sexta-feira, 30 de agosto de 2019

nº 238 Alcumes centenários de Rianxo .


Na postagem nº 236 mostrava uma fotografia dum coreto desenhado por Castelao. Essa imagem encontra-se no Arquivo do Museo de Pontevedra, numa pasta baixo o título genérico de Ría de Arousa. Vocabulario e Folklore de pescadores. D. Casto Sampedro contactou com pessoas de todos os concelhos do Barbança na procura de dados relacionados com a vida marinheira da nossa bisbarra. Um dos documentos mais curiosos contém uma relação de alcumes de Rianxo, supostamente os mais usados na altura, lá pelo 1915. O autor da coletânea foi o padre Valentim Losada, tio de Manuel Antonio. 

«Lista de apodos muy usados en Rianjo (La Coruña)

A.

As de Cuerno, A Mentireira, A Saiñeira [de saim, gordura que deita a sardinha], As de Pelitón, Almirante, Aurejas, As de Pelengrín, A d'abuelo.

B.

Babosa, Balila-na-pedra, Barbuda, Bechaco, Baila-baila, Boyana, Bajulla, Bajalona.

C.

Cacho, Coxico, Cú-de-pedra, Cú-de-ouro, Cú-de-lura, Cú-la-pau, Castelo, Careca, Cairompe, Conasio, Carabela, Carabelita, Caramelo, Caixón, Cacharula, Calzones, Colondro [cabaço], Castañola, Cuciñeiro, Caramuxo.

Ch.

Cheiriña, Chaveras, Chubasco, Chiplé, Choca, Chonfa.

E.

Escuera.

F.

Fariña, Facoca.

G.

Gía.

J.

Jolá, Joreta, Jaitiña.

L.

Luis da Melra, Lirenta, Lemeña.

M.

Maya, Masidrán, Morceja, Menoro, Mascata.

O.

O'Urco, O Paneiro,

P.

Peteira, Peteiruda, Pempeno, Peneireira, Parrulas, Pindonga, Patife, Pexeja.

Q.

Quizá-zalga.

R.

Recatorce, Roxa, Resquixa.

S.

Sevilla, Sudre, Serodio.

T.

Tetón,Tripa-montes.

V.

Vizcaya, Velera.

X.

Xan das Polas, Xan de Pingue.

Z.

Zarical.»

Seria interessante estudar a origem destas alcunhas, a sua supervivência no tempo, a transmissão por via paterna ou materna, etc. mas é tarefa para outro momento da minha vida ou melhor ainda, para outra pessoa. Em qualquer caso na leitura desta escolma há que ter em conta a linguagem marinheira, os localismos, o sesseio próprio desta fala, etc. Colondro, por exemplo, é o termo próprio de Rianxo para denominar ao colombro ou cabaço, na atualidade pouco ou nada usado pelas novas gerações. Castanhola, com certeza, faz referência a um peixe, não ao instrumento musical de percussão e Quizá-zalga parece mui apropriado para alguém ser muito chato com um zarabeto que teve a desgraça de nascer no paraíso das sibilantes.

Também neste arquivo do Museu de Pontevedra existem comentários dos colaboradores de Casto Sampedro sobre a origem dos alcumes dados aos habitantes das diferentes vilas da nossa comarca. Por exemplo, há diversas explicações de qual é a causa de os rianxeiros ser chamados de "mata a mosca na perna". Num dos papeis lê-se: «Rianjo. Mata a mosca na perna. Mosqueiros. Porque como solo se dedican a la pesca, cuando es escasa o no la hay, cosa mas frecuente de lo que conviene, se echan al sol y al picarles las moscas las matan con mucha habilidad».

Disto e do porquê aos de Rianxo também se lhes chama Marra um, fala numa carta de 1915 Manuel Rodríguez Insua:

«Rianjo. 22/X/1915

Estimado D. Juan.

Recibí su apunte por Bravo, al que contesto.
El mote de “Marra un” es muy antiquísimo y aplicaban ésto siempre que contaban alguna cosa, por ejemplo; si contaban un ciento de sardinas y faltaba una, en vez de decir falta una decían “marra unha” y siendo jureles”marra un” (y aun hoy lo dice algun viejo). Lo del “mata á mosca na perna” es de cuando están los pescadores en las playas o (postas) esperando a que sea hora para largar el aparejo y unos durmiendo, otros jugando la brisca y todos ellos con el pantalon subido hasta la rodilla; viene la mosca y pica, y ellos van levantando la mano poco á poco y la dejan caer de fuerza y matan la mosca quedando muy conformes con haberla matado.
Pero Dios libre a cualquiera que le llamen a los marineros “marra un” que seguidamente contestan “marra a p.t. que che pareu” y cuando le dicen “mata a mosca na perna” contestan fillo de p.t. todo esto y algo más y a veces en la mar cuando se juntan los de Villajuan y Rianjo tienen ido a las manos. Del Chazo y Boiro, no se nada.
Recuerdos a su señora de toda ésta familia, junto con las mias, y para U. el aprecio de su affno. S. S.

Manuel R. Insua.»

Para perceber bem a mensagem desta carta temos que desvendar a identidade dos nomes que aparecem na mesma. O antiquário pontevedrino D. Casto Sampedro, fundador da Sociedade Arqueológica e do museu da capital provincial, tinha como colaborador da zona de Rianxo –além do crego Valentín Losada–  a Juan Goday Goday, dono da fábrica de conservas do Castillo. Este é o D. Juan a quem vai dirigida a missiva. A continuação aparece o nome de Bravo, que pelo contexto do conjunto documental penso que deve de ser Manuel Bravo Fernández, presidente da comissão de festas da guadalupe do 1916. Por último só resta falar do autor da carta. 
Manuel Rodríguez Insua foi «carpinteiro, encargado da fábrica de conservas no "Castillo", da familia Goday, comerciante, propietario, recadador do imposto de Consumos, e concelleiro (cargo do que renuncia por enfermidade, en marzo de 1924)». Rianxo na súa historia, Comoxo, Xosé & Santos, Xesús.
Em 1915 a fábrica já estava em franca decadência. Apenas uns anos depois, em 1918, começam a publicar-se anúncios com a intenção de a vender junto com as fincas anexas. 

«Venta de fincas de producción y recreo.
FÁBRICAS. En la ría de Arosa, provincia de Coruña se vende una Fábrica de Salazón y edificios que fueron de Fábrica de Conservas y casa habitación, ocupando todas las edificaciones una superficie de unos 1500 metros cuadrados. Es la única Fábrica que existe en la localidad y alrededores reuniendo excelentes condiciones para trabajar.
En la fábrica existen a la venta alguna maquinara y útiles de fabricación. 
FINCA DE RECREO. La huerta unida a la Fábrica, cerrada con altas murallas de piedra, tiene unos quince ferrados de sembradura, con árboles frutales y viña, su mejor producción; dada su inmejorable situación dominando desde ella toda la ría de Arosa, es de lo más hermoso como finca de recreo.
para informes, dirigirse a D. Juan Goday Goday en Villagarcia de Arosa.» Diario de Pontevedra, 27 de dezembro de 1918.

Em 1923, os nomes do médico de origem catalão e o vizinho de Rianxo Manuel Rodríguez Insua aparecem juntos numa nova publicidade para a venta da fábrica que nos achega alguma informação mais de como eram as instalações:

«En la ria de Arosa, Rianjo, se venden o alquilan: fábrica de salazón con casa de siete habitaciones y una gran galería y con edificios fueron para fábrica de conservas y huerta de unos quince ferrados, con agua potable, viñedo y árboles frutales en toda su producción, cerrada con altas murallas, hermosa situación, en el centro de la ría, para finca de recreo.
Para informes, en Rianjo, don Manuel Rodríguez Insua, en Villagarcía, don Juan Goday Goday». Galica: diario de Vigo. 7 de junho de 1923.

Em 1928 morria em Vila Garcia Juan Goday Goday e Manuel Rodríguez em 1934. Afortunadamente, a morte do velho encarregado da fábrica do Castillo evitou-lhe ver como os assassinos do seu filho, Manuel Rodríguez Castelao e do seu filhastro, José Losada Castelao, «os Insua», utilizavam o velho terreno dos Goday, –na altura já dos Baltar– como campo de concentração e que até o próprio General Mola assenhoreara lá como amo do Castillo. Como diria Castelao, cousas da vida!

P.S. O Manuel Rodriguez Insua mostra uma magnífica caligrafia escolar na sua carta enviada a Juan Goday. O texto não é só esmerado no estilo caligráfico senão mesmo na ortografia e regras de pontuação. Fiquem estas imagens como exemplo.

Cabeçalho da carta de Manuel R. Insua a Juan [Goday]
Museo de Pontevedra-

Assinatura de Manuel R.[Rodríguez] Insua
Museo de Pontevedra.


5 comentários:

María carril disse...

Bos días o dos alcumes esta ben pero como era tan abitual nas aldeas tamen se usaban moito. Como non debían quererlle hay unha frase que di. Dañe dañe que e da ardea. 😄

José Luís do Pico Orjais disse...

Não todos os alcumes são postos por "mal nome". Há muitos carinhosos, e algum, como o de carcamão na Arousa, levado a muita honra.

María carril disse...

boas profe: estou de acordo que non todos son por mal nombre pero pensando nos da miña aldea.por ejemplo nos somos os do crego a mucha honrra.pero claro a nosa casa era dun crego entonces vexo normal pero na aldea habia pepe do grelo.manuela a xola a eso merefiro non lle encontro sentido.un saudo profe

Unknown disse...

O Pempeno ten unha pequena rua o pé da praza de Castelao chamado "o calixón da Pempena".

José Luís do Pico Orjais disse...

E onde está essa rua?