terça-feira, 25 de junho de 2013

nº 168 Um novo livro sobre Faustino Rey Romero.

A sexta, 21 de junho, esteve na presentação do livro Faustino Rey Romero. Obra poética e teolóxica, do professor X. Ricardo Losada. Foi um ato bem produtivo que me permitiu apreender e desaprender alguma coisa, algo habitual quando quem fala é pessoal de superior inteligência. Escutar ao tandem Jesus Santos-X. Ricardo Losada animou-me a arrombar ideias que tinha desordenadas no meu magim e que só agora é que me atrevo a pôr por escrito.

Santos vs Losada

No discurso de ambos os dois biógrafos aprecia-se a importância do matiz. É evidente que Santos fala de Rey Romero desde o espaço emocional, do amigo e camarada galeguista na luta antifranquista.
Losada fá-lo, porém, desde o estranhamento metodológico, desde a distância sempre perseguida  pelo investigador mas quase nunca acadada. Gostei da valentia de Xosé Ricardo para se enfrentar a um personagem, nas suas palavras, com luzes e sombras, que é tanto como dizer dele que foi um homem que viveu. Sei por própria experiência que quando se trata com parentes e amigos da personagem biografiada é muito habitual ficar cativo do contexto, temeroso de incomodar aos que foram os nossos principais informantes. Losada fez um alegado da sua independência e do seu subjetivismo, as maiores virtudes que eu reconheço num bom biógrafo.

As minhas anedotas


Eu, obviamente, não conheci a D. Faustino. Na sua morte tinha três aninhos e nada fazia presagiar que um dia teria uma filha rianjeira. Mas, contudo, também posso contar um par de anedotas sobre o crego-poeta, uma minha e outra de recolecção.

Uma idosa dirigente da Falange rianjeira contou-me, com um gravador de por meio, que nos anos centrais da ditadura foi falar com Rey Romero para lhe pedir oficiara uma missa im memoriam de Primo de Rivera. Intuo que a Sra. fixo o pedido para provocar ao crego-poeta, mas, repito, só intuo. Faustino negou-se rotundamente o que motivou o protesto da dirigente da Sección Femenina que exclamou:

- Como le niega una misa a un cristiano!?

A resposta do padre de Isorna foi que sobravam cregos em Rianjo para missar nesse funeral.

A segunda anedota tem a ver com um artigo que publiquei na revista das festas da Guadalupe. O texto versa sobre um poema faustiniano chamado Canta, passarinho canta. Resulta que há três versões musicadas deste poema da autoria dos maestros Frederico de Freitas, Rogélio Groba e Manuel Vicente "Chapi".
O artigo está ilustrado com um desenho meu representando a um merlo, o pássaro fetiche de Rey Romero.
Um meio-dia, sentei fronte ao computador da biblioteca da minha escola, chamada, para mais aquele, Xosé María Brea Segade. Estava a aproveitar um intervalo sem alunado para fazer as últimas correções do meu artigo quando de súpeto, entre os andeis que custodiam os livros, senti um ligeiro ruidinho que imediatamente associei a um rato de biblioteca, desta vez sem qualquer sentido figurado ou metafórico.
Dada a minha incontrolável musofóbia ergui-me dum pulo e sai correndo cara a porta.
Pois bem, e por incrível que pareça, nesse breve espaço entre a messa do corredor e a saída da biblioteca houve um instantinho em que os meus olhos e o do intruso se cruzaram e soube que podia estar tranquilo; o som que ouvira não fora provocado por nenhum roedor.
Sobre um estante baixo na que temos colocada a banda desenhada estava pousado, observando-me, um merlo. O seu pico laranja apontava-me como a batuta dum diretor de orquestra ou o condão dum mago que com um suave aceno congelara meu movimento. Com a ajuda do zelador logramos liberar ao merlinho que fugiu do cárcere de livros por uma janela aberta ao pátio.
Aos poetas da geração de Rey Romero, dos Álvarez Blázquez, de Baldomero Isorna... chamava-lhes Guerra da Cal os poetas ornitólogos.
Juro por Deus que sou ateu, mas de não sê-lo, pensaria que aquele merlinho aventureiro alojava o espírito de D. Faustino. Que coisas passam!
Ilustração para o livro das Festas da Guadalupe

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Artigo do livro das Festas da Guadalupe:

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