, afincándose no medio do superior o fuste[...]”
Uma das características principais é a de estar sem a capela, afirmando que “a parte superior derrubouse hai moitos anos e non a volveron restaurar.” Noutro parágrafo do artigo continua: “non sabemos cando se derrubou, pero dende aquela ninguén se preocupou de recuperalo, de repoñerlle as pezas rotas ou perdidas.”

Sobre a imagem que hoje coroa a coluna diz que “últimamente puxéronlle enriba unha rústica imaxe, que coidamos representa a Virxe coas mans dereitas sobre o peito.”

[Com posterioridade a redação deste artigo apareceu em Fotos de Rianjo detalhes sobre este cruzeiro que podem aclarar alguns termos.]

Com respeito a quando foi posta a figurinha nesse lugar, não tenho nem ideia. Perguntei a alguma gente que não me soube dizer, mas tenho a esperança de que algum vizinho ponha data a esse ultimamente. Contudo, se bem não sei se será possível saber quando se colocou a imagem, o porquê se colocou e a quem representa, surpreende que si podamos saber quando foi feita. Nas costas do, para mim, frade, há uma data gravada, da que também não dá conta o senhor González Pérez. Infelizmente, a minha câmara é de faltriqueira, sem zoom ou qualquer outro aparelho que me permita fazer fotografias de maior qualidade, mas com uma esqueira e um bocadinho de tecnologia acho que seria possível ler perfeitamente os números gravados. A vista de olhos eu acho que põe 188... mas não posso afirma-lo com certeza.















  • Cruzeiro da fonte.

Concordo com González Pérez em que ambos os dois cruzeiros de Brião têm uma feitura quase que idêntica. De facto, de vermos o da Fonte, podemos saber como seria o da Aldeia de estar rematado.

Na fotografia que acompanha ao seu artigo, comprovamos como no interior da Capela há duas figuras, uma Virgem e outra, quiçá um frade. Na actualidade só está a da Virgem e por trás dela uma moreia de cascalhos, assim que me temo o pior.

No embasamento há novamente uma cheia de covinhas e numa das pedras, uma cruz gravada. Noutro trabalho de Clodio González Pérez que recomendo vivamente, Os Cruceiros, Cuadernos Museo do Pobo Galego nº 12, o autor fala-nos dum outro exemplar situado no lugar de O Sisto, Vila Garcia de Arousa. Refere-se a ele quando fala dos cruzeiros como cemitérios dos não baptizados: “Destes enterramentos actualmente o único que queda son cruciñas, letras iniciais (os mais modernos), e outros signos que grababan nos chanzos ou no pedestal os familiares (por exemplo, no do Sisto).”
No desenho que mostra deste cruzeiro arousão, vemos cruzes e também alguma covinha, concretamente um agrupamento de três e uma que fica solta. Poderiam ser as covinhas marcas feitas por familiares dos defuntinhos? (Meu Deus, estarei-me a converter num autor impressionista, e dizer, dá-me a impressão que...)
O certo é que muito perto de Brião está o chamado Cruzeiro dos Meninhos, da Veiga no artigo de González Pérez, em clara alusão aos soterramentos.











Enfim, não há muito mais a dizer. Acho que seria interessante que os profesionais na matéria deitaram luz no referente às covinhas dos cruzeiros e responderam se se trata de monumentos pré-históricos reutilizados, marcas contemporâneas dos cruzeiros, a excentricidade dalgum canteiro ou qualquer outra coisa perfeitamente razoada e historicamente demonstrável. Eu, fico a espera.

P.D.: Só por ilustrar mais uma vez o elevado bom gosto dos brionense, olhai esta escultura cimeira dum espigueiro. Um gato com seis patas?


1 comentário:

Anónimo disse...

grazas pepe