sábado, 7 de julho de 2018

nº 225 Pilar Castillo, pianista. Algúns apontamentos. II

Mentir na idade. 

Seguindo o ronsel deixado pelo fenómeno Mozart, muitos tentaram imitar o seu exemplo de precocidade musical, não sempre acompanhada de talento, como alicerce duma carreira musical. O próprio Beethoven foi vítima do modelo mozartiano e de ai para a frente foram legião os meninos e meninas exibidos como fenómenos de diminutos e virtuosos dedos. O arquétipo galego foi sem dúvida Pepito Arriola, uma personagem que merece um romance ou um filme com tinturas dramáticas. Um jornalista -por certo, sem muito coração- escreveu sobre o brinquedo roto José Arriola, aos seus cinquenta e sete anos o que se segue: 

«El que ahora vuelve a España desde la Alemania en que pasó la guerra, es, sencillamente, José Arriola. Ni figura su nombre entre los grandes concertistas universales, ni creo que tenga ya posibilidades de ello.
El, no obstante, al contar la tragedia de su vida dentro de la gran tragedia alemana dice: "He salvado la vida y me encuentro en excelente forma y optimista para reemprender mi carrera de concertista, puesto que estoy en la plenitud de mis posibilidades".
La experanza es siempre un fuerte sostén del hombre.
Dios quiera hacer buenas sus palabras. Pero... muchos años antes de la fatídica guerra que acabamos de sufrir, ya José Arriola había fracasado en muchas cosas. Y el silencio envolvía su nombre.» Cartel: revista de la vida gallega: nº 6 (15/03/1946) Desnecessário qualquer comentário.

Os pais de Pilar Castillo tinham na casa uma extraordinária pianista, mas para quando decidem o lançamento da sua carreira já não era uma criança. Elaboram uma brochura com um C.V. algo pomposo e mentem na idade, simplesmente porque isso vende. Nessa brochura disse:

«Pilita nació artista, y el ambiente de su casa familiar le fue propicio para sesenvolver y fomentar las sensaciones de su alma de niña-prodigio.» Esta brochura pode ser consultada na pasta de Pilar Castillo no arquivo da R.A.G na Corunha.

Efectivamente, Pilar nasceu artista mais não foi em 8 de maio de 1895, senão em 11 de maio de 1890. Assim que quando a rapariga da rua da Sapataria da Corunha começa a sua carreira em 1911,  soprara já 21 velas. E para que ninguém duvide do que digo, eis ai a sua partida de nascimento:

"En la Ciudad de la Coruña y a las siete y cuarto de la tarde del día catorce de Mayo de mil ochocientos noventa. Ante el licenciado Don Salvador Golpe Varela Juez Municipal y Don José Patiño Pérez Secretario compareció Don Enrique Castillo Basoa natural de Comillas provincia de Santander de veintinueve años, casado, escribiente y domiciliado en la calle de los Olmos número veinticuatro, provisto de célula personal vigente número tres mil trescientos sesenta y dos, solicitando la inscripción de una niña en el Registro Civil y al efecto declara:
Que dicha niña nació en la casa del declarante a las once de la mañana del once del actual.
Que es hija legítima del declarante y de su muger Dª Salvadora Sánchez natural de Lugo de veinticuatro años.
Que es nieta por linea paterna de Don Ezequiel Castillo y de Dª Ramona Basoa ambos naturales de Ferrol y por la materna de abuelo incognito y de Dª Manuela Sanchez natural de Lugo.
Así mismo declaró que a la espresada niña se le puso de nombre María del Pilar.
Fueron testigos personales José Vega Catoira jornalero y Don Eugenio Garrido Morado empleado ambos casados mayores de edad  naturales y vecinos de esta ciudad.
Leida integramente esta acta e invitadas las personas que deben suscribirla a que lo hicieran por si mismas si lo deseaban se estampó en ella el sello del Juzgado y la firman el Sr. Juez declarante y testigos de que certifico.

Salvador Golpe. Enrique Castillo. José Vega. Eugenio Garrido. José Patiño Pérez.»

Da partida de nascimento podemos tirar várias conclusões interessantes:

- A data de nascimento que lemos aqui, 1890, discrepa em dois anos da que aparece na partida de defunção, 1892. Ao morrer disse que Pilar tinha 60 anos, quando em realidade tinha 62. Resulta curioso que na brochura da R.A.G. haja também discrepância mesmo no dia, 8 de maio por 11 de maio.
- Como curiosidade, o juiz de paz que faz a escritura é Salvador Golpe (1850-1909), autor da letra de Adeus a Galicia  [As alegres andorinhas] de Montes e Meus amores de Baldomir.

Por último uma nota a pé de página. Chegou aos meus ouvidos o rumor que circula pela cidade da Corunha de que Pilar Castillo podia ser filha ilegítima dum ilustre compositor lucense. Esta informação pareceu-me pouco sólida, posto que as datas não me quadravam. Mas na partida de nascimento disse que a mãe de Pilar, Salvadora Sánchez, nascida em 1866 era filha de Manuela Sánchez de Lugo e de pai incógnito. A professora Aurora Marco diz no seu Dicionário de Mulleres Galegas –sem fazer qualquer rodeio– que Pilar era neta de «o célebre Montes». Em qualquer caso fica claro que o compositor luguês nunca reconheceu a sua filha.
Acrescentar que Salvadora Sánchez foi mestra e professora de piano, a primeira que tiveram as suas filhas, e junto com sua irmã, de nome também Pilar, teve por algum tempo uma escola na praça do Castelo, em Lugo.
El Regional 1885

Continuará.

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