Sempre me fascinou o uso da cor nos cruzeiros e petos de ânimas e não compreendo como carecemos de uma tese de doutoramento ou algum trabalho sério que fale deste tipo de policromia ou quando menos eu não a conheço. Afortunadamente, ainda que escassos, conservamos alguma obra que nos permite saber como seriam as coisas quando cruzeiros e petos luziam suas cores em todo o seu explendor. Um dos exemplos mais formosos é o de Marrúbio, em Moimenta, bem conservado graças a estar coberto por um alpendre. Nele podemos ver e imaginar pigmentos vermelhos ou telha, cobalto, preto, como no hábito do Santo Antão, verde...
Na paróquia de Rianjo há dois cruzeiros extraordinariamente parecidos ao de Marrúbio e que ainda conservam traças da policromia original. São o cruzeiro da praça de Dieste e outro no Rianjinho, próximo ao paço de Viturro. Coloco as fotografias dos três com as suas datações:
Marrúbio. Fonte: diazelvis 1778
Praça de Dieste 1791
Rianxinho. Fonte: Fotos de Rianxo 179?
Rianjinho. Detalhe.
Para outra ocasião deixo alguma reflexão mais sobre o modelo destes cruzeiros onde os paus da cruz presentam os nós dos ramos cortadas e as virgens são especialmente formosas, como neste outro exemplo taragonhês do que já tenho falado.
Coincido com Castelao quando afirma: «Podemos decir que non hai cruceiro que non fose pintado algunha vez - pol-o menos cando se fixo- [...]» As cruces de pedra na Galiza p. 129 Se isto é assim, o escultor devia conceber o seu trabalho para ser iluminado e só consideraria rematada a sua obra quando os drapeados, os mantos, os rostros colheram cor. Nos cruzeiros acima citados resulta evidente. As partes luminosas do fato da virgem pintavam-se de vermelho e as escuras, ocultas pelas dobras, de preto.
Mas que acontecia com os cruzeiros de capela ou Loreto? Como eram pintados? Eu faço a ideia de que o basamento, o varal e a capela eram-no de branco. Obviamente é só uma impressão motivada por fotografias e por restos de pintura que tenho observado neste tipo de cruzeiros. De ser isto certo, quiçá esta prática tenha a ver com a própria natureza do monumento, simular uma capela ou mesmo a Santa Casa da virgem de Loreto. Mas a cruz, as imagens e o interior do nicho sim eram profusamente policromadas.
Numa brochura muito interessante titulada Petroglifos cruciformes, cruceros y petos de animas dirigida por Domingo Regueira González, autor da web Petroglifos cruciformes, podemos ver o estado do cruzeiro de Santa Clara no Deão Grande ca. de 1986 [ano de publicação].
Hoje, apenas 27 anos depois, o cruzeiro de Santa Clara sofreu o ataque dos cromofóbicos, estando na atualidade em pedra viva. A maioria dos monumentos perderam as suas cores pelo efeito do passo do tempo, mas outros foram maltratados, tirando-lhes de mala maneira a sua iluminação. O exemplo de Santa Clara em Riveira é significativo. Alguém pode dizer que a pintura já não era a original, que fora repintado pelos vizinhos, que a imagem da virgem com o neno resulta grotesca. É possível. Mas também é possível que a limpeza fora feita, neste ou em tantos outros casos, por funcionários municipais sem qualquer responsabilidade, mas também sem qualquer preparação. Quem sabe o dano que puderam provocar com os seus atos!
Coincido com Castelao quando afirma: «Podemos decir que non hai cruceiro que non fose pintado algunha vez - pol-o menos cando se fixo- [...]» As cruces de pedra na Galiza p. 129 Se isto é assim, o escultor devia conceber o seu trabalho para ser iluminado e só consideraria rematada a sua obra quando os drapeados, os mantos, os rostros colheram cor. Nos cruzeiros acima citados resulta evidente. As partes luminosas do fato da virgem pintavam-se de vermelho e as escuras, ocultas pelas dobras, de preto.
Mas que acontecia com os cruzeiros de capela ou Loreto? Como eram pintados? Eu faço a ideia de que o basamento, o varal e a capela eram-no de branco. Obviamente é só uma impressão motivada por fotografias e por restos de pintura que tenho observado neste tipo de cruzeiros. De ser isto certo, quiçá esta prática tenha a ver com a própria natureza do monumento, simular uma capela ou mesmo a Santa Casa da virgem de Loreto. Mas a cruz, as imagens e o interior do nicho sim eram profusamente policromadas.
Numa brochura muito interessante titulada Petroglifos cruciformes, cruceros y petos de animas dirigida por Domingo Regueira González, autor da web Petroglifos cruciformes, podemos ver o estado do cruzeiro de Santa Clara no Deão Grande ca. de 1986 [ano de publicação].
Hoje, apenas 27 anos depois, o cruzeiro de Santa Clara sofreu o ataque dos cromofóbicos, estando na atualidade em pedra viva. A maioria dos monumentos perderam as suas cores pelo efeito do passo do tempo, mas outros foram maltratados, tirando-lhes de mala maneira a sua iluminação. O exemplo de Santa Clara em Riveira é significativo. Alguém pode dizer que a pintura já não era a original, que fora repintado pelos vizinhos, que a imagem da virgem com o neno resulta grotesca. É possível. Mas também é possível que a limpeza fora feita, neste ou em tantos outros casos, por funcionários municipais sem qualquer responsabilidade, mas também sem qualquer preparação. Quem sabe o dano que puderam provocar com os seus atos!
Mas agora interessa um cruzeiro dos nossos, um que se encontra nas Mirães, paróquia do Aranho.
O do Campo do Rio é um cruzeiro de capela, em cujo interior houve outrora a imagem duma virgem orante, hoje desaparecida, como podemos observar no desenho de Castelao.
Uma possível interpretação da trama desenhada nas paredes interiores poderia ser esta:
Em definitiva, um cruzeiro é uma obra escultórica em pedra policromada. A razão de que na atualidade vejamos estes monumentos desprovidos de cor tem diversas explicações, resulta um tema complexo e merece da atenção de especialistas. Mas nós, o zê povinho, temos de perceber a importância que tem conservar os escassos restos de policromia na esperança de que no futuro esta pintura esvaída, fragmentada, nos permita reconstruir, mesmo que só de modo virtual, o explendor cromático original.
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