Um artigo do ABC bastante sano.
Reflexões acerca dum artigo publicado no ABC em 18 de setembro de 1976.
Da pouca bibliografia com a que contamos sobre o Arosa Folk 76,
nenhum texto mais revelador e sintético que este artigo publicado só uns dias
depois de se celebrar o festival. Para os não iniciados dizer que este evento teve lugar na primeira
semana do mês de setembro de 1976, em a Ilha de Arousa, no rueiro de Testos. No artigo aparecido em ABC fica bem
claro as tensões vividas na altura, num momento histórico de mudança no que o
festival se converteu em paradigma do instinto de sobrevivência dumas
instituições anacrónicas tanto no âmbito político como no social.
O título do texto de María Ángeles Sánchez, Un festival bastante sano, resume perfeitamente o
acontecido naquele setembro do 76. A jornalista
parece dizer: – Sei o que fizestes no verão passado, mas só vou contar um bocadinho. Durante três dias uma turba de
nacionalistas, hyppies, esquerdistas espanhóis, falangistas,
nacional-católicos, secretas e arousãos alucinados conviveram em sete
quilómetros quadrados. Cabe lembrar que na era pré-ponte o único médio de transporte para nos comunicar com o continente era o barco. Isso sim, a organização contou durante aquele longo weekend com um helicóptero que não cessou de fazer viagens. E contra todo prognóstico
os incidentes foram mínimos, mais fruto das ingestão massiva de álcool que da
subversão política. Por isso se destaca a saúde do festival, desde um conceito
dicotómico: saúde física e saúde política, como naqueles manuais de formação do
espírito nacional.
Mas neste artigo o primeiro a destacar são as
cifras:
- Participaram 400 músicos de 46 províncias de
todo o Estado Espanhol.
- Houve 20 horas (oficiais) de música,
repartidas em jornadas de manhã e tarde.
- O orçamento inicial foi de 2.000.000 de pts.
chegando a ser finalmente de 7.000.000 de pts., 40.000 €, uma autêntica
fortuna.
- 40 bilhetes de avião para jornalistas dos que
só foram utilizados a metade.
- Dá-se a cifra de 6.000 assistentes, a qual
semelha algo conservadora tendo em conta que na Arousa havia cerca de 5.000
habitantes. Em qualquer caso os músicos e público presente que entrevistei lembram uma
assistência multitudinária.
Resulta fulcral para entender Arosa Folk 76 ter
em conta o contexto político. Morto o ditador em novembro do 1975, os meses a
seguir iam ser de paulatina descomposição do regime personalista nascido em redor da figura de Franco. Morto ele, acabou-se a raiva. Órfãs do pater familias, as diferentes polas da árvore do nacional-catolicismo
procuram acomodo no estado novo, no que os imobilistas desaparecem para sobreviver só aqueles
feitos de pasta moldável .
Assim, em junho do 76 demite Arias Navarro e o Bourbón nomeia presidente a Adolfo
Suárez, o mais hábil acomodatício.
Nesta tessitura, a Delegación Nacional de la
Juventud, denominada assim desde o 1969, antes Frente de Junventudes,
reivindica com Arosa Folk o seu direito a existir «frente a los que pretenden
monopolizar las actitudes juveniles». De fato, o festival vai ser como o
canto do cisne —um canto caríssimo— pois em 1977 sai o decreto de
dissolução da Delegação Nacional de la Juventud.
Uma das perguntas à que todavia não encontrei
resposta certa é o porquê de ter-se escolhido à Ilha de Arousa como cenário do macro
festival. É possível que na mente dos organizadores estivesse presente a
estética Woodstock ou, ainda mais, o Festival da Ilha de Wight, celebrados entre
1968 e 1970, sempre no mês de agosto: «Se trata de la mayor manifestación
“folk” celebrada hasta ahora en España, capaz de rivalizar com el festival
celebrado no hace muchos años —y cuyas fotos dieron la vuelta al mundo— en la
isla de Wight, en el canal de la Mancha.» ABC 09/07/1976 p. 29 A Ilha permitia um isolamento
interessante para manter a ordem, havia natureza virgem para fazer escoteirismo,
e a península estava bem pertinho por se a guarda civil tinha de intervir. De
fato, em Vila Nova houve um destacamento em previsão duns incidentes que apenas se deram. «Consideramos que era un bello marco en Galicia y con un paisaje precioso, también porque reúne una serie de condiciones favorables para llevar a buen término la consecución del certamen.» Odiel, 02/09/1976 p. 13 Quem diz isto último é Julián Granados, o director artístico do Arosa Folk e o ideólogo que propusera três anos antes à Delegación Nacional a criação dum evento destas características.
Bandeiras galegas e anarquistas apareceram
penduradas o primeiro dia do festival. Isto era frequente nas concentrações
populares, pelo que já era aguardado pela organização. Os do Frente de
Juventudes, assim se lhe continuou a chamar a pesares do câmbio de denominação,
contra-atacaram pendurando eles próprios bandeirolas galegas: «Y es cierto que el
blanco y azul ondeaba junto con la bandera nacional y la enseña falangista.» O mesmo aconteceu com o hino: «Mientras que el
himno gallego era cantado los dos primeros días, ya de madrugada, por los
grupos que se habían distinguido como más combativos, en la clausura fueron los
propios organizadores los que lo iniciaron desde el escenario. Y resultaba
curioso ver como, bajo el mismo himno, puños cerrados, saludos fascistas y
gestos de victoria se mezclaban entre los espectadores. Y es que de todo eso
había.»
Nos cenários cantou-se a León Felipe, Alberti, etc. Xoan Silva, representante da província de Ponte Vedra,
interpretou Inverno, de Celso Emílio e Acción Gallega de Cabanillas. Os galegos foram, pelo simples feito de
cantar na nossa língua, os mais vitoriados. Pela mesma razão, a apresentadora Eva
Gloria (1951-2007) foi apupada. Pedia-se-lhe que falara na nossa língua ao que ela, acima do
cenário, respondia entre lágrimas que quisera faze-lo, mas não sabia. Além dos gritos teve de aguentar algum cano de
verdura, vegetal emblemático do Carnaval arousão, que lhe foi presenteado por um público furioso. O outro condutor do festival foi José María Comesaña (1949-1996), que até pouco antes da sua morte trabalhou nas tardes de María Teresa Campos. Os
organizadores achavam que contratando a Eva Gloria, apresentadora do
musical juvenil da TVE Aplauso e a cara mais sexy do ente, estava todo feito.
Mais uma vez se equivocaram e logo se arrependeram de não trazer um produto
local. Todo faz pensar que a eleição de Eva Gloria e Comesaña foi uma aposta pessoal de Julian Granados.
Um dos aspectos mais controvertidos é a de se
houve veto a certos cantores de intervenção. Fala-se de que a
organização convidara a grandes nomes como Lluis Llach e Maria Del Mar Bonet. Também aos Vozes Ceives, tais como Benedicto,
Bibiano ou Miro Casabella. De ser certo eles recusaram ir, mas é possível que
existisse um veto ou que simplesmente fossem ignorados.
Como dado não carente de certo pitoresquismo, lembrar que o festival contou com um hino próprio composto pela cantora santanderina Maruca, nome artístico de Maria del Mar Quiroga de Viedma. Titulou-se dito hino Isla de Arosa, ouArousa Island, na sua versão em inglês. A partitura chegou a ser editada em papel mas, que eu saiba, nunca em vinilo.
Por último destacar as fantásticas fotografias de Rafael Rubio que acompanham ao artigo. Além de apresentar quatro imagens em cor, das poucas que tenho visto do festival, há uma em preto e branco na que aparece o rosto de vários carcamães assistentes ao evento. Em primeiro plano, María Suárez García, —Maria a Cuncha— e a sua filha Maria Garcia Torrado. O conhecimento da identidade das retratadas devo-lha as pesquisas do meu irmão Xoan Dopico Orjales.
Como apêndice a esta postagem quisera transcrever aqui um artigo de Juan Otero Dios, Nitucho, autor duma novela, Pregones de una caracola y narraciones de un grumete. Mesmo que nascido na Ilha de Arousa —era filho do grande Juanito de Luisa— morava em Huelva onde colaborou com o jornal Diario Odiel. O 28 de agosto de 1976 publicou um artigo titulado Arosa Folk 76, no que amostra a sua surpresa pela celebração deste evento na sua ilha natal. Sirva esta achega como reconhecimento à família dos Otero da Arousa, uma saga de escritores ainda não suficientemente reconhecida pelos seus conterrâneos.
AROSA FOLK 76
(Con mi recuerdo mas entrañable para los bravos marineros isleños, eternamente empapados por las olas y quemados por el Sol).
Con mayúscula sorpresa, leo en la prensa haber sido elegida mi cuna, la Isla de Arosa, como escenario del «Festival Arosa Folk 76».
Nunca más acertada elección para ello, habida cuenta de las bellezas naturales atesoradas por ese puñado de tierra, anclada en el casi matemático centro de la ría del mismo nombre, cuyas ondas mecieran los sueños literarios de don Ramón del Valle Inclán y los Camba, amén de otros grandes literatos y poetas que vieron las primeras luces en las privilegiadas riberas arosanas.
Como digo al comienzo, leo la noticia bajo la influencia de la sorpresa, habida cuenta de que la Isla de Arosa siempre ha sido como una cenicienta comarcal, que si algo posee de valor es totalmente intrínseco y no por obra y gracia de concesiones gratuitas de los gobiernos que se han sucedido a lo largo de su historia.
Por ejemplo, la Isla de Arosa, es el emporio conservero más importante de la Península en razón a su geografía. En ella, ha nacido la fabricación de conservas de mariscos en el mundo y los pescados han sido conservados con antigüedad equiparable a la de cualquier destacado centro industrial conservero de la nación. En la antigüedad también fueron sus astilleros, los constructores de naves para luchar contra corsarios, y para defender la nación de fuerzas invasoras.
En cambio, la Isla de Arosa, siempre ha carecido de todo o casi todo. Una de sus necesidades más perentorias, es un puente que la una a la Península, ya que sus siete mil habitantes se hallan aislados y a merced de todas las inclemencias meterológicas, que en los inviernos de Arosa causan grandes trastornos a sus moradores. Este puente, es el sueño dorado de los isleños, súplicas que siempre fueron desoídas, tal vez por propia conveniencia de intereses creados ajenos, que se lucran masivamente a costa del aislamiento isleño.
Por eso este «Arosa Folk 76», me escama grandemente que sea ubicado en la Isla de Arosa. A no ser que sus organizadores carezcan de los suficientes medios económicos para costearlo, o que la subvención, si es que la hay, sea de tan poco valor que no pueda con ella costearse la intervención de una pareja de gaiteros. Entonces, claro, mejor escenario y mas barato, no estaría al alcance de la comisión. Y con respecto a civismo, también es casi seguro que pocos lugares podrán presumir como ella puede hacerlo. Con decir que estos 7.000 habitantes viven sin control de autoridad alguna en total armonía, creo que está más que demostrado el alto grado de humanidad y educación ciudadana.
Y como no hay buena fiesta sin buen comer, la mariscada y variedad conservera que a buen seguro la gentileza y hospitalidad isleñas aportarán gratuitamente, habrá sido un importante renglón más a favor de la elección del escenario sin par designado. Por lo menos, por una vez se ha demostrado buen gusto y hecho justicia.
Juan Otero Dios
ODIEL Sábado, 28 de agosto de 1976 p.12
Cartaz Arosa Folk 76
Arquivo Xoan Dopico
Ver: Arosa Folk 76 I
2 comentários:
Quen non tuvo unha camisola do arosa folk? creo que todos os nenos tivemos unha, fora unha moda coma hoxe os lacoste ou nike. Nos íamos moito a testos, á de tía Elvira. Lembro a cantidade de xente que por alí se movía tendo en conta que testos era daquela un rueiro moi tranquilo. É certo o que dis da boa convivencia. Un da organización, recordo un home con bigote e algo maior, andada todo o día cun land rover de acima para abaixo. O home despois de vernos varias veces ofreceuse a levarnos no land rover e claro, non había daquela moitas oportunidades de subir a un coche na Arousa, e aínda quedaba un cacho até a de miña tía, así que a disgusto de meu pai subimos todos no land rover. Recoro que iso aconteceu algún día máis e meu pai sempre ía asustado polo camiño pensando en viña o land rover e ter que subir doutra volta nel. O home érache ben amábel e parecía boa persoa.
Pois sim que lembro aquelas camisolas. Conhecendo a teu pai, não me estranha que não quisera subir-se ao land-rover dum do Frente de Juventudes. Entre os da político-social, que andavam de calças curtas entre a gente, havia um polícia novinho. Os moços da bisbarra quando reconheciam a um de secreta diziam-lhe: - Largha que cheiras.
Este homem acabou de presidente de câmara municipal num concelho galego pelo PSOE, ainda que brevemente. Como dizia o poeta: todo pasa y todo queda.
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