Meus caros:
"Eu sou Orjais, um raparigo de aldeia, como quem diz um ninguém."
Assim, com este empréstimo de Neira Vilas, poderia começar o relato da minha vida. Nasci um dia de Santo António, padroeiro de Lisboa, no 1969. De ser certo o que diz minha mãe, fiz os primeiros choros por volta das sete da tarde, coincidindo que nesse momento, uma banda de música passava a tocar por baixo da nossa janela. Portanto, semelha que estava no destino que fosse reintegracionista e músico, ainda que a dizer verdade, também no andar inferior da nossa moradia havia uma taberna e mais sou abstémio. A minha família era de nómadas, pelo que aos quatro anos resolvemos ir viver a Ilha de Orjais, um território onde moravam os Argonautas do Mar da Arouça, pessoas com rostro salgado e coração destemido. Esse território já não existe. Um dia, alguém considerou que os lugares singulares devem desaparecer e se produz o cataclismo. Por isso a Ilha de Orjais só pode ser visitada no mar dos meus pensamentos, onde abóiam lembranças inconexas, cosidas umas a outras por delgadinhos fios de saudade.
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