
Surpreende o extremado naturalismo da figura do anjo. A sua posse, como colhe o instrumento e até o próprio instrumento em si, semelha indicar que o pintor fiz o seu desenho do natural, observando a um gaiteiro em plena actuação.


As mãos colhem o ponteiro com "musicalidade", dentro do complicado que resulta sempre que a postura pareça natural. A mão direita semelha acariciar a madeira com os dedos esticados, numa atitude muito gaiteiril.
E por último, a gaita, um exemplar perfeitamente crível. O bordão, colocado sobre o ombreiro direito está em posição quase vertical, como corresponde ao uso dum fole de cabrito. Está formado de três peças torneadas, rematado por uma copa um bocadinho desproporcionada.
De todas as imagens que tenho visto sobre iconografia da gaita, esta é a que até o de agora mistura dum modo mais espectacular antiguidade e realismo. Alguma outra, como com a que fecho a postagem, ainda tardaria duzentos anos em ser desenhada pela mão do grande Rafael Sanzio.
Venezia, Gallerie dell'Accademia

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