quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

nº 192 José Sánchez Vázquez, o final dum ofício.




José Sánchez Vázquez [Rianxo, 14/08/1877; Padrão, 08/01/1939] é minimamente conhecido por ser o tio crego do poeta rianxeiro Manuel Antonio. Porém, o sochantre é para mim uma personagem com nome próprio, infelizmente ignorada não só pelo grande público, mas também por os próprios historiadores da música galega. Com este artigo não pretendo fazer uma biografia por extenso do mestre salmista, só dar a conhecer alguns aspectos que considero de urgente divulgação, deixando para mais adiante partilhar quanto logrei saber da sua vida e obra.






Foto: 
Arquivo X. Santos e X. Comoxo

I
Parentescos

a.- José Sánchez Vázquez era irmão de Purificação Sánchez Vázquez, mãe de Manuel Antonio.  
b.- O avó de José Sánchez Vázquez era irmão do pai de Severo Araújo Silva, Bispo Auxiliar do Arzobispado de Santiago de Compostela.

Estas ligações familiares vão ser fundamentais para que partituras até agora desconhecidas ou perdidas façam agora parte do recentemente criado Fondo Local de Música do Concello de Rianxo.

II
O Sochantre de Íria

A sua nomeação como presbítero tem lugar em janeiro de 1902 e um ano mais tarde já aparece citado na imprensa como Sochantre de Íria, pelo que deveu aceder a este cargo quase imediatamente trás a sua ordenação. Durante os trinta e sete anos que restam até a sua morte, José Sánchez Vázquez teve uma intensa vida dedicada por completo à música, bem seja como cantor, como regente ou como dinamizador e organizador de eventos culturais.
A sua actividade como cantor não se reduzia apenas a Íria Flávia, senão que acudia lá onde era reclamado, principalmente à Ponte Vedra dos seus amigos Mercadillo, Torres Creo, Isidro Puga ou o mestre de capela Manuel Taboada Nieto. Gostava de cantar cantigas galegas, como a titulada Bágoas de Puga ou Choros e Cántigas de Sanmartín, da que falarei mais adiante.

«La orquesta y voces de los Sres. Mercadillo y Torres [Creo], reforzada con el tenor de Iria D. José Sánchez, interpretó con gran maestría la hermosa misa de Gomig, el Motete de Cortina y Genitore de Guilmar.» El Diario de Pontevedra: nº 7596 06/09/1909
 
A sua sólida formação musical permitir-lhe-ia dirigir orquestras e coros os quais interpretavam música não apenas religiosa. Graças a imprensa da época, podemos saber como eram aquelas orquestras, muitas vezes reforçadas com músicos de Compostela ou de Ponte Vedra. Assim, no Diario de Galicia 20/02/1914 ou em El Barbero Municipal, 21/11/1914 encontramos uma orquestra regida pelo P. Daniel Gómez, franciscano do convento de Ervão, da que fazem parte os violinistas Srs. Rodríguez, Castro e Diéguez, nas flautas os Srs. Balado e Rey, no contrabaixo o Sr. Sánchez e no piano o Sr. Cardama. Aqui, aparece o Sochantre tocando o baixo, mas, habitualmente, era ele próprio quem dirigia a orquestra, alternando-se instrumentais e peças cantadas.
Também dirigiu os coros de meninos, as vozes participantes nas missas e nos diferentes ofícios e sobre todo, o Orfeão Antoniano.
Este último está muito relacionado com o seu papel de organizador e dinamizador de eventos entre os quais a organização da Juventud Antoniana e as celebrações do dia de Santa Cecília.
O interessante é que em todas estas celebrações havia sempre um lugar para a canção galega de concerto, assim como um espaço para os seus amigos músicos, como o guitarrista Daniel Paz Rodríguez O Rosquilheiro.
Como curiosidade dizer que depois de morto o Sochantre, a sua irmã e mãe de Manuel Antonio, Dna Pura, continuou a costear a Missa Solene da celebração de Santa Cecília à que habitualmente se associavam os músicos de Padrão.                                         


III
Os organistas de Íria Flávia

José Sánchez Vázquez viveu o declive do ofício de sochantre e organista na igreja de Íria Flávia. Acho que ele foi o derradeiro sochantre e que conviveu com os últimos organista por oposição da ex-Colegiada. Pouco antes da sua posse como cantor de Íria, o órgão foi restaurado, o qual manifesta um certo interesse por mantê-lo em óptimo funcionamento. No século XIX, alguém que tivesse vontade de escutar uma Missa Solene com órgão em Padrão podia escolher entre o do Convento de Ervão, o do Convento do Carmo, o da Escravitude ou o de Íria, e quiçá algum mais que se me passa.
Dos organistas de Íria, acho que não há nada publicado, assim que achego aqui o que sei, entendendo que a pouco que se investigue, muito de quanto digo pode ser ampliado ou mesmo rectificado. 

Em 1881, foi nomeado organista da Ex-Colegiada de Íria Flávia D. Pedro Rodríguez [1881-1887]. Só seis anos mais tarde sai publicado no Boletín del Arzobispado o edital pelo qual se convoca a vaga de organista de Íria Flávia.

«Hallándose vacante la Capellanía, ad nutum amovible, erigida en la Colegiata de Iria Flavia bajo la advocación de San Rosendo y afecta al cargo de Organista, el Excmo. y Reverendísimo Prelado, mi Señor, á quien pertenece su provisión, ha determinado anunciarla á concurso, como por el presente se verifica, por el término de veite días á contar desde el de la fecha, dentro del cual los aspirantes, que deberán ser Presbíteros, dirigirán á Su Excia. Revma. la correspondiente solicitud, acompañada de letras testimoniales de sus Prelados, si fuesen extradiocesanos.
Las obligaciones del agraciado serán: residir en Iria Flavia, asistir á las horas menores todos los días, tañer el órgano en las misas conventuales y demás funciones propias de la Colegiata ó que determinare el Párroco como Presidente, y aplicar el Santo Sacrificio todos los domintos del año por las almas é intención de los fundadores de las Obras pías, con cuyas rentas se ha constituido la Capellanía.
Su dotación anual es de cuatro mil reales, que se cobrarán por trimestres en la forma que el Estado satisfaga los intereses de la deuda pública.
Santiago 29 de marzo de 1887. –Por mandado De Su Excelencia Revma. el Arzobispo, mi Señor, Dr. D. Vicente Álvarez Villamil, Secretario.» Boletín Oficial del Arzobispado se Santiago. Ano XXVI nº 1098 31/03/1887

José María Sanmartín Catoira, [1887?-1907] Era natural de Pontecessures, onde morreu em 10 de janeiro de 1951. Foi, alem de organista por oposição em Íria, pároco em Redondela e Cangas do Morraço, sendo o seu último destino a igreja de São João Apóstolo de Santiago de Compostela.
Sabemos que foi o autor dalguma balada galega como a titulada Choros e cántigas, editada por Canuto Berea, a qual se publicitava na prensa de 1909 e continuava a ser interpretada nas festividades religiosas organiçadas por José Sánchez em 1933.

El Eco de Galicia. nº 954 13/10/1909

El Compostelano - Num. 3810 (31/01/1933)

Em 1907, convoca-se novamente a vaga de organista por translado de José Sanmartín. A dotação anual será nesta ocasião de mil pesetas. Gaceta de Galicia. nº 140 22/06/1907

- Manuel Forján Ojeros. [1907-1912] Em 1910 era aluno de Arqueología y Historia Eclesiástica da Universidad Pontifícia Compostelana. Como homenagem a Antonio Lopez Ferreiro, morto em abril desse mesmo ano, a aula organizará uma velada na que vai ser interpretada a cantiga elegíaca Pranto de Galicia, de Manuel Forján. Dois anos mais tarde, em abril de 1912, morre quando cursava terceiro ano de Teologia. 

«Era el Sr. Forján un excelente músico, autor de varias composiciones de relativa importancia. La enfermedad que le condujo al sepulcro la contrajo preparándose para la plaza de organista vacante en la catedral compostelana.
Desde hacía varios años era organista de la Colegiata de Padrón, habiendo obtenido el cargo desde bastante joven, cuando casi era un niño.
Encarecemos á nuestros lectores unan sus oraciones á las nuestras en sufragio del alma del finado.» El Eco de Galicia. nº 1746 28/04/1912 

Embora a sua juventude, Manuel Forján era organista de Iria Flavia por oposição. Durante as suas ausências, substituía-o no órgão da Colegiada o seu irmão Joaquín Forján. Na altura, dirigia a Banda de Música de Padrón um outro Manuel Forján, ao que cremos parente dos irmãos organistas. 

- Joaquín Forján Ojeros. Irmão do anterior, foi organista ocasional em ausência de Manuel Forján.

- Adolfo Cardama Cortés. Dodro, 23/06/1879- A Póvoa do Caraminhal 19/03/1942. Quiçá o organista que mais vezes aparece ao lado de José Sánchez, e do que deveu ser, além de mais, grande amigo. O primeiro dado que tenho do duo Sánchez-Cardama é de 1908, na igreja de São Julião de Requeijo. Cardama tocava principalmente o harmônio e o piano, mas é possível que tocasse o órgão em certas celebrações. As suas ocupações como funcionário em diferentes concelhos como o da Póvoa do Caraminhal, dificultou-lhe uma maior actividade como músico. Era filho de Ramón Cardama, mas ignoramos se tem alguma relação de parentesco com o organeiro compostelano do mesmo nome.

«A continuación ocupa el escenario el Sochantre de Iria Flavia, don José Sanchez, que cantó la melodía gallega Bágoas, del maestro Puga, acompañándole con el armonium D. Adolfo Cardama, siendo objeto de una ovación el Sr. Sánchez por el exquisito gusto con que interpretó la obra.» El compostelano. Nº 1290 (12/06/1924)

IV
Uma festa em Bastavales
Com um minuto de intervalo

«A las nueve, Misa cantada en la capilla, acompañada de la grandiosa Orquesta de Iria-Flavia que será reforzada con valiosos elementos de la Catedral de Santiago, compuesta de doce profesores, entre los que figuran el tenor D. José Sánchez y el barítono M. R,. Espinosa.»
«Por la tarde, a las tres, darán comienzo los grandes bailes populares amenizados por las bandas de Brión y Rianjo y por el popular cuarteto regional gallego de Soutelo de Montes, desarrollando un variado programa de bailes, los que se alternarán con un minuto de intervalo.»
«A las tres de la tarde continuarán los bailes populares estando la música a cargo del afamado director D. Ángel Bandín.» El compostelano. nº 1858 02/06/1926 Festas em São Julião de Bastabales em honor da Virgem do Carmem.

«La orquesta y voces de los Sres. Mercadillo y Torres, reforzada con el tenor de Iria D. José Sánchez, interpretó con gran maestría la hermosa misa de Gomig, el Motete de Cortina y Genitore de Guilmar.» El Diario de Pontevedra: nº 7596 06/09/1909

«La orquesta y voces de los Sres. Mercadillo y Torres reforzadas con el valioso elemento del tenor de Iria, D. José Sanchez, justificó una vez más la altura de su justo renombre, en la interpretación de los Gozos de Velardi, á solo de bajo y duo de barítonos, en el Tantun ergo de Loxvi y el Genitori de Guilma.»

V
Despedida a la Sma. Virgen
 
A única partitura das conservadas no Fondo Local de Música do Concello de Rianxo que consideramos da autoria de José Sánchez Vázquez é a titulada Despedida a la Santísima Virgen, a qual está datada em 7 de setembro de 1934. Pela sua letra trata-se duma composição semelhantes as muitas que se conservam, alguma mesmo no nosso arquivo, de Salutação e Despedida, normalmente postas em boca, a modo de hino, dos peregrinos que acodem a um santuário. Considero, pois, que se trata duma Despedida à Virgem de Guadalupe das pessoas assistentes à sua celebração.



© Fondo Local de Música do Concello de Rianxo

VI
Epílogo
O organista de Iria de José Filgueira Valverde

Ao organista de Iria, un músico vello de enterros e festas, bo bebedor, forte, roxo de moita sona en toda a terra de Padrón, viráraselle o sentido. Deixara o viño e as esmorgas, dera en se pechar polas noites na igrexa a tanxer no órgano cousas estrañas; subía ao campanario para adeprender aos mociños repiques novos, tiña longas conversas co gaiteiro de Isorna e saía cara os soutelos do río, no raiar da alba, cun feixe de papeis baixo do brazo. Sentira o proído de engaiolar unha cántiga que teimosamente se escoaba nos seus oídos e tendía a cotío o ichó para esligala como se fose un loiro paxariño.
Despois de moitos traballos, arriscouse a amostrar canto levaba composto ao oranista de Santiago. Saíu de Iria, polas oitavas de Nadal, cunha carta de presentación do Abade, con moitos papeis na alxibeira e o verme dun degoiro no peito. Nos seus oídos ecoábase aínda, con leda teimosía, o belido tema que topara e seguindo no maxín a súa obra —Op. I—, deténdose en cada acerto, á mañá do repaso que un fai do soño lonxano, deuse a cantalo, a cantalo namentres o tren repinicaba a muiñeira das costas e debullaba o alalá dos chans sobre o trémolo da paisaxe e o pedal azul do ceo.
(O crego cativiño e descoñecido que se sentara a par del en Osebe íao escoitando cos ollos pechados nas follas do breviario).
Nos altos da Catedral renxía o fol do órgano, barquín de forxa, e as mans do Organista de Santiago, mans afeitas a temperar o ferro roxente dos graves na agua xeada dos agudos, afiaba os sons a circias marteladas. Embazábase o aire dunha sutil poeira, erguíase un mesto fumeiro... De súpeto é a nidia claridade da súa cántiga a que avesca o músico de Iria, envolveita na néboa dunha fuga. O paxariño que el quixera esligar coas súas mans de labrego, afeitas a coller niños caera no ichó daquel creguiño descoñecido que cos ollos pechados nas follas non pasadas do breviario fora escoitando o seu cantar.
O organista de Iria xa non tenotu falarlle. Con ollos embazados pola poeira das bágoas, coa gorxa atuída polo fumeiro dun salaio, estrizou os papeis e tornou aos enterros, ás festas, ao viño e ás esmorgas.
Na terra de Padrón díxose que os médicos de Santiago lle arrincaran do peito un verme. Tornáranlle o sentido. 
Quintana Viva. p. 47 e 48 La Voz de Galicia, S. A.; Corunha. 2002


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