sexta-feira, 21 de julho de 2023

nº 255 Faustino Rei Romero e Artur Garibáldi. Uma foto em Braga.


O poeta Artur Garibaldi Pereira Braga (1913-1992) viajou por primeira vez à Galiza em 1935. Parece que esteve um tempo, o suficiente como para apaixonar-se do país, e também duma viguesa. Em qualquer caso, a sua conexão com a nossa terra propiciou um viçoso ramo de amizades, eventos, publicações e cargos honoríficos.

Foi autor, por exemplo, do livro de poemas À Cidade de Vigo, dedicado a todos os seus amigos da dita urbe galega. Neste estranho poemário, o rapsoda português, dedica uma das suas composições a um endereço de correios, polo que sabemos, com certeza, onde era que morava sua amada olívica.

Há uma casa na Espanha

que tem lá meu coração:

por ela fiquei a amar

a gloriosa Naçao.

-Linda cidade de Vigo:

Sanjurjo Badia, 9!


Como para não se dar por aludida!

Desde a sua primeira visita a Galiza em 1935, o vínculo com a nossa terra não deixou de crescer, sendo nomeado em 1940 Acadêmico Correspondente da Real Academia Galega. Uns anos mais tarde, no 1944, organiza o primeiro Torneo Poético Luso-Galaico, com o que pretendia um maior achegamento literário entre ambas comunidades.

Como ativista no movimento de unidade de ação entre intelectuais de aquém e além Minho, foi promotor e participou em númerosos congressos e certames, como a Assembleias lusitano-galegas celebradas em Braga (1955), a primeira, e A Corunha (1961), a segunda.

Por certo, a Real Academia Galega publicou as atas e comunicações em 1965, no prelo da Editora Nacional, imprensa do regime franquista, dedicando-lhe o volume Al Exmo. Sr. D. Manuel Fraga Iribarne


Foto de família dos assistentes à Assembleia corunhesa. O Garibáldi aparece acima, no centro, à esquerda, segundo olhamos, de Ferro Couselo. 
Primera y segunda asamblea lusitano-gallega: actas y comunicaciones. Asamblea Lusitano-Gallega (1ª: 1955: Braga) Madrid : Editora Nacional, 1967

O seu posicionamento político levou-no a militar, sem fazer demasiado ruído, nas forças progressistas contrárias ao Salazarismo. Assim, entre as suas obras, há um curioso Polonia heroica, poemário publicado em 1941 e traduzido ao espanhol por Enrique Romero Archidona. Em entrevista publicada em El Pueblo Gallego (5 de Março de 1957), Garibáldi afirmava que dita publicaçao constituyó un éxito, pero sentimos mucho miedo. -De Hitler? -Y de los muchos amigos que tenía entonces.

Os seus poemas tiveram acolhida na Galiza em jornais e revistas como Sonata ou Spes. O seu círculo de amizades mais íntimo estava no grupo de poetas vigueses, como os Álvarez Blázquez ou o próprio Celso Emílio. Entre esses elegidos estava o nosso Faustino Rei Romero, com quem vai colaborar nas páginas literárias dedicadas, nos jornais portugueses, à literatura galega.

Algumas semanas atrás, por sorte, abri um velho livro guardado no Fondo Local de Música do Concello de Rianxo e, entre as suas desarrumadas páginas, encontrei um pequeno recorte do jornal Faro de Vigo. Está datado em 22 de fevereiro de 1952. O breve, assinado por Faustino Rei Romero, vem ilustrado por uma fotografia de Artine, com o próprio Faustino e o Arturo Garibáldi como protagonistas.



Os dois amigos poetas teceram caminhos de ida e volta entre a Galiza e Portugal, e ambos lutaram, ao seu jeito, contra as ditaduras peninsulares. Obrigado.

 


Dedicatória autógrafa de Arturo Garibáldi no exemplar de À Cidade de Vigo da minha coleção.

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