sábado, 25 de setembro de 2010

nº 95 Aventura castreja

Faz umas semanas recebi uma chamada de telefone na que se me dizia que se estava a gravar um documentário de (em palavras de Xurxo Ayán, assessor científico) Pré-historia Recente e Proto-historia da Galiza. Pediu-se-me opinião sobre duas cenas com intervenção de instrumentos musicais, o convite de Estrabão e uma incineração, na que se desenvolveria um abelhão misturado com cornos ou buguinas.

Ao final participamos como músicos na representação do relato de Estrabão que diz:

«Durante três quartas partes do ano os morados das montanhas não se alimentam senão do bolota, que, depois de seca, é triturada e moída para fazer o pão, que se pode guardar durante muito tempo. Bebem zytos (bebida fermentada) e o vinho, que é raro, é bebido depois dos festins familiares; também não usam azeite mas manteiga. Comem sentados em bancos construídos ao redor da parede, dispostos por ordem de idades e de dignidades, e os alimentos circulam de mão em mão. Enquanto bebem, os homens dançam ao som de flautas e trombetas; nessas danças dão grandes saltos e caem de joelhos.» Geográfica 3,3,7

O meu parceiro, e criador da melodia que interpretamos, foi Emilio Lois, além dum grande músico uma grande pessoa (das que infelizmente já não abundam).

A questão estava em como interpretar não só o que se dizia no texto, senão o que queria dizer aquele que viu e depois contou o que viu a Estrabão, já que ele não foi expectador directo. Resulta difícil pensar que dois instrumentos melódicos puderam estar soando a vez. Se a cena que se relata pudera ter algum rasgo de verossimilitude, a trombeta, trompa ou tuba, deveria ser natural, de jeito que enquanto a flauta ou aulhos fizera a melodia, a trombeta dera uma nota pedal. Com este fim escolhemos uma toba feita com cortiça de castinheiro. Para a melodia, simples e rítmica, uma espécie de rosca de fabricação bretona.

Escolhemos instrumentos pobres ou silvopastoris porque consideramos que em qualquer época os músicos utilizaram elementos do seu entorno mais próximo para elaborar tubos sonoros, palhetas, sonadores, etc.

Em resumo, a nossa pequena participação neste documentário de ficção, deu para uma encenação de música evocatória, é dizer, que os sons produzidos pelos nossos instrumentos, ilustrem um relato conhecidíssimo.

Para o debate sobre a combinação de instrumentos do tipo aulhos & trompa, deixo esta ilustração da famosa cerâmica de Lliria.

celtiberia.net

Por último, vaia o meu agradecimento a Xurxo Ayán, assessor científico e Toño Fernández, documentalista, pela sua confiança no meu conselho e a Emilio Lois, músico, pela sua cumplicidade.

Mais informação no blogue de Xurxo Ayán: arqueoneixon.

As provas do delito:

foto: Xurxo Ayán

foto: Xurxo Ayán

1 comentário:

Isabel disse...

Que bonito sais... Pareces um celta calaico dos tempos de Breogão! Soube por André Pena desse texto de Estrabão há meses. Muito interessante e também as referências de Liria. Beijos.