sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

nº102 Comamos como galegos.

Em 1891 saía publicada em El Heraldo de Madrid, a ementa que vai ser servida na celebração da festividade da Virgem dos Remédios. Sendo jantar de galegos não podia ficar escasso.
Já de manhã as mulheres papas e os homens aguardente de Rabo de Galo. Em Brasil, e acho que também no resto de América do Sul, o Rabo de Galo é uma mistura de cachaça e vinho tinto ou conhaque, é dizer, um tóspero dos de toda a vida. Não fazia ideia de que na Galiza se usara este termo, que igual até quem sabe se o levamos nós para as Américas.
Para o jantar, colesterol e vinhos do Ribeiro e Monte-rei; a ceia mais ligeira, até com uma salada com ovos. O resultado é uma pantagruélica jornada gastronómica de exaltação dos produtos das vilas e aldeias de Ourense, isso sim, com umas xouvas que se colaram a última hora.
Mas o que mais interesse me produz, é a parte do baile e as curiosas observações que se fazem. Avisa-se que não se aguarda aos nugalhões, é dizer, que o que chegue tarde perderá alguma das múltiplas viandas. Exige-se etiqueta, isso sim, os homens de calção curto (esqueceram a monteira) e as mulheres de cós baixo, quer dizer, que a gente leve o fato tradicional. Nada de baralhas nem escarros, entende-se que é uma romaria, mas uma romaria na capital, portanto, urbanidade senhores!
E por último, os músicos. Haverá gaitas, berimbaus e sanfona, mas não em totum revolutum como nas foliadas e serões que na actualidade são armados nos pubes folquis, tabernas nocturnas e outros antros afortunadamente já sem tabaco. Os organizadores avisavam de que os instrumentos iram-se alternando, para bom desfrute de cada actuação.
Já mais a sério, haveria que destacar a citação a berimbaus e sanfona num ato de galegos na capital do estado.
Por certo, se alguém se anima a organizar uma jornada culinária como esta, eu levo gaiteiros, birimbaos e sanfona, isso sim, todos a mantido.


A Virxen d'os Remedios

He aqui el menú de las tres comidas con que celebrarán hoy el santo de su Patrona la Santísima Virxen d'os Remedios los farrucos e farruquiñas d'Ourense.

A MAÑÁ
Parva.

Broa.-Papas de fariña de millo (pr'as mulleres e nenas).-Augardente de Rabo de Galo (pr'os homes).

O MEDIODÍA
Xantar.

Pan centéo.-Caldo de berzas.-Pulpo curado é lavado d'a rua d'a Groria.-Xamón de Maceda.-Empanadas de anguías é lamprea.-Fociño, orellas e mans de porco (conservados en manteiga).-Pavías d'0 Riveiro.-Requeixón d'a Serra de San Mamede é tamén d'o fogar de Carballeda e dós Mesós d'o Reino.-Almendras d'Allariz.-Viño d'a Farixa, de Tamaguelos, dó Avia e Becerra de Monterrey.

Á NOITE
Cea.

Pantrigo.-Xoubas fritas.-Troitas escabechadas d'Arnoya é d'a Ponte-Fechas.-Ensalada de leitugas con hovos cocidos.

Baile.
Observaciós.

1º Non se espera os nugallaos.-2.º Os homes de traxe corto e as mulleres de talle baixo.-3.º N'o xantar e n'a cea porcurarase non barallar nin lapotear.-4.º Tocarán as gaitas, os birimbaos e a zanfona, alternando.

Madril, 8 de Setembro de 1891.

Termina el menú con los siguientes versos, que harán enternecer los corazones de los farrucos:

Airiños, airiños, aires,
airiños da miña terra;
airiños, airiños, aires,
airiños, levaime a ela.


Ilustração do jornal madrileno El Globo, 2 de setembro de 1885

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