terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

nº 249 Uma coleção de fotografias de Rianxo, o Museo de la Baraja e um sujeito de Vox que passava por ai.

 

Há alguns meses comprei uma pequena coletânea de fotografias de Rianxo ao Museo de la Baraja de Madrid. O seu diretor as vendeu para mim muito baratas, sabendo que o seu destino era a vila onde as instantâneas foram tiradas. Agradeço imenso, O lote tem alguma leitura curiosa e que gostaria de partilhar. É por isso que começo mostrando-vos as belas imagens.

Fig. 1
 
Fig. 2

Fig.3
 
Fig.4
 
Fig.5

A qualquer pessoa acostumada a ver fotografias históricas de Rianxo, o conjunto irá imediatamente sugerir duas questões:

1º A maioria das imagens são muito conhecidas por estar penduradas nas paredes do Museu de Manuel António e fazer parte da coleção de postais de La Colmena, estabelecimento de C. González.

2º Também que a qualidade de exposição das minhas cópias é muito baixa, tendo em conta que de alguma delas existem reproduções magníficas.

Sendo isto absolutamente verdade existem vários aspectos que tornam a este conjunto agora no meu poder em algo do maior interesse.

A primeira questão a ter em conta é a autoria das fotografias e a sua datação. No Museu de Manuel António, e em diversas publicações, insistem em atribuir-lhas todas a José Pérez González (1901-1942), músico e fotografo amador. Já no 2012, avisava numa postagem de Ilha de Orjais da improvabilidade, senão impossibilidade, de que alguma destas fotografias fossem do primo de Manuel António. Aquela da que eu falava especificamente, datada em 1912 e na que aparecia um homem mostrando um jornal coa notícia do afundimento do Titánic, teria que ser obra dum menino de apenas onze anos. Depois de um tempo, soubemos que em realidade essas primeiras fotografias foram tiradas por José Barreiro, ajudado pelo seu amigo e correligionário, José María Varela Torrado.

Distinguir quais foram feitas por Pepito Pérez e quais por José Barreiro é coisas de uma análise profunda para a que precisaríamos de ver o tipo de placas utilizadas, conhecer em profundidade a história de Rianxo e, por cima de tudo, saber ler uma fotografia. Este labor deveria ser uma tarefa colegiada, pois ninguém sabe de tudo, e nem preciso dizer que muito necessária.

O meu método de leitura duma fotografia semelha-se em tudo ao dum texto escrito. Começo no canto superior esquerdo e, muito devagar vou lendo até terminar no canto inferior direito. Simples.

Da leitura das fig. 1 e 2 apreciamos as seguintes diferenças:

1º Fig. 1 Os plátanos do Campo de Acima têm folhas.

Fig. 2 Os plátanos do Campo de Acima carecem de folhas. Portanto, as fotografias 1 e 2 foram tiradas em estações diferentes.

2º Fig. 1 No centro do Campo de Abaixo há um farol e a Escola da República parece que está sem pintar.

Fig. 2 Embora possa haver um problema de perspectiva, semelha que nesta altura na praça não havia um farol e que a Escola da República estva sem pintar.

Da fig. 2, na que se vê a Casa do Povo, podemos dizer alguma coisa mais. Na fachada ainda não fora colocada a placa dedicada a Ángel Baltar, assim que a fotografia teve que ser tirada antes de 1929. Também se aprecia o encofrado das colunas da esqueira pola que se acede à porta principal do Concelho. De saber quando se fiz esta obra, teríamos a data certa da fotografia.

Como curiosidade, na fig. 2 vê-se um grupo de nenos e nenas rodeando a um adulto que parece dizer-lhes algo. As crianças levam livros debaixo do braço, talvez o Primer Manuscrito ou a Encilopédia, e o adulto uma carteira cruzada ao peito, polo que muito possivelmente estejamos ante o mestre com seus alunos.

Nas fig. 3, 4 e 5, também podemos ver algo que nos situa em épocas diferentes na história rianxeira. Nas três notamos a presença da Capela de São Bartolomeu, um fito que nos permite situar perfeitamente a câmara do fotógrafo. Mas a capela da fig. 3 aparece no estado anterior à sua restauração, um elemento mais para datar este grupo. Na fig. 5 vê-se claramente a capela pintada de branco e com a espadana e a campá que lhe foi colocada na altura.

Noutra postal da minha coleção, da série de La Colmena, fig. 6vê-se claramente a capela branca com sua espadana e com a porta aberta olhando para Rianxo, é dizer, ao leste, portanto desorientada. Na fig. 3 esta porta aparece bloqueada.

                                                                               Fig.6

As duas dornas jeiteiras da fig. 3 são a Juanita e a San Antonio y Animas.

Fazia referência à baixa qualidade das imagens impressas. Na minha opinião poderíamos estar ante umas provas de impressão, já que as figuras aparecem desenquadradas no papel, com uma banda lateral em branco onde alguém anotou como recordatório, os lugares onde se tiraram as fotografias. Essa pessoa não devia ser rianxeira, pois usa expresoes como Plaza Mayor, pouco ou nada utilizada em galego .ou Alameda ,para um espaço que um rianxeiro denominaria Campo de Arriba ou de Abaixo. Mas o erro mais grande e o de denominar à Capela de São Bartolomeu como Ermita de Guadalupe.

Se observamos os postais pola parte de atrás fig.7, podemos ler impresso neles a frase Tarjeta Postal e o desenho dum anagrama com as siglas IFAG, as quais fazem referência a Industria Fotoquímica Antoni Garriga. 

Fig.7

Antoni e o seu irmão Rafael foram engenheiros pioneiros no desenvolvimento de produtos fotográficos. Rafael Garriga Roca (1896-1869) é o avó de Ignacio Garriga Vaz de Concicao (sic), candidato de Vox a Generalitat de Catalunya. Como é sabido, o político xenófobo é filho duma guinéu-equatoriana nascida antes da independência do seu país, portanto de nacionalidade espanhola. Se Ignacio Garriga fosse um Rei da Espanha, talvez o seu sonho, mereceria a alcunha régia de Ignacio I El Oxímoron, porque ele próprio é uma contradição em termos. Se ser catalão e ultra nacionalista espanhol a um tempo é um disparate, ser de Vox e negro, parece uma piada.

Todas as fotografias desta postagem pertecem ao arquivo do Pico Rodríguez, depositado no Fondo Local de Música do Concello de Rianxo.

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