domingo, 10 de junho de 2012

nº 137 Manuel António


                                 Agasalho bicromo para Teresa e Dália,
                                  com Manuel António ao fundo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

nº 136 A Câmara de Ugia XIII

CADEIRAS
I

II

 III

IV

Fotos: Ugia Pedreira ©; Desenho: Orjais ©


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Nº 135 Uma foto que cumpre 100 anos.

Faz uns dias, com motivo dum concerto que se celebrou no Conservatório de Música Profissional de Compostela, visitaram a Galiza o compositor José Evangelista, a sua esposa Matilde Asencio e a violinista Tânia Camargo Guarnieri, filha do grande compositor brasileiro Motzar Camargo Guarnieri. Acompanhados da organizadora do evento, a guitarrista Isabel Rei, visitaram Rianjo, sendo recebidos na casa do concelho pelo presidente da câmara Adolfo Muiños. Por sugestão de Adolfo, a comitiva dirigiu-se ao Museu de Manuel António, onde pudemos ver as magníficas instalações e escutar os interessantes comentários dos nossos visitantes. 
José Evangelista e a sua esposa, ficaram namorados das grandes fotografias do fotógrafo Xosé Pérez, parente do Manuel António. De entre todas houve umas poucas nas que demoramos um bocadinho mais. Concretamente repararam no texto dum jornal, La correspondencia española, cujo manchete em maiúsculas dizia: «CÓMO OCURRIÓ LA CATÁSTROFE.»

Fonte: Casa Museu de Manuel António 

Acho foi Matilde a que comentou que aquela catástrofe deveu ser bem grande para se publicar a toda página.
Picou-me a curiosidade, e depois de muito buscar, dim com a página em questão. A data de publicação é o 20 de abril de 1912. Os afeiçoados às efemérides já saberão que essa edição de La Correspondencia de España está dedicado ao Titanic, afundido dez dias antes fronte as costas de Terranova.

Fonte: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

Não deixa de ter certo aquele que a fotografia de Xosé Pérez, onde se amostra um jornal com a notícia do afundamento do grande transatlântico britânico, esteja pendurada dum cravo no museu do poeta navegante. Estou certo que se lhe deram a escolher a sua morte, Manuel António preferiria ter morto afogado que de tuberculose. 

sábado, 19 de maio de 2012

nº 134 As oito covinhas do Palheiro.

Ontem, sexta 19 de maio, saímos o meu amigo Carlos Collazo e mais eu explorar o mato. Foi uma tarde de muito andar, na que desfrutar de paisagens e da conversa.
Na aldeia de Palheiro, o jardim de Rianjo, caminhamos cara a costa na procura dum pequeno petróglifo, o qual, segundo o meu caro amigo Carlos, é o mais formoso dos do nosso concelho. Andamos um bocadinho entre as lajes até dar com ele, e tenho que reconhecer que desde esse momento não o dou tirado da minha cabeça.
Trata-se dum conjunto de oito covinhas, uma central com sete mais ao seu redor, rodeado todo o conjunto por um círculo. 


O círculo externo está muito erodido pelo que não estou certo do seu desenho ser tal e como aparece no calco, mas as covinhas têm um aspecto muito próximo ao do seguinte esquema:

Botei toda a noite a pensar em quem faria esse petróglifo, como e por que o faria deste jeito. Não tenho respostas. Não sou arqueólogo, nem matemático, mas, por pura brincadeira vou construir uma hipótese, tão acientífica como sugestiva. Não me tomem a sério.

Tenho lido muito sobre os petróglifos, como se faziam, que técnicas se utilizavam e mesmo arriscadas interpretações sobre a sua utilidade ou significado, mas muito pouco sobre o processo criativo do artista rupestre. Um desenho como o da aldeia do Palheiro, precisa dum certo poder de abstracção, de conhecimentos sobre as proporções, as propriedades do círculo... Quem fiz esta agrupação de covinhas quiçá era um artista que traçou primeiro um rascunho ou copiou dum modelo que vira em algum lugar, que estava no seu cérebro por tradição, por imaginação, por alucinação...
Quiçá a forma mais doada de traçar sete círculos equidistantes entre sim e com um oitavo que se situa no centro seja colocando discos sobre a laje até conseguir que tenham uma disposição harmoniosa. Também se pode ir desenhando a mão alçada, corregendo até conseguir o modelo desejado, mas podemos pensar que o autor desta gravura fazia parte uma civilização suficientemente evoluída como para poder desenhar um heptágono inscrito numa circunferência. 

A recta AB,mediatriz do rádio, tem o mesmo tamanho que as cordas dos arcos. Resulta pois, bem doado, traçar um desenho similar ao do monte Palheiro, só com a ajuda dum compasso e sem recorrer ao número pi. 


Agora que já temos o desenho feito, haverá que buscar-lhe um significado. O mais destacável é o número de círculos, sete na contorna de um central. O sete é um número muito presente na nossa cultura, pois segundo a religião cristiana, Deus criou ao mundo em sete dias, é dizer, uma semana. Mas a divisão da semana em sete períodos de vinte e quatro horas tem a ver com a ideia do universo que tinham os antigos. 

«El sistema astronómico de Ptolomeo, que se mantuvo vigente en Occidente hasta que cuajó la revolución copernicana, estaba basado en la cosmología aristotélica, la cual estaba inspirada, a su vez, en los modelos mesopotámicos y egipcios. En este modo de concebir la estructura del universo, la Tierra ocupaba el centro, y los planetas y estrellas giraban a su alrededor. Aristóteles, haciéndose eco de las creencias de su tiempo, imaginó que todas las estrellas fijas se hallaban como incrustadas en una enorme esfera cristalina que envolvía el universo conocido, como su capa más externa. En el interior de esta esfera había otras siete, todas concéntricas a la Tierra, de forma que cada una de ellas alojaba a uno de los siete planetas conocidos (incluyendo como tales al Sol y a la Luna) y era responsable de su movimiento.»  Fonte

Seguindo este razoamento geocêntrico, o círculo externo da gravura do Palheiro poderia ser a esfera das estrelas fixas, os sete círculos exteriores o Sol, a Lua, Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno. O círculo interior, a Terra.

Mas, falando de heptágonos, planetas e círculos, não podemos esquecer a Estrela de Sete Pontas, que podemos traçar seguindo os nodos que nos marcam o centro das esferas.



Não lembra este último desenho ao Vitriol dos mações?


Para mais enredar todo, uma última imagem tirada da web http://www.horusmedia.de. Tem um cabeçalho verdadeiramente curioso: «Línea del Grial. Dibujo según un modelo de la estrella de siete puntas de los Caballeros Templarios de Francia que indica la ubicación de las principales comandancias de su orden y la línea del Grial.»

Enfim, que o mais provável é que o petróglifo do Palheiro não seja mais que uma espécie de mancala pré-histórico. Tal vez, faz alguns milhares de anos, dois povoadores destas terras, jogaram uma partida contemplando uma vista formosíssima da nossa Ria.

Para rematar esta postagem, colo alguma imagem mais das que pudemos encontrar na mesma laje que a que vimos de comentar. Estava já a cair a tarde e não pudemos demorar mais o regresso. Para outro dia ficaram as medições, os desenhos e se estou inspirado, as fantasias.

Máis covinhas...
Pegadas que derretem rochas?
Para isto não tenho palavras...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

nº 133 Faustino Rey Romero e os Poetas dos Melros.


Abstract:
Breve relato sobre curiosos encadeamentos históricos que nos levam a crer na existência na Galiza duma geração poética à que poderíamos chamar Ornitólogos sentimentais, ou melhor dizendo, Os poetas dos melros e a sua relação com o Festival de la Canción Gallega de Ponte Vedra.

Eu quisera ser melrinho
e ter o bico encarnado,
para fazer o meu ninho
no teu cabelo doirado.
Quadra Popular.

Tragédia com três personagens

«Amor!» «Amor!»
-assobiava o Melro
Seu assobio
tinha algo quente
que dava frio

«Amor!» «Amor!»
- A Rosa, indiferente
não respondia

«Amor!» «Amor!»
- A Lua filosófica
sorria

«Amor!» «Amor!»
-assobiava o Melro

-A Rosa, cruelmente
não respondia

Enlouquecido
o pobre Melro
botou-se ao rio

De indiferente
a Rosa
passou a presumida

-A Lua
por ser tarde
deitar-se
ia

Ernesto Guerra da Cal Lua de Alem-mar 1959

Este formoso poema de Ernesto Guerra da Cal, dedicado a Fermín Bouza Brey, pertence ao livro Lua de Alem-mar e leva por subtítulo «para ornitólogos sentimentais». Na fina ironia do escritor ferrolano parece esconder-se uma alusão a toda uma geração de poetas herdeiros da poesia de Amado Carvalho e que, por diversos motivos, vão ser protagonistas dum evento pouco ou nada estudado até o momento: o Festival de la Canción Gallega de Ponte Vedra. Este festival celebrou-se entre os anos 1960 e 1967, sendo promotores Antonio Fernández Cid, crítico musical, e Xosé Filgueira Valverde, presidente na altura da câmara pontevedresa.
A mecânica do evento consistia em que compositores espanhóis e portugueses de grande sucesso musicavam um poema dalgum autor galego. Paralelamente, havia um concurso de composição do que saíam partituras premiadas. Durante uns dias, sempre nas datas próximas à festividade de São Bento, pronunciavam-se conferências-concerto, na que se interpretavam as obras encomendadas, as do concurso e outras de carácter histórico como ilustração às palestras.
Ernesto Guerra da Cal foi o autor dalgum desses poemas musicados, sendo a sua participação estudada por mim, em parceria com Isabel Rei e Joám Trillo, em dois trabalhos que sairão do prelo em breve. Mas além do poeta ferrolano, houve outros coetâneos que também participaram com seus versos no festival e aos que poderíamos chamar os Poetas dos Melros, dado que todos eles foram rapsodas deste passarinho de plumagem escura e bico amarelo.
Comecemos pelo próprio Guerra da Cal. O poema acima transcrito e titulado “Tragédia com três personagens” está incluído num grupo de seis poemas cujo título genérico é Cançonetas do Amor em Clave de Lua. Este pequeno conjunto tem muitas das características que Méndez Ferrín atribui à por ele chamada geração do 1936, como o neotrovadorismo, influência de Bouza Brey, ou o hilozoísmo/imaginismo, de Amado Carballo. Tanto Bouza Brey como Amado Carballo foram distintos Ornitólogos Sentimentais, sobrevoando o seu parnaso particular lavandeiras, rouxinóis, pintassilgos e, como não, algum melrinho.

«Fugiram as badaladas
ao acordar a manhã,
entre xílgaros e melros
pelo mato a rebuldar.»

Amado Carballo “Romage” Proel 1927

«Que não fujam os melros que fazem o ninho
no mais mesto curruncho dos teus verdores:
esgarçar-te-ei as polas muito amodinho
p[a]ra fazer um feitiço p[a]ros meus amores»

F. Bouza Brey Nós nº 12, 1922

«Todo o que é lírio, todo o que é melro
esfolar-se-á pelos campos galegos!»

F. Bouza Brey Nau Senlheira 1933

Ambos os dois poetas, Bouza Brey e Amado Carballo, foram musicados pelos compositores do Festival de la Canción Gallega, nomeadamente este último, cujo poema Ponte Vedra tornou-se num autêntico standard. 
Porém, os mais significados melristas pertencem à geração do 36, nascidos por volta do 1910. 
De entre todos eles, Xosé Mª Álvarez Blázquez teve um especial protagonismo no Festival, sendo um palestrante fixo das conferências-concerto. Os seus relatórios versaram sobre temas muito diversos, como as cantigas medievais ou os cantos de natal, estando sempre acompanhados de exemplos musicais. Também considero que deve atribuir-se lhe ser o primeiro em pôr o foco sobre o humilde melro, humanizando-o e vestindo-o com toda a sua roupagem simbólica:

O melro poeta

Da gorja algareira
do melro lançal
fugiam as horas
colhidas das mãos.

Co[m ]as suas moinheiras
e os seus alalás
a todas as melras
ia namorar.

Na pola mais alta
do meu salgueiral
morreu o poeta:
no papo, nem grão!

Ponte Vedra, 7-VI-1932

Ainda maior presença tem o melro na obra de Emilio Álvarez Blázquez, irmão de Xosé Maria e que também estivo muito envolvido na história pública e privada do Festival de la Canción. Ele escreveu coisas tão formosas como estas:

Cantaram os melros
e haverá um arzinho
entre os amieiros.

Emilio Álvarz Blázquez “Bico” Poemas de ti e de mim 1949

Meu reino não é desta árvore,
disse o melro, e pus em cruz
as asas sobre a paisagem...

Emilio Álvarez Blázquez O tempo desancorado 1988

Contudo, o poeta mais devoto dos melros é o Rianjeiro Faustino Rey Romero, o qual mesmo escreveu uma monografia poética sobre este passarinho, Escolania de Melros. O livro consta de vinte sonetos cujo protagonista é sempre a ave de pena negra.

O Melro

Prestidigitador de melodias,
que, sem cânon saber nem seguir pauta,
cantando a reo, nunca te extravias
no ar do rimo, voadora flauta.

Diz, que arame subtil é esse em que enfias
como doas de ouro a nota exata?
De que mestre aprendes-te a que assobias,
melodia lançal, música intacta?

Foste anjo de Deus? Pude ser isso!
Ou pássaro cantor no Paraíso,
onde a dita perfeita o Senhor forja?

Anjo foras, se, em vez de negra pluma,
asas brancas tiveras como a espuma,
pois é de anjo canora a tua gorja.

Faustino Rey Romero Escolania de melros 1959

Resulta evidente a influência de O melro poeta de Xosé Maria Álvarez Blázquez neste soneto do padre nado em Isorna. Mesmo palavras como lançal ou gorja, poderiam ser os restos fósseis que demonstrem tal genealogia.

Desconheço a relação certa entre Faustino Rey Romero e Xosé Maria Álvarez Blázquez, nem sei se esta foi estudada a dia de hoje por algum dos biógrafos de ambos escritores, mas cabe supor que esta existiu e foi intensa. Uma das razões que me levam a pensar assim tem a ver com os próprios biodados do escritor rianjeiro. 
Faustino Rey Romero nasceu o 27 de outubro de 1924, pelo que por idade está algo mais próximo a Emilio Álvarez Blázquez, nado no 1919, que a Xosé María, do 1915. Depois de estudar no convento de Herbão, o seminário de Madrid e o de Ourense, ordena-se padre no de Tui em 1948. Desde esse mesmo momento a sua vida passa a se desenvolver por terras do sul da Galiza, como as freguesias de Cela (Mos), Barcala (Arbo), Tameiga (Mos), A Guia (Tui), São João de Amorim... Vários dos seus livros Doas de vidro 1951 e Quatro sonetos ao destino duma rosa, 1952, foram editados na imprensa Tip. Rexional de Tui.
Uma relação tão intensa dum poeta com a cidade de Tui não deveu ser ignorada por dois dos bates tudenses mais insignes, Xosé Maria e Emilio Álvarez Blázquez.
Algum poema de Rey Romero também foi musicado no Festival de la Canción. Eu tenho localizados duas partituras, uma do compositor português Frederico de Freitas e outra do galego Groba.
A de Frederico de Freitas faz parte dum álbum titulado 10 canções galegas, do que já falei na postagem anterior. A inclusão dum poema do Rey Romero de lado de outros de Amado Carballo, Bouza Brey, Xosé Maria Álvarez Blázquez e do seu irmão Emilio põe um trilho musical inigualável a geração dos ornitólogos sentimentais.  

Por último e como colofão a esta postagem, mais uma cadeia de casualidades melricas. Faustino Rey Romero tem um soneto titulado:

O melro que lhe cantou a eternidade a São Ero de Armenteira.

Por acalmar uma amorosa queixa,
por adoçar de fera ausência o agre,
apreixaste o tempo na madeixa
do teu canto uma noite de milagre.

Não renderam três séculos um segundo.
Tao prodigioso foi teu rechouchio,
que às ditosas estâncias do trasmundo
daquele Santo subiste o alvedrio.

Foste em comparação como a escada
que véu Jacob unindo terra e céu,
mas, em vez de anjos, de música baixada.

Tu semeavas eternal semente,
e o Santo estava de si mesmo alheio,
enquanto cantavas milagrosamente.

O logótipo do Festival de la Canción Gallega foi feito por Agustín Portela Paz, ilustrador do Museu de Ponte Vedra e pai do famoso arquiteto César Portela e nele pode ver-se ao Santo Ero de lado do pássaro cantor.



Este mesmo desenhador fez as capas do livro de Xosé Maria e Emilio Álvarez Blázquez Poemas de ti e de mim, 1949, da Editorial Benito Soto. Por sua vez, Emilio, também fez um poeminha sobre o santo durmichão da Armenteira.

Santo Ero

Louvado seja o Santo
que está no Paraíso
e não queria tanto.

Louvada seja a hora
de Armenteira, que foi
trezentos anos glória.

Louvado o passarinho,
de quem ninguém se lembra
e está no Paraíso....

Emilio Álvarez Blázquez “Tríade de Três Santos” Lar 1953

Por certo, na revista Lar, do Hospital Galego de Bos Aires, também publicou Faustino Rey Romero em 1952 os seus Quatro sonetos ao destino duma rosa.

Enfim...

Orjais ©

quinta-feira, 8 de março de 2012

nº 132 Faustino Rei Romero musicado por Frederico de Freitas.


Ás 8 horas do 12 de julho de 1966, no Salão Nobre do Palácio da Deputação de Ponte Vedra, celebrava-se a jornada de estreias do VII Festival de la Canción Gallega. No piano, acompanhando à soprano Dolores Pérez, o grande Miguel Zanetti dava começo ao programa com as primeiras notas das Dez canções galegas.
Este conjunto de cantigas compostas pelo maestro lisboeta Frederico de Freitas  (1902 - 1980), são dez poemas musicados cujos versos pertencem à pena de Fermín Bouza Brei, Emílio e X. Mª Álvarez Blázquez, Luís Amado Carballo, María del Carmen Kruckenberg, Ramón Vidal, Ramón Cabanillas e o nosso Faustino Rei Romero.
Não espanta a participação do padre de Isorna neste agrupamento poético por quanto é bem conhecida a sua amizade com os Álvarez Blázquez ou o Bouza Brei. O verdadeiramente interessante é que um poeta relativamente pouco conhecido, como Rei Romero, passe a fazer parte da obra musical dum dos grandes compositores de Portugal.
A dia de hoje, não posso dizer certo quem fez a coletânea poética com a que trabalhou o Frederico de Freitas, mas é muito provável que fora iniciativa de Emílio ou Xosé María Álvarez Blázquez.
O caso é que depois de muita busca, dei com a partitura Canta, paxarinho, canta, que faz a número cinco das Dez canções galegas, letra de Faustino Rei Romero e música de Frederico de Freitas.
Celso Álvarez Cáccamo, filho do poeta a quem se lhe dedicou no 2008 o Dia das Letras Galegas, definiu um dos meus artigos como um trabalho detectitexto. Pois, certamente, parece-me uma grande definição para o que fago, já que às vezes quase exerço de investigador privado.
Todas as gestões feitas na Galiza para encontrar as Dez canções galegas tiveram um escasso sucesso. Então, dirigi o meu esforço cara Portugal, e concretamente ao Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa. Esta entidade, que não tinha cópia da obra solicitada, encaminhou-me até a Dr.ª Helena Marinho, grande pianista portuguesa e conhecedora da obra do Freitas. Ela sim sabia da existência das peças requeridas e da sua localização, junto com o resto do espolio do maestro, na Biblioteca da Universidade de Aveiro.
A Diretora dos Serviços de Biblioteca, Informação Documental e Museologia desta Universidade, Dr.ª Ana Bela Martins e a sua colaboradora Dr.ª Patricia Silva, fizeram as gestões precisas para que o escaneado das Dez Canções Galegas, e entre elas a do Faustino Rei Romero, chegaram a mim. Para elas três o meu agradecimento.
Eis a primeira página de Canta, paxariño, canta:



Expólio do Compositor Frederico de Freitas
Universidade de Aveiro


Albergo esperanças de que para maio podamos escutar esta peça em Rianjo, mas isto é coisa que já contarei outro dia.

O Faustino Rei Romero é para mim uma grande caixa de surpresas que sempre me colhe desprevenido, ele aparece onde menos se lhe espera. 
No número 3 da revista do padroado da cultura galega de México Vieiros, há um poema titulado O nome acadado dos nomes. Está assinado pelo Nobel Juan Ramón Jiménez. Nada teria de especial este poema se não fora porque ao pé do nome do autor podemos ler: «Versión galega de Faustino Rey Romero, Presbítero. Madrí, 1965»


Nº 3 Revista Vieiros
Outono 1965

Aproveito a ocasião para recomendar vivamente a leitura desta revista feita por Luis Soto, Carlos Velo e Fernando Delgado Gurriagarán. Os textos são magníficos, mas ainda melhor é a maquetagem e as ilustrações.

Memoria de Catoira 
Concello de Catoira 2011

Termino com uma foto do Padre rianjeiro na companha de Baldomero Isorna (?). Que grandes!!!

quinta-feira, 1 de março de 2012

nº 131 NÃO


NÃO

Há muitas formas de dizer NÃO.
Por activa e por passiva,
com a boca pequena ou a berros cósmicos,
acenando um dedo
ou com abalo de cabeça.
Eu digo não cantando,
com a mesma voz que entoa berços,
a voz que sussurra
e deita palavras tolerantes e serenas.
Também há quem diz NÃO
parado na rua, aguardando a chegada da malta.
Esse homem ou mulher quer companhia,
o abrigo de cem, mil, milhões de NÃOS, 
a ocupar o asfalto.
Conheço uma menina que diz NÃO
com olhos de azucar, 
e a um pai que quisera comer-lhos a lambetadas.
Conheço a um demo que negou ao chefe,
e a um anjo que continua a ser porque NÃO ousa.
Mas hoje precisamos de unanimidade.
Digamos um NÃO cooperativo
desde a profunda indignação que nos consome.
NÃO aos culpáveis da derrota,
NÃO aos submissos, aos palermas,
NÃO ao contrabando de sentimentos,
NÃO a ocupação violenta das nossas casas.
Mas, por cima de tudo, 
digamos NÃO aos grandes e pequenos papahóstias
que legitimaram, com o seu voto,
a quem nos governa.

Texto: Orjais ©