NÃO
Há muitas formas de dizer NÃO.
Por activa e por passiva,
com a boca pequena ou a berros cósmicos,
acenando um dedo
ou com abalo de cabeça.
Eu digo não cantando,
com a mesma voz que entoa berços,
a voz que sussurra
e deita palavras tolerantes e serenas.
Também há quem diz NÃO
parado na rua, aguardando a chegada da malta.
Esse homem ou mulher quer companhia,
o abrigo de cem, mil, milhões de NÃOS,
a ocupar o asfalto.
Conheço uma menina que diz NÃO
com olhos de azucar,
e a um pai que quisera comer-lhos a lambetadas.
Conheço a um demo que negou ao chefe,
e a um anjo que continua a ser porque NÃO ousa.
Mas hoje precisamos de unanimidade.
Digamos um NÃO cooperativo
desde a profunda indignação que nos consome.
NÃO aos culpáveis da derrota,
NÃO aos submissos, aos palermas,
NÃO ao contrabando de sentimentos,
NÃO a ocupação violenta das nossas casas.
Mas, por cima de tudo,
digamos NÃO aos grandes e pequenos papahóstias
que legitimaram, com o seu voto,
a quem nos governa.
Texto: Orjais ©
Texto: Orjais ©
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