sábado, 22 de setembro de 2012

nº 147 As portas de Isorna.

Cada vez que saio com a bici pelo concelho de Rianjo venho com a câmara cheinha de fotografias e a cabeça ainda mais abarrotada de perguntas. As últimas têm a sua origem na paróquia de Isorna, quiçá a menos rianjeira das seis que conformam o concelho.
Não se pode entender a história de Rianjo sem compreender que durante séculos foi cabeça da jurisdição eclesiástica da mitra compostelana, com um território muito mais basto do que hoje ocupa o concelho. Também não há que esquecer que a paroquia ulhã de Isorna pertenceu ao concelho de Cordeiro até o 1835. Este singular território municipal dividido por um rio da entidade do Ulha, reforça a ideia de conjunto que têm as duas margens no controlo do aceso a Compostela, não só desde um ponto de vista militar, Torres do Oeste - Monte das Cercas, senão também económico, dada a intensa circulação de mercadorias e passageiros que sempre houve nesse espaço.
E em Isorna há vestígios arquitetónicos que evocam esta relação compostelana, quando menos ao meu parecer, e que por alguma razão que desconheço passaram inadvertidos nos trabalhos académicos e até nas guias turísticas. Inclusive, não sei se estarão inventariadas dentro dos bens patrimoniais a proteger, mas muito me temo que não. 
No lugar de Isorna, o primeiro grupo de casas vindo desde Quintáns, há um formoso grupo de casas de planta baixa, das quais alguma está sendo usada como corte de animais. A primeira tem uma porta espetacular, com dois mochetas sobre a que descansa uma grande loisa na que poderia haver restos de epigrafia.



Nas cabeças das mochetas há esculpidas uma venera e um pinheiro.



A venera cabe liga-la a Compostela e o pinheiro, a São Martinho Pinário?
Em Rianjo há várias portas de estas características. Quanto ao estilo, porta com dintel e mochetas decoradas, eu conheço, além desta, outras três. 
A primeira está na costinha da igreja de Santa Columba, um edifício com uma fachada nobre e brasonada. Não publico foto porque na actualidade está cercado com uns arames que tornam feia a costa, a fachada e as fotografias. Um dos mochetes desta casa também tem uma vieira esculpida.
A segunda está no lugar de Meiquiz, perto do campo das graneiras, e, desta volta, os motivos esculpidos são uma cara e uma flor.

A terceira, para mais surpresa minha, está na mesma Isorna, no lugar de Sestelo. Forma parte do cerre duma leira próxima a estrada que cruza a paróquia.


É que há no mochete? Pois sim, uma vieira.


Hoje, como dizia ao princípio, sai na bici desde Rianjo até Isorna e aproveitei para visitar um caminho que vi por primeira vez no 2006, depois dos incêndios. Está subindo do lugar de Isorna cara o monte até desembocar na autovia. Tem pedaços onde o enlousado do caminho está muito bem conservado e se aprecia a rodada dos carros marcada na pedra. A cada lado aparecem muros de rochas enormes e colocadas com engenho para conter os terrenos que ficam a altura das nossas cabeças. É para ver. 




Perdido no monte pude ver coisas bem bonitas, incluso pedras com formas caprichosas, ou quiçá não tanto?



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