quarta-feira, 5 de agosto de 2020

nº 244 O Monte das Mámoas de Catoira.


A pouca distância da nossa casa da Baiuca, em Catoira, encontra-se o Monte das Mámoas, um pequeno outeiro duma beleza muito singular. Hoje fui passear e tirar algumas fotos em torno duma dessas mámoas que dão nome ao lugar acompanhado das pequenas, sabedor de que o espaço é perfeito para uma pequena lição de história, flora autóctone, geologia...

Já na casa, procurei alguma informação na rede superficial e li espantado que a descoberta em 1956 (sic) deste conjunto arqueológico é atribuída a Ramón Sobrino Buhigas. Imediatamente compreendi que algo tinha que estar mal pois o naturalista e arqueólogo pontevedrino morrera no ano 1946. Então, o mérito só poderia corresponder a seu filho, Ramón Sobrino Lorenzo-Ruza (1915-1959) [a partir de agora R. S. L.], na altura comissário de escavações arqueológicas, entre outras muitas ocupações.

Felizmente,  contamos com uma série de publicações dum membro da família Sobrino, o professor Ángel Núñez Sobrino, que não apenas esclarece os detalhes desta descoberta, mas também achega dados sobre outros restos arqueológicos do concelho de Catoira.

Comecemos polas mámoas. Em  El trayecto vocacional de un arqueólogo, o professor Ángel Núñez publica anotações da agenda de trabalho de R. S. L. Uma dessas anotações dá-nos a data exata na que visitou Catoira e indica quem foi a pessoa que o orientou para chegar até o monumento megalítico.

"3 de abril de 1955
Excursión a Catoira. López, el de la papelería "El Sol" me habla de conchas en la Balastrera. No las encontramos. Frente a la Balastrera otro montículo también de cantos rodados y limonita. Descubro dos mámoas y las fotografío. Tienen sepultura megalítica, saqueada. Se llama "Monte das Mámoas". Pregunto y no saben decirme el porqué de este nombre." p. 23 e 24

Portanto, as webs deveriam correger o erro e dizer nas suas entradas que O Campo das Mámoas foi descoberta para a arqueologia o 3 de abril de 1955 por Ramón Sobrino Lorenzo-Ruza. Obviamente, o povo que lhe deu nome ao monte, já as descobrira muito antes.

Mas, como nos ensina o professor Núñez Sobrino, o trabalho do seu tio em Catoira não se limitou ao achado da Balastrera, senão que nas suas anotações há outros dados de interesse para nós.

Em Correspondencia europea a un arqueólogo galego podemos ler:

"Temos que indicar que todos os debuxos do arqueólogo (R. S. L.) foron utilizados en percepción directa, agora ben, con diversos procesos de presentación e de utilización: os obtidos en frescura directa cos materiais levados no cartafol, e disto temos dous claros exemplos: uns petróglifos en Catoira "150 mts. as N. del campo de fútbol de la Lomba. Granito de grano fino" e "Moraña. Lage. Outeiro das Pías I. Outeiro do Testo, Outeiro das Pías II. Camino de Longas a Rozas". p. 190 O sublinhado é meu.

Por último, em Ramón Sobrino Lorenzo--Ruza (1915-1959),  eximio arqueólogo encontra-mo-nos com algum dado mais:

"Casa de D. Ferrín Rivero, lugar de Aragunde, parroquia Ayto. Catoira. Procede de Tallarina en medio de más leiras en el mismo lugar, a unos 200 o 300 metros de la casa. En outeiro de Barral próximo a esta hay cazolestas 3 o 4 en fila". p. 24

Todos estes petróglifos são hoje conhecidos e há diversas publicações de carácter informativo ou especializado que se ocuparam deles, mas acho que os desenhos e fotografias que R. S. L. fiz nas suas excursões a Catoira devem de ficar ainda inéditos. Tal vez podamos encontrar algo no arquivo pessoal do arqueólogo doado pola sua família ao concelho de Teo. Já veremos. 

Por último achego umas fotografias minhas duma das mámoas da Balastrera. O monumento megalítico está situado numa localização imbatível para visitas com fins didáticos. Infelizmente, sobre a mámoa há um plantação de pinheiros, na atualidade exploração de resina, a qual, sem ser eu arqueólogo, acho pode danar em poucos anos este espetacular monumento megalítico. 

BIBLIOGRAFÍA

NÚÑEZ SOBRINO, Ángel

-Correspondencia europea a un arqueólogo galego. Gallaecia. V. 11; 2012.

-Ramón Sobrino Lorenzo-Ruza (1915-1959): El trayecto vocacional de un arqueólogo. Pontevedra. nº 21; 2006.

-Sobrino Lorenzo--Ruza (1915-1959), eximio arqueólogo. Separata Anuario Brigantino, nº 38; 2015.


Vista da Mámoa desde o sul.


Afundimento no alto da mámoa.

Cabeças de dois ortóstatos.


Detalhe da cabeça de um ortóstato.

Vista desde o norte da mámoa.

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