Esta fotografia enviou-ma o meu amigo Ernesto Vázquez Sousa quando estava a preparar a minha palestra para o congresso de Guerra da Cal. Está tirada dum artigo de Juan Naya Pérez, no boletim nº 356 da R.A.G. Desde que a vi por primeira vez fiquei fascinado.
A personagem que toca o piano e olha em escorço à câmara é Ovidio Murguia, rodeado por quatro indivíduos sem identificar, possivelmente colegas seus da boemia madrilena. Na instantânea aparecem três instrumentos, um piano, com as candeias da cornucópia acesas, uma pandeireta e uma guitarra. Tenho já publicado muito sobre a relação dos artistas galegos com a música, artistas conhecidos pelas suas dotes pictóricas ou literárias, mas dos que apenas se fala em termos musicais. É bem possível que o de Ovídio Murguía não seja uma simples posse para tirar a fotografia e que na realidade ele também tivera formação musical, nomeadamente pianística. A dia de hoje eu não posso confirmar mas, como veremos, esta fotografia feita na etapa madrilena do filho de Rosalia de Castro, pode dar-nos alguma informação que acho de interesse.
Em primeiro lugar tudo indica que se trata do estudo ou da morada de Ovídio. Durante o tempo que esteve em Madrid viveu com a família de Pérez Lugin, o seu parente, assim que tal vez este fosse o seu quarto na vivenda do autor de La casa de la Troya. As paredes estão cheias de quadros, algum deles catalogados, o qual nos pode dar uma datação aproximada.
A data certa desta fotografia tem de ser entre 1897, ano na que o pintor assina Passarinho no ramo, óleo pintado sobre o coiro duma pandeireta e o 1 de janeiro de 1900, data do seu falecimento.
Mas o que mais me impressionou da imagem, além da olhada à câmara do Ovidio e essa pandeireta colgada da parede. Tratar-se-à dum exemplar de 23 cm de diâmetro, com seis pares de ferrenhas. Não sabemos a sua origem, se foi comprada na feira do Padrão onde tantas foram vendidas ou quiçá, quem sabe, se trate duma prenda de amor de Visitación Oliva. Esta moça madrilena foi o amor impossível de Ovidio. A sua família afastou-no dela, que muito provavelmente ficou grávida do pintor e deu aos Murguia Castro o seu primeiro e único neto. Em qualquer caso, como é próprio dum artísta romântico, Ovídio morreu de tuberculose longe da sua amada, baixando-se o telão em janeiro de 1900 duma muito triste tragedia de amor.
fonte: http://www.foroxerbar.com/viewtopic.php?t=12844
Assim como os outros quadros estão perfeitamente identificados, não é seguro que a pandeireta da fotografia corresponda com a pintada por Ovídio. A fotografia que ilustra o artigo de Juan Naya não é o suficientemente nítida para ver se há algo desenhado no coiro, mas em qualquer caso, considero que se trata do instrumento utilizado como lenço para Passarinho no ramo.
Antes falava em termos românticos das motivações que o Ovidio Murguia teria para pintar esta pandeireta, mas o certo é que existe no século XIX uma grande tradição que fez desta prática um verdadeiro gênero pictórico. No catálogo da exposição La pandereta pintada, Joaquin Díaz escreve o que se segue:
«Durante todo el siglo XIX la pintura de panderetas reviste una importancia singular ya que con la subasta de las mismas de las mismas se obtenían recursos para atender a las necesidades de los soldados que se hallaban luchando en África o en Cuba.
Precisamente en 1892 y durante las fiestas de Carnaval surgió una inicativa del Círculo de Bellas Artes de Madrid para adquirir mil panderetas y entregarlas a diferentes artistas plásticos de Madrid para que las pintasen. El resultado fue tan espectacular que se vendieron casi todas y con el montante de lo obtenido y la organización de un baile se contribuyó a sufragar los gastos del propio Círculo (salones, cátedras, modelos, etc.) de modo que la inicativa duró unos años y llenó de panderetas toda España.»
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